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O escritor Juan Rulfo em meados da década de 1950, em fotografia de autor desconhecido | Archivo de la Fundación Juan Rulfo/Divulgação
O escritor Juan Rulfo em meados da década de 1950, em fotografia de autor desconhecido| Foto: Archivo de la Fundación Juan Rulfo/Divulgação
  • Escultura religiosa e vista urbana, década de 1950
  • Calle Lerdo da Cidade do México e cruzamento do trem, em 1956
  • Menina correndo em um alpendre de Jalisco, em 1961

Um ano antes de morrer, Juan Rulfo estava numa feira literária em Buenos Aires. A norte-americana Susan Sontag, que também participava do evento, deu uma entrevista na ocasião dizendo que o escritor mexicano era o melhor fotógrafo que conheceu na América Latina. O elogio vindo da autora do livro Sobre Fotografia – uma referência para os estudos nessa área – dá a medida do quanto Rulfo era bom com a câmera, mas não apenas com ela.

Tido como um nome inescapável da literatura mexicana, ele publicou apenas dois livros em vida: o romance Pedro Páramo e a coletânea de contos O Chão em Chamas. Morto em 1986, aos 68 anos, deixou um legado que incluía mais de 6 mil negativos.

A visão de Rulfo como fotógrafo pode ser conhecida no belo livro 100 Fotografias, recém-publicado pela Cosac Naify. O volume inclui uma dezena de textos, incluindo dois pelo próprio fotógrafo-ficcionista, sobre a obra do francês Henri Cartier-Bresson e do mexicano Nacho López. Os demais foram feitos por especialistas que procuram interpretar o legado fotográfico do homem que soube ver e falar do México como nenhum outro.

As imagens reunidas no livro abrangem o período de 1940 a 1961 e é engenhoso ao respeitar uma postura de Rulfo: a de legendar as fotografias. (No entanto, uma lista de referências bastante óbvia – na linha "Senhoras na Rua" e "Casa em Ruínas" – aparece com datas na parte final da obra.)

Susan Sontag morreu em 2004, depois de aceitar o convite para escrever a apresentação do livro com as fotografias de Rulfo, mas antes de poder cumprir a tarefa. Quem conta essa história é o arquiteto Víctor Jiménez, diretor da fundação Juan Rulfo e responsável pela apresentação do volume, além de fazer um texto sobre a arquitetura nas fotografias. Ao lado de Jiménez, aparecem os pesquisadores Andrew Dempsey e Daniele De Luigi, britânico e italiano.

De Luigi conheceu primeiro as fotografias de Rulfo para depois descobrir que ele era também um escritor. Depois de ter contato com as imagens do mexicano em Paris, viajou para o México e acabou colaborando com Dempsey.

"Na fotografia, Rulfo encontrou talvez a verdadeira dimensão do silêncio", diz De Luigi. As imagens parecem mesmo capazes de retratar um silêncio profundo, mesmo aquelas em que aparecem pessoas em atividades animadas – um exemplo é a série que mostra uma banda de músicos.

Olhando para as imagens, fica evidente o motivo que leva um arquiteto escrever sobre o trabalho de Rulfo. Apesar da generosidade com que retratava personagens, incluindo a própria família, é nas edificações mexicanas que ele mostra um talento assombroso como fotógrafo.

"Quando fui em busca daquelas paisagens, daquelas pessoas e daqueles rostos, eu estava pensando, claro, nas fotografias de Rulfo", escreve Dempsey sobre sua viagem ao México. "Mas não estou certo se de fato encontrei alguma coisa que me ajudasse a entender o que Rulfo via, o que tinha em mente, quando ajustava o foco da câmera."

A afirmação do pesquisador tem a ver com a ideia de que Rulfo foi capaz de criar um México que não existia de fato. Seriam então "ficções visuais", tão inventadas quanto Pedro Páramo. O britânico defende que os textos e as fotografias são uma coisa só no legado de Rulfo e, por isso, não é certo dissociá-las, ou analisar uma sem levar a outra em consideração.

O livro inclui uma fotografia impressionante feita por Henri Cartier-Bresson, de um senhor observando um paredão de fuzilamentos, dedicada a Rulfo "com todo o reconhecimento" do francês. Um presente que ganhou depois de escrever o texto do catálogo montado para a mostra com fotografias mexicanas de Cartier-Bresson.

Serviço

100 Fotografias, de Juan Rulfo. Tradução de Gênese Andrade e Denise Bottman. Cosac Naify, 140 págs., R$ 100.

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