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Bossa das novas cantoras

A fala sossegada de Marisa Monte, contando de onde vem a inspiração para cantar e compor; a simpatia sem tamanho de Vanessa da Mata, que se diverte lembrando das tentativas frustradas em outras carreiras antes de se tornar cantora; e o relato sobre como é viver de música desde os seis anos de idade da ex-integrante dos Trovadores Urbanos, Bruna Caram, rendem bons momentos à frente da tevê.

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São Paulo - Às 21h45 – 45 minutos após o horário marcado para começar o show de João Gilberto – o crítico musical Zuza Homem de Mello foi ao microfone do auditório do Ibirapuera e disse: "Como vocês podem imaginar, vamos ter de esperar mais um pouquinho. O timing do artista é o seu violão. O que eu posso dizer é que o avião já decolou, já aterrisou e ele já está a caminho."

A expectativa do público era grande – e da imprensa ainda maior. Passava das 22 horas, uma hora depois do horário previsto para o início do show de João Gilberto, quando alguns repórteres e cerca de 25 fotógrafos começaram a se aglomerar na entrada lateral do Auditório Ibirapuera, cujo acesso é voltado para a Avenida Pedro Álvares Cabral, em São Paulo.

Onde estaria João Gilberto?

Às 22h10, a equipe do Auditório Ibirapuera veio pedir organização para a imprensa: que se formasse uma fila lateral para não atrapalhar a entrada de João. Dois minutos depois e lá estava ele descendo do carro, cabisbaixo, sem dar uma palavra. E um mundo de fotógrafos disputando centenas de flashes. Monique Gardenberg, da Dueto, a produtora do show de João Gilberto, justificou o atraso. Informou à reportagem que o cantor havia desembargado e já estava próximo do Parque Ibirapuera. "É o tempo dele, não há a menor maneira de contrariar", disse. Já no elevador do prédio, ela confirmou. "Agora está tudo bem." Perguntada por que a cadeira que o cantor iria usar no show ainda não estava no palco, disse: "Ele quer testar antes."

Choro

Lá fora, havia uma certa confusão com gente chorando porque seus nomes não estavam na lista de convidados do cantor. É que João Gilberto mandou avisar por meio da imprensa que queria ter na platéia amigos de São Paulo que ele há muito tempo não via. Muitos vieram.

Um desses amigos foi Álvaro de Moya, jornalista, escritor, produtor, ilustrador e diretor de cinema e televisão, que trabalhou com o cantor na TV Excelsior nos anos 60. Moya lembrou de quando o recebia no programa e se divertiu muito numa ocasião em que João e Orlando Silva (a quem ele imitava no início da carreira) se encontraram no programa. "Bibi Ferreira pediu para João imitar Orlando e ele imitou."

O poeta Galvão, dos Novos Baianos, foi outro desses convidados e trouxe sua banda. "Não falei com ele esses dias, porque quando está perto de fazer show, é muito difícil encontrar João", disse. Galvão é um dos privilegiados a freqüentar a intimidade do pai da bossa nova. "Ele toca pra mim no apartamento, estou acostumado a vê-lo trabalhando nas canções, mas mesmo assim, toda vez que vou a show dele, sempre tem uma surpresa."

No hall do Auditório figuravam ilustres como Manuel Pires da Costa, presidente da Bienal, Roberto Civita, presidente da Editora Abril, o publicitário Nizan Guanaes, o ator Wagner Moura, o produtor Nelson Motta.

A expectativa pela apresentação de João Gilberto se seguiu até o último minuto. Quando a voz pré-gravada de uma locutora pediu: "Por favor, ocupem seus lugares". O público que esperava havia mais de uma hora explodiu em gargalhada.

O show estava previsto para começar às 21 horas. Depois de uma breve apresentação de Homem de Melo, João Gilberto entrou no palco às 22h37, trazendo seu violão, bastante aplaudido. Sentou-se na cadeira de madeira que os contra-regras haviam trazido dez minutos antes, junto com um apoio para os pés, os dois microfones e um banquinho onde acomodaram uma toalha, uma garrafa de água e um copo.

O cantor começou o show às 22h38 pedindo desculpas pelo longo atraso. "Vocês me desculpem o atraso. Dizem que eu atraso, mas não atraso, não. É que tive de fazer uma viagem anteontem e cheguei atrasado", justificou. "Vocês me desculpem", repetiu. Em seguida, o cantor abriu o roteiro de canções com o clássico "Aos Pés da Cruz", de Marino Pinto e Zé da Zilda.

Perto do fim da música, para espanto geral, entrou o sinal sonoro de desligamento de um computador, provavelmente aquele utilizado antes para exibir a programação da casa. E quem disse que show de João não tem surpresa? Pois foi o que aconteceu na segunda música, quando interpretou um bem-humorado e desconhecido samba que fala de uma "nega macumbeira" que "tem um 13 de ouro pendurado no pescoço" e "se vê um gato preto dá doce pra Cosme e Damião".

O primeiro clássico da bossa nova veio em seguida, "Wave", de Tom Jobim. Foi quando surgiram projeções de imagens caleidoscópicas no telão ao fundo, algo não muito comum nos shows de João, que em seguida cantou "Caminhos Cruzados" (também de Jobim, com Newton Mendonça). Ao final da canção, agradeceu: "Obrigado. São Paulo, I love you."

Antes de interpretar "Doralice", de Dorival Caymmi (a mais aplaudida até então), teceu loas a Henry Maksoud, elogiando o "castelo de hospitalidade" que é o hotel Maksoud Plaza, propriedade dele. "É tão lindo, aquela varanda." E continuou: "Me desculpem vocês, um beijo, Henry. Isto tudo é fruto desse povo grande. Tudo é grande, o progresso..." Explicou também que a pulseira no punho esquerdo não era um enfeite, mas "um bracelete astrológico".

Houve comentários de que o atraso não foi por conta de viagem nenhuma, mas que ele estava jantando com Maksoud no hotel. De todo modo, a espera compensou. Entre outros clássicos, ele ainda cantou "Rosa Morena" (Dorival Caymmi) e "Desafinado" (Tom Jobim/Vinicius de Moraes). E mais dez canções no bis.

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