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No Japão, a Tower Records conseguiu driblar a hecatombe que acabou com lojas da rede em outros países | Divulgação
No Japão, a Tower Records conseguiu driblar a hecatombe que acabou com lojas da rede em outros países| Foto: Divulgação

US$ 4,3 bilhões foi a quantia arrecadada no Japão com vendas de CDs e downloads no ano passado, segundo a Federação Internacional da Indústria Fonográfica (IFPI, na sigla em inglês).

Mesmo em meio à multidão que atravessa o cruzamento de Shibuya, o mais lotado de Tóquio, onde outdoors eletrônicos de alta definição embaçam a vista, o logotipo vermelho no fundo amarelo chama a atenção. O prédio de oito andares da Tower Records, no coração comercial da capital japonesa, é um símbolo do passado num cenário do futuro. A icônica rede americana de lojas de CDs e DVDs que faliu em 2006, implodida pela era digital, ainda existe no Japão. E é mais do que uma sobrevivente. Os negócios vão bem e estão em fase de expansão.

Enquanto as vendas de CDs despencam ao redor do planeta, no Japão elas cresceram 9% no ano passado, após 13 anos consecutivos de queda, e continuaram em alta no primeiro trimestre de 2013. Os Estados Unidos mantêm o título de maior mercado musical do mundo — cálculo que inclui licenciamento para filmes e publicidade —, mas em 2012 os japoneses compraram mais músicas gravadas, entre CDs e downloads, do que os americanos, fato inédito desde 1973. Segundo a Federação Internacional da Indústria Fonográfica (IFPI, na sigla em inglês), as vendas no Japão chegaram a US$ 4,3 bilhões, contra US$ 4,1 bilhões nos EUA. Produtos tradicionais, como CDs e vinis, respondem por 80% do comércio japonês. A média mundial está em torno de 57%.

Persistência

A popularidade do CD entre os persistentes japoneses — um povo altamente conectado, mas que se mantém fiel aos aparelhos de fax em seus escritórios, por exemplo — explica a sobrevivência da Tower Records no país. A rede no Japão tornou-se independente da americana em 2002, conseguindo driblar a hecatombe que atingiu outras cadeias internacionais, como a Virgin e a HMV, incapazes de concorrer com o movimento on-line (o legal e o pirata). Além da megaloja de Shibuya, que passou por uma renovação milionária em 2012, a Tower Records tem outras 85 lojas espalhadas pelo Japão. E planeja mais. A empresa pertence a uma gigante da telefonia celular na Ásia, NTT DoCoMo.

Qual o segredo dessa heroica resistência — que levou à venda de 166 milhões de CDs no ano passado — num universo cada vez mais dominado por arquivos digitais e difusão musical em tempo real?

"O mercado japonês é muito diferente de todos os outros", admite o presidente da Tower Records do Japão, Ikuo Minewaki. "Mas não focamos apenas em preços, mas também em estratégias de crescimento."

Os preços dos CDs são fixados por lei (entre US$ 23 e US$ 28), limitando a concorrência de redes de varejo que tiram clientes das lojas especializadas. Uma modalidade de comércio muito rara em outros países também explica a insistência nos formatos não digitais no Japão: o aluguel de CDs, uma alternativa mais barata para quem quer copiar músicas do que os downloads pagos.

Arsenal

As gravadoras fazem sua parte, oferecendo pacotes e bônus a quem leva os álbuns. Exemplo: compre o CD do AKB48 — girl band recordista absoluta de vendas no Japão — e ganhe fotos autografadas das meninas em seus uniformes escolares. Ou um DVD com cenas inéditas das coreografias milimetricamente ensaiadas pelas garotas. O AKB48 ilustra bem o gigantismo do mercado fonográfico no país: o grupo costuma vender um milhão de discos em dia de lançamento. Dos cem títulos mais ouvidos, 72 são dos chamados idol groups, que incluem os astros do pop coreano (K-pop), uma febre a quem a indústria fonográfica asiática deveria agradecer de joelhos.

Seu arsenal na luta contra os concorrentes on-line inclui cafés charmosos cercados de livros e revistas, atendimento impecável e apresentações ao vivo. Outro trunfo são os eventos handshake (aperto de mão): o público faz fila para cumprimentar os artistas convidados. Só em Shibuya estão programados 700 encontros do gênero este ano.

"Fazemos tudo para que as pessoas nunca fiquem entediadas, mas não podemos ser totalmente otimistas", reconhece ele, admitindo que, cedo ou tarde, mesmo no resistente Japão, o mundo virtual vai ganhar essa briga e cabe à indústria da música não desistir de se reinventar.

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