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Segunda temporada do programa desbrava lojas independentes nos EUA | Divulgação
Segunda temporada do programa desbrava lojas independentes nos EUA| Foto: Divulgação

Serviço

Minha Loja de Discos

Canal BIS. Segundas-feiras, às 19 horas.

Do lado de fora da Amoeba de Los Angeles – a maior loja de discos independente do mundo, com 250 funcionários, 300 mil títulos à venda e cerca de dois milhões em estoque, entre novos e usados – Clarisse Baurian conta que se sentiu oprimida quando entrou ali pela primeira vez, porque não sabia que existiam tantos gêneros musicais. Fã de rock clássico, ela saiu da loja com álbuns de eletrônica e de bossa nova na sacola. "Expandi minhas preferências", reconhece ela, num dos 13 programas da série Minha Loja de Discos, que estreou na segunda-feira passada, às 19 horas, no Canal Bis, e hoje exibe seu segundo episódio.

Em outro momento, o vendedor Daniel Taures diz que tem gente que parece morar no local. "Tinha uma garota que vinha colocar flores em cima dos discos do Sid Vicious [ex-baixista dos Sex Pistols] todo dia", garante. Já Emily Kokal, vocalista do Warpaint, explica que a banda só estourou depois que sua demo recebeu apoio da loja, e ficou entre seus discos mais vendidos em 2008.

Após mapear as principais lojas independentes do Reino Unido em sua primeira temporada, exibida em 2013, a série semanal dirigida por Rodrigo Pinto e Elisa Kriezis visita os Estados Unidos, o maior mercado fonográfico do mundo, e mostra que a sustentação dessas "instituições culturais", nas palavras do músico e DJ Moby, frente ao avanço do consumo on-line, não é apenas o crescimento das vendas de discos de vinil no país. De acordo com uma pesquisa da Nielsen SoundScan, ele aumentou 43% desde 2007, atingindo a marca de seis milhões de unidades em 2013.

Além dos números, é a abstrata sensação de pertencimento e de posse coletiva (que, de alguma forma, justifica o título do programa), e que mantém de pé esses ambientes, com consumidores fazendo o papel de divulgadores, artistas virando fregueses ou vendedores e lojas tornando-se muitas vezes selos e palcos.

"Esse senso comunitário é real para qualquer boa loja de discos independente", afirma Marc Weinstein, dono da Amoeba, que tem também filiais em São Francisco e Berkeley. "Esses são ambientes onde artistas, consumidores, vendedores e selos se misturam, inúmeras vezes trocando de papéis e alimentando-se do mesmo produto, a música. Nenhum de nós sobreviveria se atuássemos sozinhos. Nesse sentido, a Amoeba não é só minha, mas de todos os que circulam em torno dela."

Episódio

No programa de estreia da série – que passou por 12 cidades americanas ao longo de quatro meses de viagem – Cyril Neville, integrante do renomado grupo Neville Brothers, elogia "o ambiente familiar" da Louisiana Music Factory, em Nova Orleans, enquanto o trombonista Trombone Shorty explica como cresceu frequentando a loja, fundada em 1992 e especializada em jazz, cajun e zydeco. Na Poobah Records, em Los Angeles (única cidade com duas lojas na série), o celebrado DJ Cut Chemist explica como a loja, especializada em hip-hop instrumental, foi fundamental para o crescimento da celebrada cena beat local.

"O crescimento das vendas de vinil e a sua importância para essas lojas, discutidos na primeira temporada, já é algo consolidado", explica o diretor. "O que marca essa segunda parte da série é o valor desses estabelecimentos para as cenas locais num país tão vasto como os EUA. Há estilos, artistas e consumidores que são específicos de uma região, o que ajuda a entender o fato de muitas lojas terem seus próprios selos", frisa.

Na economicamente devastada Detroit, terra da Motown e do techno, a pequena Somewhere in Detroit integra o quartel-general do coletivo Underground Resistence, e lendários DJs e produtores como Carl Craig, Jeff Mills e Mike Banks explicam como a constante peregrinação de fãs do gênero eletrônico ao local ajuda a manter as esperanças de recuperação da cidade que os projetou. "Foi a loja que mais nos emocionou com a força que ela tem para aquela comunidade", diz Rodrigo Pinto.

Em Chicago, o casal à frente da série visitou a Jazz Record Mart, encontrando veteranos bluesmen como Tail Dragger (cuja carreira foi ressuscitada pelo selo da loja, Delmark Records, que o contratou). Na Waterloo Records, em Austin, Texas, o guitarrista Johnny Winters deu provavelmente sua última entrevista para a televisão (ele morreu em julho deste ano). No ensolarado Havaí, na Hungry Ear Records, especializada na doce sonoridade das ilhas, Taj Mahal surge na tela com um ukelele, comparando o instrumento local ao cavaquinho, que garante ter aprendido a tocar no Brasil.

E na Mississippi Records, curiosamente localizada em Portland, um exemplo extremo: a loja, fundada há 11 anos e que possui um selo homônimo, não tem presença alguma na internet. "Nunca encontrei motivo para estar na internet", explica Eric Isaacsson, o dono. "Vendemos apenas vinil e somos um ponto de encontro para artistas e consumidores locais. Jamais pensei em crescer além do que poderia. Estamos bem assim e acho que a chave de nosso sucesso é ter expectativas reais. Somos sustentáveis. Para os dias atuais, isso vale muito para uma loja de discos."

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