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| Foto: Sossella

A diretora francesa Pascale Ferran foi petulante. Ousou fazer uma releitura contemporânea e feminista do romance O Amante de Lady Chatterley, clássico do autor britânico D. H. Lawrence. O experimento, arriscado em vários aspectos, foi amplamente recompensado. O filme, que estréia hoje em Curitiba, é um triunfo dessa coragem. Tanto que ganhou cinco prêmios César, o Oscar francês, em 2006: melhor filme, roteiro, fotografia, figurino e atriz.

O maior acerto de Lady Chatterley é, sabendo que adaptações lierárias costumam pecar pelo excesso de reverência às obras que as originaram, apostar na reinvenção do argumento do livro, "desrespeitá-lo" de uma certa forma. O resultado é surpreendente: sensualíssimo, o filme prima pela leveza e não cai em momento algum numa abordagem rasa.

Pascale Ferran, em sua empreitada de encontrar o seu próprio ponto de vista dentro do livro de Lawrence, ironicamente reencontra no caminho o frescor do livro publicado na década de 1920. Para quem não sabe, a obra, por seu conteúdo altamente erótico para os padrões da época, chegou a sofrer um processo por obscenidade e foi banida das bibliotecas de moças de família, para ser lido clandestinamente pelas mesmas. Na puritana Inglaterra, só foi liberado na década de 1960.

A diferença entre esta versão francesa e o romance de Lawrence está no tratamento dado ao personagem central, que dá título ao longa-metragem. Percebam que a palavra "amante" foi propositalmente extirpada, pois o foco se fecha na personagem central, Constance (Marina Hands, de As Invasões Bárbaras). Ela é uma jovem aristocrata casada com um marido inválido (Hippolyte Girardot, de Paris, Te Amo), que não lhe dá muita atenção e prefere cuidar de seus negócios com mineração.

Durante um passeio por sua propriedade, Lady Chatterley conhece o novo guarda de caça da propriedade, Parkin (Jean-Louis Coulloc’h). No princípio há uma estranheza entre os dois – certamente relacionada à distância social que os separa. Com o tempo, no entanto, o relacionamento se transforma em amizade e, posteriormente, num romance.

O interessante na ótima adaptação de Pascale Ferran é que, tão importante quanto o aspecto erótico, um quase mote na história original, a relação entre Costance e Parkin é mais transcendente e libertária, especialmente no que se refere à protagonista, cujas sensações, desejos e anseios são levadas muito a sério pela diretora.

Vale lembrar aqui que, das seis adaptações do livro para o cinema e televisão, esta é a única dirigida por uma mulher – o que, certamente, faz toda grande diferença na compreensão do psiquismo da personagem. Lady Chatterley usa o despertar sexual da personagem, pelas mãos de Parkin, como uma metáfora e não um fim em si mesmo. A relação entre os dois muda a percepção que Constance e Parkin têm do mundo e de si mesmos.

E se os personagens nem sempre explicam essa mudança em palavras, o filme o faz em belas imagens, sobretudo as cenas de natureza. GGGG

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