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Jamie Dornan interpreta Christian Grey no filme “Cinquenta Tons de Cinza”. | Divulgação
Jamie Dornan interpreta Christian Grey no filme “Cinquenta Tons de Cinza”.| Foto: Divulgação

Tudo em “Grey”, assim como em “Cinquenta Tons de Cinza”, exala superficialidade gente-como-a-gente. É um faz de conta de dizer exatamente o oposto. “Tenho interesses variados, srta. Steele. Muito variados”.

De fato, Grey é apenas um homem rico capaz de enriquecer mais em reuniões rápidas, altamente controlador, detentor de um quarto repleto de brinquedinhos eróticos. Mas não se engane: é muito barulho por nada.

O que se promove como quebra de convenções e libertarianismo supremo é somente conservadorismo travestido. A maior parte das coisas pelas quais Grey sente fascinação é cotidiano ralé de casais contemporâneos, tudo devidamente escondido em casa e longe dos filhos. Outra boa sacada da autora: difícil, atualmente, alguém que não conheça outro alguém revendedor de produtos eróticos em catálogo.

A autora reveste seu protagonista masculino de conotações sexuais aparentemente hardcore, fora da curva. Estamos, supostamente, diante de alguém que parte em busca da satisfação sexual plena e infinita, uma curiosa jornada de herói.

E é nesse processo que James tenta conferir alguma envergadura literária à coisa toda: o resultado é sofrível, questão de limitação literária mesmo. Comprova-se aqui o teorema do escritor e jornalista britânico Francis Wheen de que “a picaretagem domina o mundo”.

Grey

E.L. James. Tradução de Adalgisa Campos da Silva. Intrínseca, 528 pp., R$ 39,90.

Para além do aspecto sociologizante e da marotagem mercadológica da autora, que não está equivocada em explorar seu produto até aparecer a hipoderme – os editores deixam e a estimulam –, o que realmente está em jogo é a fraqueza dos dois livros de James.

Somados, “Grey”, “Cinquenta Tons de Cinza” e o primeiro capítulo-brinde de “Cinquenta Tons Mais Escuros” atravessam pouco mais de mil páginas. Lendo uma média de 45 páginas por hora, o montante corresponde a 22 horas de leituras.

Porém, é preciso considerar que a autora fez questão de repetir em “Grey” as quase 70 páginas de e-mails trocados entre os protagonistas, com um e outro comentário adicional, naquele que pode ser considerado um dos maiores embustes recentes do mercado editorial.

Adendo-reforço: as conversas repetidas realmente divertem. (DZ)

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