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O escritor e editor Otávio Linhares lança neste sábado (25) seu segundo livro, “O Esculpidor de Nuvens”, pelo selo Encrenca – Literatura de Invenção. O autor estará a partir das 15 horas autografando os livros na Livraria Arte & Letra (Alameda Pres. Taunay, 130, Batel).

O livro é dividido em duas partes. Na primeira, “O Esculpidor de Nuvens”, uma voz infantil busca uma saída para a violência domiciliar no silêncio e no diálogo com as coisas inanimadas.

Reprodução

Na segunda parte, “O Cão Mentecapto”, um narrador cínico e sarcástico faz uma viagem tragicômica pelas ruas de Curitiba flertando imageticamente com os personagens da cidade. A exemplo de seu primeiro livro Pancrácio, lançado no ano passado, Linhares escreve de uma forma peculiar sem vírgulas, com poucos pontos e sempre em letra minúscula.

Leia a seguir uma entrevista com o escritor sobre seu novo livro:

O livro é dividido em duas partes, uma mais poética e outra mais mundana. São duas personalidade do autor disputando lugar no livro?

há o Esculpidor de Nuvens que é uma voz infantil: uma primeira visão acerca do que é o mundo, um primeiro olhar sobre as relações humanas e depois familiares e sociais. e há o cão mentecapto que é um adulto. um cara que já massacrado pela própria existência vaga perdido em meio aos seus próprios desejos os quais muitas vezes ele não consegue realizar e disso advêm seus recalques e medos. acho que o cão é o cara do “Pancrácio”(primeiro livro de Linhares, também publicado pela Editora Encrenca no ano passado).

Você faz opção de linguagem como não usar pontuação nem letras maiúsculas por exemplo. E se dá liberdade de ir da prosa ao texto poético. Estas escolhas são deliberadas e que mensagens há nelas?

totalmente deliberadas. Desde o “Pancrácio” que venho experimentando essa forma de escrita. a exclusão das vírgulas principalmente. as vírgulas nos meus textos sempre funcionaram como um freio. eu relia meus textos e os achava didáticos demais. levou um tempo até perceber que era o meu mal uso das vírgulas. e dos pontos e vírgulas também. então comecei a testar esse formato e me surpreendeu bastante como a exclusão de determinadas pontuações aceleravam os textos. foi minha grande descoberta como escritor. os textos na época ainda ficaram meio estranhos então tive de me acertar com a escolha das palavras. com o trabalho propriamente dito da escrita. foi aí que comecei a encontrar um estilo. poderíamos chamar assim. é um estilo ao qual eu me adaptei e acho que vou nele até o fim. ele imprime velocidade de leitura. a mesma velocidade de raciocínio que eu tenho enquanto escrevo. é rápido. é esquizofrênico. os pensamentos são assim. velozes múltiplos e estranhos. acho que a minha literatura está nesse lugar hoje. acho que é isso que eu quero que as pessoas sintam. essa energia veloz e ao mesmo tempo efêmera. não sei se pra sempre. acho que vou mais um tempo nessa pegada.

o cotidiano

um pouquinho todo dia a gente morre ou se mata?

Trecho do livro “O esculpidor de nuvens”

Estes textos foram concebidos para formar o livro? Como você os reuniu?

eu tinha alguns já prontos desde a época do pancrácio. e até alguns textos do meu primeiro livro que de alguma forma pediram pra entrar no esculpidor e eu deixei. que são os textos do cão mentecapto. esses são bem soltos e muitas vezes desconexos. apenas textos curtos. já os do esculpidor fui escrevendo dentro de uma lógica de crescimento e amadurecimento dessa voz infantil. de um olhar silencioso e analfabetizado até a adolescência desse olhar. textos curtos que vão se conectando pelo avançar dos anos dessa voz. não sei se é uma criança. prefiro dizer que é uma voz infantil que vai avançando no tempo. e são curtos porque talvez nesse momento eu não saiba escrever textos longos. acho que por ter esse estilo de escrita fica difícil manter o interesse do leitor por mais tempo do que dez páginas. desgasta a leitura seguir nesse ritmo. penso que seja como andar de carro ou de montanha russa durante muito tempo a uma velocidade muito grande. a percepção satura. tento manter meus textos em uma tensão constante sem saturar a percepção das pessoas. se dá certo só saberemos lendo.

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