• Carregando...
O sumiço da vaca Cherrie virou nome de bairro e história de fantasma | Reprodução
O sumiço da vaca Cherrie virou nome de bairro e história de fantasma| Foto: Reprodução

Polêmica

Título semelhante gerou controvérsia com escritora local

Bocas Malditas – Curitiba e Suas Histórias de Gelar o Sangue causou polêmica mesmo antes do lançamento do livro, em um evento na Gibiteca de Curitiba. Tudo porque o álbum tem o título semelhante ao de um livro de contos da autora curitibana Bebeti do Amaral Gurgel, lançado em 2012: Bocas Malditas – Ah! Se Proust, Tchekhov, Lispector, Boccaccio, Guy de Maupassant e Outros Fossem para Curitiba... (Travessa dos Editores). "Considero uma invasão intelectual, uma falta de consideração e criatividade. Uma falta de atenção, descuido intelectual e até uma demonstração de falta de cultura. Ao editar um livro, é preciso pesquisar a originalidade da obra", lamenta Bebeti. A autora, apesar da mágoa e de ter sido incentivada a tanto, avisa que não deve processar a editora Dogzilla.

O advogado Alexandre Pesserl, contratado pela editora, disse que houve "coincidência criativa" na escolha do nome e que a proteção legal do título serve para torná-lo inconfundível com outra obra do mesmo gênero. "Neste caso, não há possibilidade de confusão entre os livros", explica.

HQs

Bocas Malditas – Curitiba e Suas Histórias de Gelar o Sangue

Vários artistas. Organização de Antonio Eder e Walkir Fernandes. Dogzilla, 180 págs., R$ 49. Quadrinhos.

  • Walkir e Eder: editores levam lendas orais às HQs
  • Vampiro: o narrador Dario é o elo entre as lendas urbanas do livro

Algumas lendas todo curitibano sabe de cor. A temida Loira Fantasma apavorou os taxistas da cidade na década de 1970. Uma misteriosa dama de camisola vermelha perambula pelos corredores frios do Edifício Tijucas, no Centro. Um lavrador francês que teve sua vaca roubada deu nome a todo um bairro. Sabe-se ainda que um lobisomem causou terror no ainda bucólico Tarumã da década de 1960 e que a romaria à Maria Bueno não para de crescer.

A saga desta menina alegre que virou santa depois da morte brutal, as citadas e muitas outras sinistras lendas urbanas de Curitiba estão retratadas em quadrinhos na coletânea Bocas Malditas – Curitiba e Suas Histórias de Gelar o Sangue.

Editadas pelos quadrinistas Walkir Fernandes e Antonio Eder, as histórias ganharam beleza nas mãos de mais de 30 artistas curitibanos, como Fúlvio Pacheco, Carol Sa­­kura e Liber Paz.

"São lendas passadas de boca a boca por gerações e que carregam grande parte do legado da nossa cultura e ajudam a contar a história da nossa cidade", explica Eder.

Para ele, os espíritos, panelas mágicas, caciques indígenas, cadáveres em barris de vinho, piratas e serial killers das histórias ajudam a entender a identidade sombria da cidade. "Uma cidade que pode ser mórbida e esquisita. Um cenário que se encaixa perfeitamente a este tipo de histórias no que talvez ajude a colonização europeia", arrisca.

Costumes

Seu parceiro Walkir explica ainda que o livro, tomados os cuidados de pesquisa possíveis, não se trata de uma obra de história, mas de entretenimento. Ele ressalta, porém, que a narrativa das lendas é um documento vivo dos costumes locais. "Durante a pesquisa, percebemos que nestes relatos a mulher ou é vítima de violência ou é a encarnação do mal, um reflexo da sociedade machista em que vivemos até hoje", avalia.

Ele conta que a ideia do livro nasceu depois do sucesso do lançamento do álbum Cidade Sorriso dos Mortos-Vivos, uma grande coletânea de histórias de terror com Curitiba como cenário, lançada também pela dupla em 2012. "A gente descobriu que o curitibano gosta de se ver, se identificar e se sentir representado pelo cenário e pelas figuras da cidade", constata.

Eder afirma que o primeiro livro foi um aprendizado para este novo. "Muitas coisas que aprendemos no primeiro álbum a gente aplicou neste. Separamos os roteiristas dos desenhistas e o resultado ficou mais equilibrado", observa.

Todas as 26 lendas que compõem o álbum são independentes entre si, mas são costuradas pelo vampiresco personagem Dario – uma home­­nagem ao personagem criado por Dalton Trevisan – que aparece como narrador em todas as histórias e conduz o leitor do começo ao fim.

Mercado

Produção recorde de quadrinhos marca 2014

Entre coletâneas e livros individuais, cerca de 25 títulos chegaram ao mercado de quadrinhos de Curitiba em 2014. "É algo que nunca aconteceu. Tem a ver com um momento em que a cultura nerd deixa de ser um estigma para se transformar em um valor", arrisca Antonio Eder.

A maior parte dos livros foi lançada na cidade durante a última Gibicon, no mês passado. Para Fabrízio Andriani, curador do evento, esta é a melhor fase da historia do quadrinho local depois dos anos 1970, "quando a editora Grafipar contava com os maiores desenhistas do país aqui, produzindo em ritmo frenético", lembra.

Para ele, no entanto, este é "um momento de virada" para que os quadrinhos se afirmem como realidade editorial e artística. "O pessoal viu que é possível juntar forças para produzir mais e mais títulos, alguns com a ajuda de editais, outros por conta própria e outros ainda com os métodos de financiamento coletivo. Estamos criando uma maturidade que vai nos possibilitar fazer frente com os maiores mercados do país", acredita.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]