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No primeiro encontro, marcado em uma suíte de hotel de Viena (Áustria), Paulo Coelho comentou com a pessoa que o acompanhava, logo após abrir a porta: "Ela veio do Rio para me entrevistar sobre um assunto de que eu não gosto nem um pouco de falar". Hérica Marmo, que acabava de cumprimentá-lo, tremeu, mas manteve-se firme no propósito de passar os dois dias combinados explorando a vida e a obra do mago na época em que ele era amigo de Raul Seixas, executivo de gravadora e compositor.

Paulo relaxou e falou mais do que a jornalista esperava. Etapa vencida, Hérica Marmo seguiu fazendo outras entrevistas e ouvindo outras histórias, reunidas agora no livro "A canção do mago - A trajetória musical de Paulo Coelho" (editora Futuro), que tem lançamento e noite de autógrafos nesta segunda-feira (1º), na livraria Saraiva do shopping Rio Sul, na capital fluminense.

- Apesar de ter falado isso, ele me recebeu muito bem no primeiro encontro. Fiquei sem graça, mas fui mandando as perguntas e parece que ele esqueceu que não gostava do assunto. Ele foi se divertindo com as histórias que lembrava, analisou as músicas e respondeu tudo que perguntei. Às vezes, ele mesmo iniciava a polêmica - conta Hérica Marmo, que encontrou Paulo Coelho novamente em setembro, em Paris: - Quando o encontrei de novo, estava de férias. Ele não tinha recebido o livro, mas depiois me escreveu dizendo que estava gostando do que lia.

Entre as "polêmicas" estão histórias como a que diz que foi Paulo Coelho quem apresentou Raul Seixas à magia e às drogas. Hérica já havia lido algo sobre isso e sobre muitas outras coisas relativas ao escritor em suas pesquisas, mas ele também desmistificou algumas delas:

- Todo mundo fala que foi Paulo quem criou Sidney Magal quando era gerente de gravadora. Mas a participação dele foi, basicamente, como compositor. Ao falar sobre essa época, ele deu crédito a Roberto Livi, o produtor de Sidney.

Hérica deixou o mago feliz ao colocar nas mãos dele a lista de todas as suas composições, que ela conseguiu pesquisando não só no acervo do Instituto Paulo Coelho - "onde ele guarda tudo, como todo bom virginiano", diz ela - mas também nas editoras das gravadoras e até em bate-papos com antigos parceiros dele. Ao todo, a autora encontrou 114 composições e quase 200 versões de músicas estrangeiras.

- Acho que foi ali que Paulo se convenceu de que o livro valia a pena. Ele disse: "Pôxa, eu nunca tinha parado para analisar a minha obra musical" - lembra ela.

Mas, apesar de as entrevistas com Paulo Coelho terem sido essenciais para comprovar a veracidade dos fatos pesquisados, o mago não é o único personagem importante de "A canção do mago - A trajetória musical de Paulo Coelho". Foi imprescindível entrevistar Jerry Adriani, que foi quem trouxe Raul da Bahia para o Rio, na época em que ele era líder da banda Raulzito e os Panteras. O Mutante Sérgio Dias ("Arigatô-Harakiri"), Zé Rodrix ("Mercado do amor"), Rosana ("Fique um pouco mais"), o ex-Fevers Augusto César ("Meu amor, Michelle"), Rita Lee ("Arrombou a festa") e Roberto Menescal ("Não dá mais", gravada por Zizi Possi) - que assina o prefácio - também contaram histórias incríveis da época.

- Falei com amigos, inimigos, ex-parceiros, ex-mulher, atual mulher, gente que conviveu com Raul, gente que acompanhava a relação dos dois. Falei também com pessoas que conheceram Raul antes de conhecer o Paulo, porque era importante traçar o perfil de cada um antes de conhecer o outro. Fiz pesquisa em jornais antigos e fui conferir o que as pessoas dizem hoje. O que elas lembram 30 anos depois não é fiel ao que falaram na época - diz Hérica.

O livro compreende a história de Paulo Coelho de 1972 a pouco depois de 1982, desde quando ele era jornalista e conheceu Raul até quando já havia se tornado escritor, mas fez ainda uma última letra:

- A última foi uma parceria com Hyldon, chamada "Caminho de Santiago". Paulo já estava fora da carreira de letrista e dedicava-se à fase de escritor.

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