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Sendak homenageia o bairro do Brooklyn em “O Aviso na Porta...”. | Reprodução
Sendak homenageia o bairro do Brooklyn em “O Aviso na Porta...”.| Foto: Reprodução

Um bom livro infantil deixa várias pistas, e uma delas é você adotar o protagonista para si, para sempre. Rosie vai ficar comigo. Principalmente por sua inventividade, sua busca constante por brincadeiras envolvendo sua identidade. Haja imaginação.

A Cosac Naify acaba de publicar “O Aviso na Porta de Rosie”, do americano Maurice Sendak (1928-2012). Ele é autor de “Onde Vivem os Monstros”, uma das principais referências em literatura infantil ilustrada.

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Com seu traço característico, que lembra um pouco a arte de Toulouse-Lautrec, o autor situa a história no Brooklyn – a homenagem à sua terra natal consta na caracterização da vizinhança em que crianças circulam livremente entre casas parecidas, em alguma década do século 20, e vem na dedicatória.

Nesse mundo de brincadeiras inventadas, as crianças se encontram para perguntar o que estão fazendo, o que deveriam fazer, se o tempo já passou e se é hora de voltar para casa.

O tédio das férias é espantado por Rosie, essa guria cheia de imaginação. Perspicaz na arte de fazer amigos e influenciar pessoas, ela pendura um papel na porta de casa avisando que tem um segredo. Basta bater três vezes para entrar e saber. Seu quintal lota de coleguinhas, aos quais ela decide apresentar um show com a “cantora encantadora Alinda”.

A persuasão da menina é capaz de silenciar a algazarra dos amigos, que seguem suas ordens – mas só até certo ponto. É que Rosie tem um contraponto, Lenny. O garoto também tem suas manhas para chamar atenção, e ela precisa dividir a criação dos jogos de grupo com ele.

O bom é que a cambada está sempre pronta para brincar junto, sem excluir ninguém, basta um pouco de diplomacia selvagem.

“O Aviso na Porta de Rosie”

Maurice Sendak. Tradução de Heloisa Jahn e Antonio de Macedo Soares. Cosac Naify, 48 pp., R$39,90.

Em uma das brincadeiras que inventa, Rosie se cobre com um cobertor vermelho e espalha que está perdida. Só o Homem Mágico poderá achá-la. É lindo como o grupo precisa de tão pouco para entrar na dança, e logo eles passam a tarde esperando o tal senhor – que não vem.

“Quem sabe amanhã?”, apostam. No dia seguinte, Rosie dá um jeito de incluir o Mágico na roda, tornando-se um Beckett com deslocada esperança – a brincadeira toda lembra a peça “Esperando Godot”, de 1952, em que Godot nunca chega e serve de metáfora para mil e uma coisas.

Chega então o Feriado da Pátria, e Rosie não consegue convencer a mãe a comprar bombinhas – o relacionamento entre pais e filhos em Sendak é digno de nota pela ausência de afetação.

Recorrendo de novo a ideias que pululam, Rosie finge ser ela mesma uma bombinha, e de novo faz a tarde da garotada, que a acompanha.

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