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Caixas de papelão compõem o cenário e têm a função de demarcar três histórias cujo desenrolar ocorre simultaneamente na peça | Ligia Jardim/Divulgação
Caixas de papelão compõem o cenário e têm a função de demarcar três histórias cujo desenrolar ocorre simultaneamente na peça| Foto: Ligia Jardim/Divulgação

Serviço:

O Jardim. Cietep (Av. Comendador Franco, 1.341 – Jardim Botânico), (41) 3271-7719. Dias 5, 6 e 7 de abril, às 21 horas. R$ 50 e R$ 28 (meia entrada).

  • O Jardim é o terceiro trabalho da Cia. Hiato, desta vez com o ator convidado Edison Simão (à esq.): espetáculo é um dos recordistas de indicações ao Prêmio Shell

Apontado pela crítica como um dos expoentes da nova dramaturgia brasileira, Leonardo Moreira retorna ao Festival de Curitiba neste ano com o seu mais novo trabalho, o elogiado O Jardim. Desde que estrou em São Paulo, em maio do ano passado, a peça tem chamado a atenção pela inventividade e as estratégicas cênicas criadas pelo autor que propõe uma viagem pelos descaminhos da memória.

No palco, três histórias de uma mesma saga familiar são encenadas simultaneamente. Caixas de papelão sobrepostas dividem cada um dos fragmentos e, dependendo da posição que o espectador assume na plateia, ele poderá acompanhar a narrativa a partir de um determinado momento: no ano de 1938, em 1979 ou 2011. Embora as caixas criem divisórias físicas, elas não separam os três tempos da saga. Ecos de cada fragmento podem ser ouvidos constantemente enquanto as caixas, também elas, vão caindo e abrindo espaço para cada um dos momentos da peça, entrecruzando as memórias em cena e provocando a memória do espectador.

Terceiro espetáculo da Cia. Hiato, criada por Moreira em 2008, O Jardim revela uma estrutura narrativa complexa que começou a ganhar forma a partir de relatos biográficos dos atores e do próprio diretor, submetidos a um exercício de tornar ficcionais as memórias pessoais de cada um, e de estudos sobre a Síndrome de Alzheimer e a possibilidade de perder a memória.

"Começamos a lidar com o nosso passado e trazer isso à tona, o que nos levou a conceber um espetáculo em que as nossas memórias pessoais reverberam na plateia", comenta Moreira. O resultado, segundo o autor, é uma peça emotiva, com grande envolvimento dos espectadores. "Foi algo que nos surpreendeu. Não sabíamos que resposta o público ia ter até a estreia por causa da estrutura narrativa e do tema que propúnhamos, mas ela foi a melhor possível", revela. A crítica paulista também aplaudiu o espetáculo que ficou em cartaz em São Paulo por três meses, sempre com ingressos esgotados – depois, a peça foi exibida em Brasília e fez temporada no Rio de Janeiro.

Constante

Aliás, críticas elogiosas têm sido uma constante na curta, porém relevante carreira do dramaturgo de 29 anos que nasceu na pequena Areado, sul de Minas Gerais, e foi para São Paulo em 2001 fazer a faculdade de Artes Cênicas na USP. Desde sua estreia com Cachorro Morto, em 2008, Moreira tem sido alçado ao posto de um dos mais promissores autores da cena teatral nacional. Seu segundo trabalho, Escuro, um dos destaques da edição de 2010 do Festival de Curitiba, não só colecionou críticas inspiradas, como fez dele o grande vencedor da 23.ª edição do Prêmio Shell São Paulo, um dos mais importantes do teatro brasileiro, nas categorias de melhor autor, figurino e cenário. Com O Jardim, Moreira segue o mesmo percurso. O espetáculo é um dos recordistas de indicações para o Shell deste ano, além de já acumular outros prêmios importantes. O último deles foi o Prêmio Governador do Estado de São Paulo, entregue no mês passado.

Futuro

Apesar das láureas, Moreira parece conservar a simplicidade do menino mineiro. Quer continuar criando, seguindo a proposta de trabalhar com as lacunas da experiência e as formas de percepção da realidade, que são a tônica de sua companhia. Não satisfeito com três cenas simultâneas, como se verifica em O Jardim – que depois de passar pelo Festival de Curitiba faz nova temporada em São Paulo – ele visualiza, agora, um novo espetáculo com seis histórias intercaladas. Provisoriamente intitulada Ficção, o autor pretende explorar a ficcionalidade como tema. "É uma proposta que surge depois de enveredar pela memória. Não temos como fugir da ficção", completa.

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