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Vicente Barreto e seu violão: inseparáveis há 50 anos | Dani Gurgel
Vicente Barreto e seu violão: inseparáveis há 50 anos| Foto: Dani Gurgel

Se comparado aos seus contemporâneos, pode-se dizer que Vicente Barreto está à margem. Que esteve quase sempre escondido nas sombras de músicos que obtiveram maior sucesso, mesmo sendo coautor de "Morena Tropicana", que invadiu o Brasil na voz de Alceu Valença, e parceiro de Vinicius de Moraes em "Eterno Retorno". A posição acanhada incorporou-se, finalmente, ao seu trabalho. Vicente (Lua Music) traz o que há de mais genuíno na obra do baiano.

O décimo disco da carreira de Barreto traz dez faixas inéditas e duas releituras – "Capitão do Mato" e "A Cara do Brasil". Ao contrário de seus outros álbuns, contou com poucos parceiros: Paulinho Mendonça, Paulo César Pinheiro, Zeh Rocha, Carlos Renno e Celso Viáfora. Mas o principal duo está nos violões, que agora ganham dedilhados originais também de Rafa Barreto, filho do compositor. "Esse disco é por conta dele", diz Vicente.

O músico define seu trabalho como uma junção entre gêneros geograficamente distantes, mas que encontram similaridades se comparados musicalmente. "Há algo de Cuba e de Cabo Verde. Ouvi muito a Cesária Évora", explica Barreto, referindo-se à cantora africana. Mas há Bahia também. "Achei o mote do disco quando coloquei nele o aboio do gado, o samba de roda, o lamento do vaqueiro", expõe o baiano, que se mudou para o Rio de Janeiro aos 20 anos levando um violão nas costas.

Além de cantar a vida do Nordeste e apresentar seu dedilhado característico a "músicas do mundo", Vicente Barreto desabafa. "Esse Rio" é música crítica ao descaso com o meio ambiente e acaba em um palavrão quase que libertador. "A pessoa vai ficando tão desesperada com toda essa destruição, não é? A música vai crescendo e as coisas vão acontecendo. No final, não tinha o que dizer, era aquilo mesmo", explica.

Baiano de Conceição do Coité e paulista "de coração", o músico vence, aos poucos, o que poderia ser – e por vezes foi – um dos maiores obstáculos de sua carreira: o medo dos palcos.

"Foi um sofrimento porque eu era muito tímido. Quando trabalhava com Tom Zé, só faltava me esconder no violão. Aos poucos fui me dedicando mais e perdendo o medo que tinha de errar as letras ou as músicas", confessa o baiano, que , em seus 30 anos de carreira, já foi gravado por Maria Bethânia, Elba Ramalho, Ney Matogrosso e Alaíde Costa.

No próximo sábado, Vicente Barreto completa 60 anos – 30 deles dedicados à música. A festa será sobre o palco, em um show em São Paulo. "Tô numa felicidade que você não imagina", diz o músico, agora liberto e destemido. GGG1/2

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