• Carregando...

Berlim - Waste Land, da documentarista inglesa Lucy Walker e codirigido por João Jardim (Janela da Alma e Pro Dia Nascer Feliz), já havia sido premiado no Festival de Sundance (EUA) no mês passado, e, no último fim de semana, conquistou, no Festival de Berlim, o prêmio de audiência da Mostra Panorama e o do júri independente da Anistia Internacional, dividido com Son of Babylon, de Mohamed Al-Daradji.

Waste Land acompanha o caminho percorrido pelo lixo reciclado no Jardim Gramacho – maior aterro sanitário da América Latina, localizado na periferia de Duque de Caxias (RJ) – e sua transformação em arte pelas mãos do artista plástico paulista Vik Muniz e a participação de catadores.

Lucy Walker vem se especializando na abordagem de temas que retratam comunidades ou grupos com características especiais, como é o caso de Blindsight, a história de seis tibetanos cegos que escalam o Monte Everest; e Devil’s Playground, sobre ritos de passagem de adolescentes numa comunidade Amish.

Waste Land é uma realização conjunta da produtora brasileira O2 Filmes e a Almega Projects da Inglaterra e tem edição da pernambucana Karen Harley, fotografia de Dudu Miranda e produção executiva de Fernando Meirelles.

Em entrevista à Gazeta do Povo, Jardim que não esconde o entusiasmo com a idéia de Muniz e tudo que foi gerado com ela, falou sobre a origem do filme, o envolvimento dos catadores de lixo para a concretização do documentário.

Como surgiu a idéia de realizar Waste Land?

Surgiu a partir de uma iniciativa do próprio Vik (Muniz) num trabalho com catadores do aterro de Gramacho. As fotos das obras que resultaram desse trabalho foram vendidas num leilão em Londres e a renda foi revertida para os próprios catadores. O filme documenta esse percurso do lixo até ser transformado em arte e seguir para prestigiadas casas de leiloeiros internacionais.

Como foi o trabalho para composição das imagens?

A intenção era mostrar como o material reciclado deu forma às imagens na série em que ho­­mens e mulheres, catadores da região, são retratados. Foi um trabalho muito gratificante, um verdadeiro mutirão no qual todos ajudaram a compor as obras de arte e aceitaram ser fo­­tografados. O processo de cria­­ção do Vik é muito interessante, ele trabalha utilizando imagens como referências, que pode ser o quadro de um pintor como Jacques Louis David, que imortalizou Jean-Paul Marat, ou de Pablo Picasso, por exemplo. Ele mostrava a imagem e pedia que alguns catadores ficassem naquela mesma posição para as fotos.

Foi um processo difícil? Há algum ponto que você destacaria?

A maior dificuldade foi o próprio local, Gramacho fica numa área inóspita. Eu destacaria a oportunidade de ter constatado muitas coisas surpreendentes. Os catadores de lixo são mais felizes do que a gente imagina. É impressionante a dignidade deles, o orgulho de fazer o que fazem e a consciência da importância do ofício que praticam. Eles não negam que é um trabalho desagradável e, se pudessem, certamente prefeririam fazer outra coisa. Mas já que estão ali, valorizam o que realizam.

Quais resultados o filme pode trazer para os catadores?

Já houve um retorno significativo, que é a reversão da renda para aquela comunidade mas há também a questão do envolvimento deles com a arte. Eles vivenciaram todo o processo de ver como o lixo reciclado pode virar uma obra artística e como a arte pode se transformar em dinheiro para ajudá-los. Foi a primeira vez que eles se viram em outra escala o que, em última análise, pode conduzir a uma possibilidade de mudança de vida.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]