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Autora publicou em diversos periódicos. | Divulgação
Autora publicou em diversos periódicos.| Foto: Divulgação

“O Século de Camus” (Graphia, 328 pp., R$ 65) é um dos lançamentos mais importantes de 2015. Não se trata de mero entusiasmo. A fim de avaliar a importância da reunião de artigos do livro, leiamos o prefácio da organizadora do volume, Luciana Viégas:

“Mais de duas centenas de artigos publicados por Lucia Miguel Pereira em periódicos cariocas e paulistas, até então dispersos, foram localizados em 2012: 180 apareceram quinzenalmente entre 1947 e 1955, no “Correio da Manhã”, e mais de uma dezena no “Suplemento Literário” de “ O Estado de S. Paulo”, em 1957. (...) Todos estão recortados e colados em quatro álbuns, com as devidas indicações de fonte e de data manuscritas pela própria autora. De tal achado resulta este livro.”

Citação longa, porém econômica, pois encapsula os méritos da pesquisa.

Os artigos da autora de “Machado de Assis (Estudo Crítico-Biográfico)” apresentam um panorama generoso do jornalismo literário nas décadas de 1940 e 50 em sua melhor hora. Portanto, estudar os artigos da coletânea significa entrar em contato com uma intensidade de leitura.

Ademais, a cena descortinada já é tão distante do universo digital nosso que chega a comover. Pois basta imaginar a autora recortando seus textos de jornais e revistas e compondo cuidadosamente seus álbuns para sentir a vertigem de um tempo remoto.

Aquele cenário do presente de 1950 e esta cena da memória futura apontam as preocupações da autora. De um lado, o testemunho dos primórdios da hegemonia americana no plano da cultura. Em artigo de 1948, a ensaísta lamentava a “uniformidade que a civilização vai imprimindo a todos os povos”. As consequências são desestimulantes: “toda a gente bebe Coca-Cola, leu romances como ‘O Vento Levou’.

A sutileza não oculta, antes sublinha o desencanto: do refrigerante à literatura de entretenimento, passando pela civilização do eletrodoméstico, a diferença seria de grau, nunca de natureza. Lucia Miguel Pereira acertou no alvo: na literatura brasileira o “primeiro assédio” foi propriamente póstumo, exercido por meio de uma memória que naturalizou o preconceito.

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