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Josh Holloway em cena de "Lost" | Divulgação
Josh Holloway em cena de "Lost"| Foto: Divulgação

O último episódio do seriado de tevê Lost, que será exibido hoje (25) no Brasil pelo canal a cabo AXN, terá clima de reprise. Desde à 0h30 de segunda-feira (24), quando os créditos finais da série pipocaram pela última vez no canal americano ABC, uma torrente de comentários começou na internet e avançou para a televisão e a imprensa escrita.

Provavelmente este não é o primeiro comentário sobre Lost que você lê, e certamente não será o último. Um número alto, porém impreciso de brasileiros assistiu ao episódio final on-line, no mesmo instante em que o episódio era transmitido nos Estados Unidos. Outro tanto fez o download do programa.

Embora a pirataria em massa de Lost possa parecer prejudicial para a indústria do entretenimento, foi de fato um dos principais motivos do sucesso do seriado. Lost avançou sobre o modelo ultrapassado de transmissão de tevê, que obriga o espectador a correr à tevê em dia e horário específicos. Desde a invenção da televisão, no final dos anos 40, esta é a única característica do meio que permanece imutável.

Por enquanto.

A principal contribuição de Lost para a mecânica do broadcast foi o salto de fé em eliminar alguns mecanismos tradicionais de difusão. Sem a obrigatoriedade de segurar o público em casa em um dia de semana à noite, Lost se libertou para criar inovações narrativas que devem ser reproduzidas no futuro próximo.

A tábua das leis de um roteiro de seriado ordena que cada episódio tenha uma história concluída no mesmo capítulo (o que os roteiristas chamam de "arco narrativo fechado"); mas que agregue informações para a longa trama, aquela que só se encerra no fim do seriado. Lost eliminou os arcos menores e se concentrou apenas na grande história. Só é possível entender o seriado assistindo a todos os episódios ordenadamente. É um avanço inclusive sobre telenovelas, que tem núcleos de personagens nascendo e amadurecendo ao longo de toda a saga.

Os produtores só puderam fazer isso porque em 2004, quando o seriado começou, as mídias de suporte já estavam desenvolvidas a ponto de guiar o seguidor confuso. A internet - com seus downloads, fóruns de discussão e bancos de dados colaborativos - amparou o espectador de uma história que desde o início abandonou linearidade, verossimilhança e convenções de gênero.

Restrita apenas à tevê tradicional, Lost se tornaria um emaranhado intransponível e afugentaria a audiência. Servindo-se da rede (ainda que o conteúdo tenha sido pirateado), Lost pôde desengessar o eixo emissor-receptor e criar uma comunidade em torno de si.

Alguns meses atrás, entrevistei o acadêmico norte-americano Steven Johnson, famoso por seus livros sobre cibercultura e cultura pop. Johnson acredita que a tecnologia, ao contrário de isolar os cidadãos, os tornou mais próximos - porém em vetores diferentes. Para ele, Lost é um exemplo de interação circular, em que – apesar de ser criado por uma elite cultural (os produtores) – é assimilado e retrabalhado pela comunidade de receptores, tornando-se quase um novo produto.

O episódio especial de 2h30 apresentado hoje é resultado desta experiência coletiva em torno dos mistérios da trama. O prazer ou a frustração que a resolução do mistério vai provocar dependerá menos das opções dos produtores e mais do horizonte de expectativa de quem assiste.

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