• Carregando...
Mel Gibson volta às telas com personagem que reflete sua tumultuada vida pessoal | Divulgação
Mel Gibson volta às telas com personagem que reflete sua tumultuada vida pessoal| Foto: Divulgação

Enfrentar problemas e necessidades existenciais, afrontar o perigo de heranças genéticas e morais, assumir os riscos e as consequências de perder o rumo diante de quem está mais próximo a nós e que nos quer bem – essas são preocupações que podem acometer qualquer um a qualquer momento, e que permeiam Um Novo Despertar (confira trailer, fotos e horários das sessões; atenção à data de validade da programação em cinza), terceiro trabalho assinado por Jodie Foster, aqui também diante das câmeras. O filme ganhou evidência extra, e de certa forma ruidosa, nem tanto por suas características de objeto cinematográfico, mas pelo retorno de um ator problemático às salas de exibição.

Mel Gibson, de volta à ficção, está aqui investido na pele de uma persona muito próxima da que vive tormentosamente na vida real – a mesma que o colocou na alça de mira da grande mídia. Ele é Walter, depressivo agudo ladeira abaixo, em vias de colisão com o resto de sua família – a momentânea tábua onde ele pode se agarrar para lidar com a asfixiante doença. E ele se agarra literalmente a ela, na figura de um bicho de pelúcia, uma marionete, um brinquedo que por pouco não vai ao lixo, exatamente o castor do título original (beaver, em inglês).

Acoplado ao braço de Walter, o que formata uma espécie inseparável de composição à maneira ventríloquo-criatura, o bicho não mais sairá dali, como se Walter e ele fossem uma coisa só. Com o castor, o executivo passa a enfrentar o meio ambiente que sua depressão considera hostil e intransitável, tentando se articular com o mundo exterior.

A narrativa está constantemente apoiada por um eficiente trabalho dos segmentos técnicos da produção, da fotografia à montagem. Já o texto foge com certa frequência da linha traçada através de subtemas e subterfúgios, que afrouxam a dramaturgia, debilitando certos personagens, como o vivido por Jennifer Lawrence.

O mais curioso desta história, e que acaba justificando com vantagens o custo do ingresso, é o que poderíamos chamar de incursão metacinematográfica de Mel Gibson. É como se, de algum ponto da plateia, o espectador voyeur testemunhasse a catarse de Mel travestido de Walter, imbricados ambos a purgar os respectivos demônios interiores. Como diretora, Jodie sabe exatamente o tamanho de seus passos na carreira. E estes, se não são tão largos, são sempre decididos, sempre olhando adiante e ganhando merecido espaço.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]