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Eddie Redmayne tem boas chances de levar o Oscar de melhor ator – seu principal concorrente é Michael Keaton, de Birdman | Divulgação
Eddie Redmayne tem boas chances de levar o Oscar de melhor ator – seu principal concorrente é Michael Keaton, de Birdman| Foto: Divulgação

Cinco

É o número de indicações ao Oscar do filme A Teoria de Tudo: melhor filme, ator, atriz, roteiro adaptado e trilha sonora original.

  • Relação com a ex-esposa Jane Wild, com quem Stephen teve três filhos, é o fio condutor do drama

O tempo é um elemento fundamental em A Teoria de Tudo. É o principal objeto de estudo do físico e cosmólogo britânico Stephen Hawking – suas descobertas sobre a natureza do tempo-espaço, afinal, o fizeram ser quem é. Foi o tempo, também, a medida utilizada pelo cientista para compreender que sua existência (já brilhante) estava chegando ao fim quando, aos 21 anos, soube da doença degenerativa que possui. O médico lhe deu dois anos de vida depois do diagnóstico de esclerose lateral amiotrófica (ELA), que paralisa os músculos do corpo sem, no entanto, atingir o cérebro. É como se Pelé ficasse biruta, mas continuasse a jogar futebol. Contrariando tudo – principalmente o tempo – Stephen Hawking está aí, com 73 anos.

O filme de James Marsh que estreia hoje nos cinemas é baseado no livro Travelling to Infinity: My Life with Stephen (sem tradução para o português), escrito por Jane Wild, com quem Hawking foi casado por 20 anos. O drama relembra as primeiras descobertas do futuro cientista, na Inglaterra dos anos 1960, e mira na história de amor (paciência, bravura e determinação são palavras que também caem bem) que teve com sua primeira esposa, Jane.

O início é digno de um filme de sessão da tarde, não fosse uma passagem engraçada que quebra uma sugestiva monotonia melodramática. É quando Stephen conhece Jane em uma festinha, consegue seu telefone e explica o que faz. "Cosmologia. É a religião dos ateus inteligentes," diz o garoto à garota, que canta no coral da igreja.

A atuação monstruosa de Eddie Redmayne (aposta segura para vencer o Oscar de melhor ator) recria um Hawking engraçado, charmoso e principalmente obstinado. O impacto da descoberta da doença, e a notícia de que teria pouco tempo de vida, inicialmente o fazem acelerar seus estudos, como se soubesse de antemão que tinha de oferecer à humanidade um conhecimento imprescindível.

Mas James Marsh – vencedor do Oscar em 2009 pelo documentário O Equilibrista – empastela as coisas e constrói uma narrativa clássica e bonita, embora fragilizada pela pouca profundidade com que trata os conflitos que se seguem. O episódio eufemístico do ateu convicto contra a católica apaixonada é um bom exemplo de oportunidade desperdiçada na trama. Outro é a relação do casal com um professor de música, viúvo, que se aproxima da dupla quando Jane dá sinais de cansaço e diz "preciso de ajuda", Stephen. O professor acabaria por casar-se com Jane, com o aval do físico, que por sua vez manteria um relacionamento com a enfermeira Elaine Mason por dez anos.

Com o avanço da doença, as mudanças constantes e importantes na vida do cientista – a adaptação à cadeira de rodas motorizada ou a uma nova forma de comunicação – são tratadas de forma abrupta e incomodamente ingênua. Stephen nunca reclama, está sempre feliz e otimista. Ora, mesmo para o mais cético, viver de forma dependente deve ter seus momentos "Deus me acuda".

Em entrevistas, Stephen Hawking classificou o filme como "bastante acertado". Talvez pela ótima trilha sonora do islandês Jóhann Jóhánnsson (vencedor do Globo de Ouro), pela fotografia dessaturada ou até pelo figurino – em algumas cenas, Eddie Redmayne parece estar vestindo números maiores para parecer mais frágil, menor. Mas se a guerra fabulosamente irônica que travou com o tempo, justamente uma de suas paixões, quase ficou com cara de novelão, é porque tem algo de errado aí.

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