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Uma tela translúcida permite enxergar ao mesmo tempo os atores e imagens impressas: magia dos poemas em cena. | Beto Bruel/Divulgação
Uma tela translúcida permite enxergar ao mesmo tempo os atores e imagens impressas: magia dos poemas em cena.| Foto: Beto Bruel/Divulgação

Estreia

Flores Dispersas

Biblioteca Pública do Paraná (R. Cândido Lopes, 133), (41) 3221-4900. Terça a quinta-feira, às 19 horas. Entrada franca. Até 6 de fevereiro. Classificação indicativa: livre.

Flores Dispersas foi a coletânea publicada em vida pela poeta paranaense Júlia da Costa, entre 1867 e 1868. Seus versos são românticos e melancólicos. "Meu Deus! Se a vida é para uns tão calma/ Por que p’ra mim ela é tão negra e mesta!", escreve no poema "Desesperança".

A obra dessa pouco conhecida artista de Paranaguá é resgatada na peça que também leva o nome de Flores Dispersas e que estreia hoje na Biblioteca Pública do Paraná. Uma minitemporada acontece de terça a quinta-feira, durante duas semanas. Depois, a montagem ganha as regionais da prefeitura e o Portão Cultural.

"Pincei aquilo que possa seduzir a plateia para que abra o coração à poesia – afinal, não estamos mais acostumados a ela", disse à Gazeta do Povo a diretora Regina Bastos. Ela dirige a convite da Cia. Insaio, formada pelos atores Braz Pereira, Órli Carrara e Vilma Fernandes. A produção é da Cia. de Teatro Laurinha.

A obra por vezes soturna de Júlia não pode ser desmembrada de sua vida de anseio e frustração – historiadores relatam a profunda paixão que ela tinha pelo poeta Benjamin Carvolina, com quem manteve correspondência mesmo após o casamento – realizado por conveniência – com o comendador português Francisco da Costa Pereira, em São Francisco do Sul (SC), onde viveu até a morte em 1911.

As cartas enviadas por ela foram encontradas pela pesquisadora Rosy Pinheiro Lima na década de 1950 com um neto do antigo namorado, no Rio de Janeiro. Já as cartas recebidas por Júlia desapareceram.

Após a morte do marido, o estado de infelicidade da artista se ampliou e ela acabou reclusa durante seus últimos anos. A mesma casa recebia, nas décadas anteriores, famosas recepções oferecidas pelo casal a políticos ilustres – Júlia havia sido uma mulher da alta sociedade e verdadeira colunista social, escrevendo para diversos periódicos da região.

"A vida dela é cheia de lendas. Pesquisamos nas fontes que consideramos mais seguras", conta Regina.

Apesar de Júlia ter parado de escrever e perdido parte da visão depois do autoexílio, o tempo passado a quatro paredes – em que ela tinha a assistência de uma empregada e chegou a fechar as janelas com ripas – não teria sido improdutivo. Após sua morte, foram encontradas colagens nas paredes, com muitas flores em papel seda, no que ela dizia ser um preparo para escrever a história de sua vida num romance.

Essa referência é utilizada no espetáculo na forma de painéis translúcidos, em que Regina e o marido, o premiado iluminador Beto Bruel, imprimiram imagens. Por trás e diante da tela, os atores representam cenas dos poemas e da vida de Júlia.

"Como vamos nos apresentar em espaços onde talvez não haja um palco, fizemos uma instalação que inclui tela e iluminação", conta a diretora. Outra particularidade da peça é manter a linguagem antiga do século 19, com trechos saídos de sua obra e das cartas de amor.

A trilha sonora é original e executada ao vivo pela cantora Susi Monte Serrat, com voz e violão. Um time experiente é responsável por outros elementos técnicos: Enéas Lour, Chico Nogueira, Áldice Lopes e José Barbosa Alves.

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