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Cocaína estava enterrada em três tonéis num matagal | Divulgação PF
Cocaína estava enterrada em três tonéis num matagal| Foto: Divulgação PF

Foram necessários 12 anos para que Tom Jobim: Sem Você fosse lançado no Brasil. Valeu a espera. O disco é primoroso, da primeira à última de suas 13 faixas. Fruto de uma parceria entre a cantora e compositora carioca Joyce e o compositor e guitarrista mineiro Toninho Horta, o CD também pode ser descrito, até mais do que uma homenagem póstuma, como uma "reação saudosa" à perda de um amigo de longa data.

Joyce e Toninho estavam se apresentando no Blue Note, em Tóquio, em maio de 1995, quando se aperceberam de que, num determinado momento do show, chamado pela dupla de "baile" – quando os músicos deixavam o palco, deixando os dois a sós – iniciava-se uma "viagem" musical que tinha como ponto de partida um único acorde de violão. Nesse segmento da apresentação, destacavam-se sempre as criações do maestro Antonio Brasileiro, morto cinco meses antes.

No caminho de retorno ao Brasil, fizeram uma breve escala em Nova Iorque, onde o maestro havia falecido, vítima de um ataque cardíaco. Na bagagem – e na cabeça – carregavam a idéia de gravar um disco dedicado apenas a canções de Tom, aproveitando o clima da turnê. Tinham apenas um dia na Big Apple e a solução acabou sendo cometer uma loucura: registrar dez músicas em apenas uma noite, ou melhor, em parcas seis horas de estúdio.

Já de volta ao Rio de Janeiro, a pedido do produtor japonês Kazuo Ioshida, Joyce e Toninho, empunhando seu violão, gravaram outras duas canções, "Estrada do Sol" e "Frevo de Orfeu", estas incluindo também o violão-base de Joyce – no restante do disco a base instrumental ficou ao encargo de Toninho, que, em "Frevo de Orfeu" e "Esse Seu Olhar", faz participações vocais. O disco sairia apenas no Japão em 1995, pelo selo Omagatoki. Agora, 12 anos mais tarde, chega ao mercado brasileiro pela gravadora carioca Biscoito Fino.

Joyce conta que muitos dos álbuns que vem gravando nos últimos anos têm sido lançados antes no Japão, onde a música brasileira encontra ótima receptividade. De acordo com cláusulas contratuais, os discos demoram pelo menos um ano e meio para terem suas versões lançadas no Brasil, por gravadoras nacionais. Como CDs são muito caros na terra dos samurais, as gravadoras nipônicas temem que a versão estrangeira, que chega a preços bem mais baixos por lá, atrapalhem o desempenho comercial do produto.

Repertório

Quando indagada pelo Caderno G sobre os critérios de escolha do repertório, Joyce responde, na lata, que não houve um método propriamente dito. Tudo aconteceu na base da intuição, levando em conta as composições que conheciam bem, que ela e Toninho já haviam cantado nos shows, apresentados tanto em Tóquio quanto em Viena e Copenhagem.

Vale aqui contar que a cantora e compositora teve com Tom uma relação de amizade e de convívio. Muito próxima de Paulo Jobim, filho de Tom, ela freqüentava a casa do maestro, onde participava de verdadeiros saraus musicais. "Enquanto a nossa geração – eu, Paulinho, Dory Caymmi e outros – nos reuníamos em um andar, Tom, Vinicius, Chico estavam em outro pavimento, também fazendo música", conta.

Esse convívio íntimo e pessoal possibilitou a Joyce uma visão interna do processo criativo de Tom, que não se importava em compor, corrigir, improvisar, na frente dos amigos – e sem pudores. Portanto, quando grava as canções de Jobim – vale lembrar aqui que Joyce já havia lançado, em 1987, o disco Tom Jobim: Anos, ao lado de Gilson Peranzzetta –, essa lições informais sempre vêm à tona.

Já a parceria de Joyce com Toninho também é antiga. Amigos desde o início de suas carreiras – participaram do mesmo conjunto musical, A Tribo, nos anos 70, com Nelson Ângelo e Novelli –, começaram a gravar Sem Você na base do improviso, sem ensaio, como "um disco de jam session", como o define Joyce.

Das parcerias de Tom com Vinicius de Moraes, Joyce e Toninho escolheram quatro canções: "Ela É Carioca", "Frevo de Orfeu", "Só Danço Samba" e "Sem Você", que deu nome ao CD. Outras duas músicas são parcerias de Tom com Aloysio de Oliveira: "Inútil Paisagem" e "Dindi". "Correnteza" tem a assinatura de Tom e Luiz Bonfá e Dolores Duran é a letrista de "Estrada do Sol". O repertório foi completado com "Lígia", "Vivo Sonhando", "Outra Vez", "Este Seu Olhar" e "Só em Teus Braços", com música e letra de Tom.

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