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Literatura

O retorno da intrépida coleção Vaga-Lume

Detalhe da capa do romance “A Turma da Rua Quinze”, de Marçal Aquino. | Reprodução
Detalhe da capa do romance “A Turma da Rua Quinze”, de Marçal Aquino. (Foto: Reprodução)

Se você se tornou leitor no Brasil em algum momento dos anos 1970 para cá, são grandes as chances de ter sido literariamente desmamado pelos livros da coleção Vaga-Lume.

Publicados pela Editora Ática desde 1972, os 91 títulos da série infantojuvenil foram responsáveis por formar legiões de leitores.

Na leitura de pequenos romances como A Ilha Perdida, de Maria José Dupré, ou O Escaravelho do Diabo, de Lúcia Machado de Almeida, sempre assinados por autores brasileiros, jovens se reconheciam em personagens e narrativas de aventuras que despertavam o gosto pela leitura.

Em 2015, a Ática celebra 50 anos e vai relançar dez títulos clássicos da Vaga-Lume em edições comemorativas, com acabamento mais nobre que inclui um verniz que brilha no escuro.

“A Vaga-Lume talvez seja o produto mais emblemático no campo da literatura da Ática, pela identificação que criou com os leitores e também por ter formado uma geração de autores”, diz o gerente editorial da Ática, Paulo Verano.

Ele explica que a coleção foi planejada, no início da década de 1970, para tentar entender quais seriam os livros com potencial de “clássico” e que ao mesmo tempo fossem palatáveis ao leitor jovem da época. Uma aposta que deu certo.

Em muitos casos indicados como leitura obrigatória em sala de aula, a coleção se tornou um sucesso editorial sem precedentes.

Por questões de “política empresarial”, a Ática não divulga os números de vendas, mas um referencial possível é o volume de edições. A Ilha Perdida, por exemplo, publicado na coleção em 1975, está atualmente na nona reimpressão da 40.ª edição.

Ainda que a edição dos principais títulos nunca tenha sido interrompida, Verano diz que a oportunidade de relançamento se impôs, pois a editora “tem livros incríveis que estão no imaginário das pessoas e merecem uma reembalagem”.

A Vaga-Lume teve duas fases. Na primeira, nos anos 1970, foram publicados livros consagrados como Éramos Seis, de Maria José Dupré. Na década seguinte, foram lançados autores estreantes como Marçal Aquino, autor do hoje clássico A Turma da Rua Quinze.

Aquino que nunca tinha escrito livros infantojuvenis, conta que foi convocado para substituir um outro autor com “bloqueio criativo” e escreveu, em apenas três meses, a história de um grupo de amigos de rua, numa cidade de interior, que se envolve numa aventura de mistério.

Sobre os relançamentos, Aquino ressalta que mesmo que a literatura infantojuvenil esteja dominada por livros de fantasias e histórias de vampiros, os títulos da Vaga-Lume ainda resistem pela qualidade.

“Acho que a qualidade dos textos, que fizeram da Vaga-Lume um projeto de tanto sucesso, garantem sua atemporalidade. Em geral, os livros são muito bons e podem agradar a públicos de qualquer faixa etária. Livro bom não tem prazo de validade”, diz. “Acho que é justamente por fazer contraponto a esse tipo de literatura que vigora hoje que os livros da Vaga-Lume têm seu encanto. São histórias coladas no real e também muito próximas do universo etário dos próprios leitores, que oferecem um outro tipo de acesso à fantasia.”

Com experiência de anos como mediadora de leitura da Fundação Cultural de Curitiba, Sueelem Witsmiszyn, ela mesma uma entusiasta da Vaga-Lume, concorda com a receita.

“A repaginação editorial vem numa hora certa, pois o leitor brasileiro compra o livro pela apresentação, e os leitores jovens mais ainda. Como os livros são ótimos, ainda se comunicam bem com os jovens”, diz.

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