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McCarthy: autor de "A Estrada" vendeu a máquina de escrever que comprou em 1963 por 50 dólares. | Divulgação
McCarthy: autor de "A Estrada" vendeu a máquina de escrever que comprou em 1963 por 50 dólares.| Foto: Divulgação

Brandon Flowers. Rapaz norte-americano de 26 anos, nascido em Las Vegas e criado em uma comunidade mórmon (membros da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias) no estado de Utah. Tal perfil dificilmente seria atribuído a um dos mais dedicados e promissores vocalistas da safra roqueira pós-The Strokes e muito menos ao futuro candidato a um ícone do rock nos patamares de Freddie Mercury (1946 – 1991), finado vocalista do Queen.

Não tivesse sido sugado pela música – particularmente pelas letras que Morrissey escrevia quando à frente dos Smiths nos anos 80 –, Brandon Flowers certamente não seria nem uma coisa nem outra. Teria seguido os passos de seu irmão mais velho Shane, que, ao completar 19 anos, foi enviado ao Chile como missionário religioso em busca de novos fiéis (assim como o são os demais jovens criados em comunidades mórmons). Mas, no caso de Brandon, a velha história do garoto desviado da vida religiosa pelas "malignas" mãos do rock-n-roll se repetiu.

No papel de frontman do quarteto The Killers – que se apresenta na Pedreira Paulo Leminski, no dia 31 de outubro, em outra edição curitibana do Tim Festival (que ainda traz os ingleses do Arctic Monkeys) –, Flowers , autor de grande parte das canções de sua banda, vem cativando platéias imensas, graças a uma performance de palco bem pensada, uma banda formada por grandes amigos (que, por sua vez, são excelentes músicos) e ao talento de escrever letras tão ambíguas quanto as de seu ídolo de juventude.

Dividindo os holofotes com a islandesa Björk (também confirmada como atração do Tim Festival, embora ainda não para a edição local) na escalação do primeiro dia do Roskilde Festival, realizado no ínicio deste mês, na Dinamarca, o The Killers fez, sem sombra dúvida, um dos grandes shows do evento. Bastava reparar no ânimo da platéia de cerca de 20 mil pessoas que se amontoavam em frente ao Orange Stage (palco principal do festival) debaixo de uma gelada chuva e sustentados por pelo menos cinco centímetros de lama debaixo dos pés (ou melhor, das galochas).

Bem acompanhado pelos colegas Dave Keuning (guitarra e vocal), Mark Stoermer (baixo e vocal) e Ronnie Vannuci Jr. (bateria), mais um músico de apoio, Flowers dominou o imenso palco com seu jeito sério, vestido como seu mais novo personagem – uma espécie de maestro dourado e bigodudo, criado para esconder a timidez do delicado vocalista, que concedeu uma mini-coletiva de imprensa a três jornalistas brasileiros, cerca de 20 minutos antes de encarar a multidão que aguardava ansiosamente para cantar em uníssono hits como "Somebody Told Me" e "Smile Like You Mean It" (do début Hot Fuss, de 2004) e as novas "Read My Mind", "When You Were Young" e "For Reasons Unknown", de Sam’s Town, mais recente disco da banda, lançado no ano passado. Confira a seguir alguns trechos da entrevista.

Caderno G – Esta é primeira vez que vocês tocam no Roskilde Festival e já chegam como uma das atrações principais. Como se sentem em relação a isso?Brandon Flowers – Nunca havíamos saído dos EUA até termos a banda. Nenhum de nós tinha passaporte (risos). Eu nunca havia ido a um festival na minha vida. Tudo aconteceu muito rápido, mas estamos felizes. Nos sentimos sortudos.

Ao mesmo tempo, vocês dividem as atenções com bandas como The Who e Red Hot Chili Peppers, veteranas ainda capazes de compor boas canções e atrair multidões. Consegue imaginar o The Killers com tanto tempo de estrada? O que acredita ser necessário para que uma banda permaneça unida por décadas? Não sei porque eles conseguem ficar juntos por tanto tempo. Alguns fazem por dinheiro, outros porque não sabem fazer nada além de música e outros porque não têm mais nada pra fazer. Para o Killers, acho que o principal é a maneira como tratamos uns aos outros na banda, como nos damos bem e como conseguimos fazer boas músicas juntos.

Em termos de harmonias e arranjos as canções de Sam’s Town soam mais elaboradas que as do disco de estréia, Hot Fuss. Concorda com isso?Sim. Tanto que agora viajamos com um músico a mais, que toca guitarra, pois precisávamos de ajuda na turnê. Nós estamos melhores como músicos, logo, pudemos trabalhar mais as canções desta vez.

Isso muda algo em relação à performance da banda ao vivo? O show também está mais trabalhado?Acho que sim. Mas eu ainda estou aprendendo a me apresentar, pois não é algo natural. Acho que estou ficando mais confiante com o passar do tempo, mas ainda tenho muito a aprender. Assistimos ao show que fizemos em Glastonbury e outro na Noruega e vi que ainda tenho muito a melhorar. Pareço um pouco duro, travado, como se não estivesse confortável. Ainda não estou estou nem perto de parecer o Freddie Mercury lá em cima. Terei muito trabalho (risos).

As vendas de Sam’s Town, segundo álbum de vocês, foram melhores na Inglaterra do que nos EUA, ao contrário do que aconteceu com Hot Fuss. Como você interpreta essa mudança? Há muito ressentimento na América em relação ao nosso álbum. Não sei exatamente o motivo. Acho que é porque é um disco otimista e as pessoas não querem ouvir você falando sobre coisas boas. Você não recebe crédito nenhum, a menos que passe o tempo todo reclamando e eu não tenho muito sobre o que reclamar.

Acha que a produção dos artistas norte-americanos atualmente está, de certa forma, presa a um posicionamento político? Isso atrapalha vocês? De certa maneira sim, porque não falamos mal do (George W.) Bush. Sou otimista em relação à América. Amo a América e não tenho medo de dizer isso. Tenho orgulho de onde venho. Adoro voltar para casa. Há muita gente falando sobre como gostaria de mudar para outro país e tal. Então mudem-se! São apenas um ou dois líderes que causam esse tipo de reação, mas os americanos continuariam sendo as mesmos, não importa quem seja o presidente. Acho que todos têm seus altos e baixos e acredito que conseguiremos sair dessa.

Mas não concorda que a música, em especial o rock-n-roll, possui um poder transformador nesse sentido, de mostrar às pessoas o que está acontecendo e como elas podem agir para mudar as coisas? Acho que a música pode mudar o universo de uma quantidade restrita de pessoas, o que já é uma grande coisa hoje em dia. Mas ela nunca terá a mesma força que teve nos anos 60, porque não há líderes como antes, como John Lennon ou Bob Dylan. O mais perto que temos disso é o Bono (U2), que faz o que pode e bastante bem.

E quanto ao Brasil? O que espera encontrar no país?Estou bem animado. Estivemos duas vezes no México e há muitos sul-americanos vivendo nos EUA, na minha opinião, as pessoas mais amigáveis que já conheci.

A repórter viajou à Dinamarca a convite da produção do Tim Festival

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