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 | Miguel Nicolau/Especial para a Gazeta do Povo
| Foto: Miguel Nicolau/Especial para a Gazeta do Povo

O mundo das coisas que existem não dá conta do livro “Cem anos de solidão”, de Gabriel García Márquez (1927-2014), e foi preciso criar um outro para tentar abarcá-lo: o realismo mágico.

Mesmo sendo uma das obras mais importantes do século 20 e a mais valiosa do Nobel de Literatura de 1982, o romance sobre esse lugarzinho chamado Macondo chegou perigosamente perto de nunca sair da cabeça de García Márquez, ou Gabo, para os íntimos (e todo leitor que admira o cara se considera um tanto íntimo dele).

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Essa é a “história secreta” do livro, dos esforços necessários para que ele ganhasse o papel, contada pelo escritor Paul Elie na edição deste mês da revista “Vanity Fair”. O texto saiu no embalo da notícia de que o Harry Ransom Center, da Universidade do Texas, comprou os arquivos do escritor por US$ 2,2 milhões (mais de R$ 9 milhões).

Pouco depois da aquisição, na primeira semana deste ano, a universidade texana anunciou que vai digitalizar toda a papelada e colocar de graça na internet para quem quiser ver. Uma notícia espetacular para o mundo literário.

Na “Vanity Fair”, o que Paul Elie fez foi conseguir uma entrevista com a agente Carmen Balcells (1930-2015), que morreu semanas depois do encontro. Foi graças à agente espanhola – ao menos do ponto de vista prático – que Gabo foi publicado em vários países.

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Carmen representou o colombiano nos Estados Unidos, conseguindo um “contrato de merda” com a “Harper & Row”. As aspas são de García Márquez, que aceitou a proposta de escrever quatro livros por mil dólares (R$ 4,1 mil). É ridiculamente pouco hoje e era uma merreca 50 anos atrás.

Isso tudo foi antes de “Cem anos de solidão”, que Gabo levou 18 meses para escrever. Nesse período, Carmen o ajudou financeiramente, estocando uísques e vendendo quase tudo que ele tinha em casa. Começou com o carro, depois passou para a geladeira, o telefone...

“Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o Coronel Aureliano Buendía havia de recordar aquela tarde remota em que seu pai o levou para conhecer o gelo.”

Primeiro parágrafo de “Cem anos de solidão”, traduzido por Eliane Zagury.

Trabalhando e fumando muito (três maços por dia), Gabo consumiu 10 mil dólares em despesas – contando os 10 mil cigarros que fumou sentado diante da máquina de escrever. Em casa, eram ele, a mulher e o filho, os três vivendo na Cidade do México.

Para você ver como os mil dólares do contrato com a editora não significavam nada e como García Márquez ainda não era ninguém, mas se tornaria alguém muito rápido depois que a edição em espanhol de “Cem Anos...” saiu na Argentina, em 1966.

Quatro anos depois, a tradução americana chegou às livrarias, feita pelo lendário Gregory Rabassa. O ano: 1970, e Gabo já era um rockstar.

Com o ponto final em “Cem anos de solidão”, Carmen se perguntou: “E se, depois de tudo isso, o livro fosse ruim?”. Não foi o caso.

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