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Projetado por Vilanova Artigas, o Ouro Verde ainda não tem prazo para ser recuperado | Roberto Custódio / JL
Projetado por Vilanova Artigas, o Ouro Verde ainda não tem prazo para ser recuperado| Foto: Roberto Custódio / JL

Histórias do teatro transformadas em pó

O Cine Teatro Ouro Verde é fruto de um dos mais fervilhantes períodos da história de Londrina. Uma época de prosperidade e desenvolvimento, quando a cidade ostentava o título de capital mundial do café – o ouro verde que deu nome ao teatro. O incêndio levou ao chão lembranças e memórias afetivas de encontros, peças, espetáculos, shows e concertos. A notícia percorreu o mundo e sensibilizou a classe artística, principalmente aqueles que um dia pisaram naquele palco. Atores, diretores, músicos e maestros lamentaram a tragédia, relembrando momentos vividos ali.

O pianista Marco Antônio de Almeida, diretor do Festival de Música de Londrina, estava na Alemanha no dia do incêndio e recebeu a notícia por meio de um e-mail enviado pelo maestro japonês Daisuke Soga. "Fiquei de olhos marejados. Lembro-me de tocar lá de calças curtas ainda. Eu cresci lá dentro", conta Almeida.

"Recebi a notícia como se estivesse perdendo alguém da família. Fica um vazio, uma tristeza", conta o ator Ney Latorraca, que se apresentou no Ouro Verde ao lado de Marco Nanini, com o espetáculo Irma Vap.

O dramaturgo Mário Bor­­tolotto também ficou comovido com o acidente. "O Ouro Verde foi o local da minha formação. Lá, eu vi filmes que mudaram a minha vida. Lembro da estreia de Nossa Vida Não Vale um Chevrolet. E me lembro também do dia que as pessoas quebraram as cadeiras, no show do Made in Brazil."

Colaborou Fábio Luporini, do Jornal de Londrina

Quando um incêndio consumiu o Cine Teatro Ouro Verde, em 12 de fevereiro – causado por um curto-circuito, segundo o laudo técnico –, o fogo destruiu também parte significativa da história de Londrina. No meio artístico, todos os esforços estão sendo empregados para que a agenda de eventos não seja interrompida pela falta do principal espaço cultural. Os mais otimistas sacodem a fuligem e veem o acidente como uma oportunidade de descobrir e explorar espaços alternativos na cidade.

Ainda não se sabe quanto vai custar reerguer o Ouro Verde, nem quando essa reconstrução deve começar. A Universidade Estadual de Londrina (UEL), proprietária do teatro, aguarda visita técnica do Patrimônio Cultural. "No início de abril vamos receber engenheiros e restauradores que vão orientar sobre o que deve ser removido e o que deve ser preservado", conta a vice-reitora, Berenice Jordão.

Enquanto isso, das cinzas que restaram do prédio projetado por João Batista Vilanova Artigas, brota o esforço de artistas e agentes culturais para manter o calendário da cidade, sempre tão atrelado ao Ouro Verde. O Festival de Música de Londrina (FML), por exemplo, vai transferir os grandes concertos para a Catedral Metropolitana. O Museu Histórico Padre Carlos Weiss, localizado na antiga Estação Ferroviária, será um palco ao ar livre para as apresentações. Outros eventos do festival serão realizados no Museu de Arte, no Teatro Zaqueu de Mello, além de shoppings, penitenciárias e hangares do aeroporto. "A falta do Ouro Verde me desafia, como diretor do festival, a valorizar outros espaços que certamente mostrarão uma nova antiga Londrina histórica", afirma Marco Antônio de Almeida, diretor do FML.

Para que o Ouro Verde não fique de fora de um dos seus eventos mais tradicionais, o maestro japonês Daisuke Soga está compondo a Sinfonia Phoenix. Ela será apresentada durante o Festival de Música, em julho, em frente ao Ouro Verde, em homenagem ao teatro que Soga espera que renasça das cinzas como mítica ave.

Filo

O Festival Internacional de Londrina (Filo) começa em junho e não terá o seu palco principal. "Estamos tentando trabalhar a programação de forma que não precisemos de um palco tão grande, sem interferir no perfil do festival", diz o diretor do Filo, Luiz Bertipaglia. Os espetáculos maiores serão realizados no Teatro Marista, que comporta o mesmo público do Ouro Verde, mas com palco de menores dimensões. "Não tem as mesmas características técnicas que a gente encontrava no Ouro Verde, mas temos que recorrer a essas alternativas", lamenta. Os espetáculos de rua serão ampliados. "Estamos tendo que garantir uma dose a mais de criatividade para driblar a falta do Ouro Verde", conta Bertipaglia.

A Orquestra Sinfônica da UEL, que desde 1984 se apresentava mensalmente no Ouro Verde, também teve de conseguir uma nova casa. Com a primeira apresentação do ano marcada para 22 de março, a orquestra se mudou para o Teatro Marista. "Conseguimos cinco datas no Teatro Marista. No resto, estamos sem definição", conta o músico Cí­­cero Cordão, coordenador da orquestra.

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