• Carregando...
 | Divulgação
| Foto: Divulgação

Primeiro foi Cecília, de 13 anos. Duas semanas após cortar os pulsos e sobreviver, a mais nova das cinco irmãs da família Lisbon, jogou-se da janela de seu quarto e teve seu peito atravessado pela grade do jardim. Meses depois, foi a vez de Therese, 17, que, com gim, engoliu uma quantidade fatal de pílulas para dormir. Na mesma noite em que Bonnie, 15, se enforcou no porão; Mary, 16, enfiou a cabeça no forno aceso; e Lux, 15, ligou o carro na garagem fechada enquanto fumava um cigarro no banco da frente do automóvel. Apenas Mary sobreviveu para, pouco tempo depois, aderir ao método de Therese e encerrar a própria vida dormindo.

A mórbida sucessão de suicídios na mesma família, no período de um ano, é o que conduz As Virgens Suicidas, romance de estréia do escritor norte-americano Jeffrey Eugenides, lançado originalmente em 1993 e adaptado para o cinema por Sofia Coppola em 1999. Ele acaba de ser relançado no Brasil em formato pocket, numa parceria das editoras Rocco e L&PM.

Eugenides demorou dez anos para escrever seu primeiro livro. Conviveu diariamente, durante uma década, com a mórbida história das irmãs Lisbon em sua cabeça. Mas há quem tenha passado a vida inteira tentando entender os motivos dos suicídios. E são justamente essas pessoas que narram As Virgens Suicidas.

Therese, Mary, Bonnie, Lux e Cecilia eram loiras, de olhos claros e cabelos compridos. Esbanjavam saúde e vitalidade. Inspiravam paixões entre os colegas de escola e os meninos da vizinhança, que cresceram observando as garotas de longe e sonhando em um dia tocá-las – a ponto de recolherem artigos pessoais nas lixeiras dos Lisbon. É a partir do ponto de vista de um dos vizinhos que a narrativa é desenvolvida por Eugenides. E a tragédia que acaba comovendo toda a sociedade norte-americana em meados da década de 1970, ganha um colorido melancólico, romântico e de uma beleza estranha.

Os meninos costumavam se reunir na casa de um deles, que morava em frente à residência dos Lisbon. Em seu quarto funcionava uma espécie de fã-clube dos apaixonados pelas cinco irmãs. Filhas de um professor de matemática que lecionava na mesma escola em que elas estudavam e de uma dona de casa extremamente rígida, as garotas viviam isoladas. Não podiam ir a festas, não recebiam amigas em casa, nem roupas da moda podiam usar – as peças dos guarda-roupas eram iguais para todas, confeccionadas pela Sra. Lisbon, que sempre acrescentava centímetros a mais nas cinturas e bustos dos vestidos, calças e blusas. Passavam os dias em frente à tevê, lendo revistas e circulando entediadas pela casa.

Na admiração daqueles garotos, as Lisbon viram uma chance de escapar do claustro imposto pelos pais. Conseguiram permissão para que os garotos as levassem ao baile de formatura. Na festa, Lux, apaixonada pelo garoto mais popular da escola, Trip Fontaine, aproveitou demais a liberdade e cedeu ao desejo juvenil no gramado de um campo de beisebol. Lá foi abandonada por Trip, enquanto dormia ao relento. O abuso de Lux custou a todas elas, que após o episódio foram tiradas da escola e definitivamente enclausuradas.

No suicídio da irmã mais nova, Cecília, viram diante delas uma chance de libertação, que fez para sempre prisioneiras as memórias daqueles garotos. Alguns casados e pais de família, outros divorciados ou solteiros, mais de 20 anos passaram e a sombra das Lisbon continuou atormentando as vidas deles para sempre. Mesmo com um acervo extenso de recordações guardadas em segredo – diários, discos, fotografias e cartas – peças sempre ficaram faltando no quebra-cabeça das Lisbon. E nos corações daqueles que as idolatravam e as perderam da maneira mais trágica.

* * * * * *

Serviço

As Virgens Suicidas, de Jeffrey Eugenides. Rocco/L&PM Pocket. 208 págs., R$ 13.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]