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McCain é conhecido como maverick, adjetivo que faz referência a sua fama de independente dentro do Partido Republicano | Saul Loeb/AFP
McCain é conhecido como maverick, adjetivo que faz referência a sua fama de independente dentro do Partido Republicano| Foto: Saul Loeb/AFP
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Não se entende John McCain sem conhecer sua história como prisioneiro de guerra no Vietnã. É nela que está baseada sua imagem de guerreiro nacional, com a qual ascendeu na vida pública. Filho e neto de almirantes, McCain foi piloto da Marinha durante o conflito asiático. Numa missão em 1967, aos 31 anos, sobrevoava Hanói quando uma das asas de seu avião foi atingida por um míssil. Com os dois braços e um joelho quebrados, sobreviveu à queda da aeronave e foi capturado. Passou cinco anos e meio na prisão de Hoa Lo – apelidada pelos norte-americanos de "Hanoi Hilton" –, onde foi repetidamente torturado e teria tentado se suicidar.

De volta aos EUA, sua história ficou conhecida pelos americanos numa longa reportagem de 13 páginas da revista US News & World Report. Vieram à tona as histórias do cativeiro. Seu heroísmo não foi ter sobrevivido à meia década de maus-tratos, e sim a maneira com a qual encarou a prisão. McCain se recusou a aceitar a liberdade enquanto os outros companheiros que estavam há mais tempo na prisão não fossem soltos. Conseguiu o que queria, mas teve de assinar uma declaração se dizendo um "criminoso violento". "Todo meu orgulho estava perdido e eu tinha dúvidas se um dia conseguiria me defender novamente", escreveu ele no seu livro autobiográfico, Faith from My Fathers (Fé dos Meus Pais, em tradução livre).

É uma história que seduz o público americano. A idéia de guardião da moral em um guerra deplorada internamente ficou para sempre associada a sua imagem. Foi com ela que McCain chegou à Casa de Representantes e, mais tarde, ao Senado americano.

Em 1980, McCain se casou com Cindy, uma bela milionária do Arizona. Mudou-se para o estado natal dela. Dois anos depois, surgiu a oportunidade tão esperada para entrar na política. Com o dinheiro da mulher, os dois compraram uma casa num distrito em Phoenix, onde abrira uma vaga para deputado em Washington. A medida oportunista foi criticada pelos seus adversários. E aí McCain deu mostra da eloqüência que têm impressionado jornalistas desde então. A história foi contada num longo perfil sobre o candidato na edição de 12 de junho do The New York Review of Books.

Para responder as acusações de que teria se mudado apenas para poder concorrer a uma vaga no Congresso, McCain respondeu: "Escute aqui, colega. Eu passei 22 anos na Marinha. Meu pai foi da Marinha. Meu avô foi da Marinha. Nós militares tendemos a nos mudar bastante. Temos que viver em todos os lugares do país, em todos os lugares do mundo. Eu gostaria de ter tido o luxo, como você, de ter crescido e vivido toda a minha vida num lugar tão bom quanto o Primeiro Distrito do Arizona, mas eu estava fazendo outras coisas. Na verdade, pensando bem, o lugar onde eu morei por mais tempo foi Hanói." O biógrafo de McCain, o editorialista do Los Angeles Times Matt Welch, diz que a afirmação não é bem verdade. Em épocas alternadas, o republicano teria vivido quase uma década na Virginia.

Além de ser mais politicamente incorreto do que a maioria dos seus colegas em Washington, McCain também impressiona pelo seu histórico no Senado. Foi lá que ele consolidou a fama de maverick – o dissidente, o político independente que está mais preocupado em defender suas próprias convicções do que agradar o partido. Foi um dos primeiros a defender o corte na emissão de carbono, quando o aquecimento global ainda nem era "moda". Foi a favor da invasão do Iraque, mas também foi o primeiro a criticar Bush pela forma como o conflito estava sendo conduzido (com poucas tropas). Tem uma posição mais leve em relação à imigração do que o típico republicano.

Muitos dizem que a idéia de maverick é apenas um mito, como o próprio Welch (seu livro é intitulado McCain – O Mito de um Dissidente). Para ele, McCain foi muito influenciado pela idéia do pai e do avô, ambos defensores do modelo britânico de imperialismo do século 19. A premissa de que o Exército deve ser utilizado para tornar o mundo mais seguro para a democracia. McCain pode ser, segundo Welch, tão ou mais intervencionista do que Bush. Também há quem discorde. Para a professora de Relações Internacionais da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp) Cristina Pecequilo, McCain é o velho que representa o novo dentro do Partido Republicano. "Ao lado de Obama, McCain faz parte de uma eleição em que o típico conservadorismo americano do governo Bush não tem vez."

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