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A escritora Ingrid Betancourt fala sobre suas influências na entrevista a seguir, feita por e-mail.

Há no livro uma clara influência do realismo fantástico. Esta vertente da literatura sul-americana é uma influência para a literatura?

Creio que isto é a América Latina: nossa cultura integra todas as vertentes do conhecimento humano, não só o científico. Aprendemos sobre o mundo por relatos fantásticos de eventos anódinos. Caminhamos por mundos de fé e esperança onde o irracional tem um espaço próprio. A intuição, as premunições são nosso pão de cada dia. Vivemos em um continente onde os milagres se sucedem, acontecem tosos os dias, estão muito próximos. O leitor estrangeiro interpreta o realismo magico latino-americano como uma criação literária audaz, algo como um invento da mitologia moderna. Para nós, é a realidade pura e simples, a nossa maneira de nos expressarmos, e assim contarmos nossa vida, assim compreendemos o mundo e assino nos vemos a nós mesmos.

Livro alia realismo fantástico e ditadura

Escritora e política colombiana Ingrid Betancourt narra em seu primeiro livro de ficção história passada durante a ditadura argentina

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Que tipo de pesquisa você fez para falar da Argentina durante a ditadura e seus esquadrões da morte?

Meu romance tem como pano de fundo um cenário de ditadura e morte. A pesquisa que fiz foi histórica, factual e testemunhal, mas também foi sociológica: me interessava refletir sobre o que faz com que diante do mesmo evento histórico, a mesma vivência pessoal alguns se convertam em heróis e outros em vilões. Alguns perdoam e outros não. Alguns tentam renascer sua vida e se deixa morrer de tristeza ou de ódio.

Foi como desenrolar um novelo. No princípio, me chamou a atenção o caso de um líder carismático argentino, o padre Mojica a quem descobri lendo um tratado de teologia. Ele era de família importante, filho de políticos, muito inteligente com uma bela figura e tinha deixado tudo para lutar pelos mais pobres. Curiosamente é quando retorna a Argentina de Perón, o ídolo dos “descamisados” que Mojica é assassinado. Peron também foi o presidente que termina dando espaço a personagens obscuros como Jose Lopez rega e organizações criminais como o triplo A. (um grupo de extermínio ligado a ditadura argentina).

Dali nasce meu interesse por compreender quem eram os Montoneros, jovens rebeldes argentinos, católicos de esquerda e de direita, todos sedentos de democracia, justiça e liberdade. Começa assim uma página negra da história do continente com mais de 30 mil pessoas desaparecidas e assassinadas dos quais se salvam alguns entre os quais uma mulher que conheci por acaso em uma viagem a Austrália.

Ainda que seja um tema duro, a tua literatura consegue trata-lo de modo mais sensível. Foi algo que você tentou fazer?

Ainda que as situações de vida mais duras, segue viva a esperança do triunfo da luz sobre as trevas. A luz está em nós mesmo e não no final do túnel. Porém, também temos capacidade de fazermos mal e de ferir os outros. Não se trata de uma mensagem positiva, mas de uma simples constatação: nossa liberdade se se exerce nessa decisão: ser luz ou ser sombra.

Algumas resenhas do livro que saíram no brasil dizem que pela tom e linguagem o livro pode ser colocado na categoria de “autoajuda”. Você concorda?

E por que não? Cada leitor desenvolve suas próprias afinidade afetivas, em função de suas necessidades conscientes ou inconscientes. Ainda que o romance não tenha sido escrito com a intenção de servir de guia para enfrentar problemas pessoais, creio que obriga sim a uma reflexão sobre temas essenciais: a liberdade, a felicidade, o amor e o que há mais além.

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