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Marcos Valle foi “redescoberto” graças à cena eletrônica no Reino Unido | Divulgação
Marcos Valle foi “redescoberto” graças à cena eletrônica no Reino Unido| Foto: Divulgação

Novo disco retoma trabalhos dos anos 1970

Estática é o quarto disco de Marcos Valle feito para a gravadora inglesa Far Out, a mesma de discos recentes de Joyce e Azymuth. Lançado na Europa no ano passado, ganha agora edição nacional da EMI, aproveitando o bonde dos relançamentos de seus discos dos anos 60 e 70 da Odeon. Faz sentido: neste seu mais novo álbum, Valle esbanja intentos de originalidade, claramente buscando o elemento mágico de discos como Previsão do Tempo, lançado em 1973, tão famosos nessa época de redescoberta de sua música. O que esperar de quem sempre surpreende? Se hoje seu som não é o mesmo, ao menos não se pode acusá-lo de passadismo.

Tocando piano e piano elétrico, cercando-se de arranjos com cordas e sintetizador, Valle encontra um som plástico, moderno, como no groovezinho pa-pa-pa de "Esphera’’ e nas vinhetas instrumentais "1975’’, "1985’’ e "1995’’, não ne­­­­­­ces­­­sariamente nessa ordem.

Outras músicas novas, além de tradicionais letras de seu irmão Paulo Sérgio, incluem a parceria com Joyce, "Papo de Maluco’’, as composições com Marcelo Camelo, "Eu Vou’’, "Vamos Sambar’’ e "Esphera’’, e a instrumental faixa-título.

Desde que era um nome da segunda geração da bossa no­­­va até seu auge em discos inclassificáveis e geniais em muitos aspectos (como som, produção, composições, conceito, capas), do começo dos anos 70, o impressionante da música de Marcos Valle sempre foi o frescor criativo. Precioso ver como seu vigor loiro, carioca e altamente musical chega aos 67 anos.

Serviço

Estática, de Marcos Valle. Far Out/EMI . Preço médio: R$ 25.

Folhapress

A caixa Marcos Valle Tudo, que chega às lojas no próximo mês, é o documento de uma metamorfose. Em 11 álbuns, gravados na Odeon entre 1963 e 1974, é possível acompanhar a caminhada do músico carioca: de discípulo de João Gilberto a, simplesmente, Marcos Valle. Ele se tornou um gênero na música brasileira – como também são Jorge Ben Jor, João Donato e outros artistas-inventores, que não se parecem com nada, a não ser com eles mesmos.

A transformação se deu em 1969, quando gravou o LP Mustang Cor de Sangue. Ali, o músico se libertou da estética banquinho e violão e se entregou a um arsenal referências rock, black e pop. Valle tinha 15 anos em 1958, quando ouviu a tal batida pela primeira vez. O impacto do mo­­­mento fez com que jogasse no baú da memória o resto, tudo o que ouvira até então nos discos de casa. Eram coletâneas compradas pelo pai. Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro e Maysa. E as coisas que a mãe pianista ou­­­via. Música clássica.

Na caixa, há tudo isso. Há também o inédito The Lost Sessions, descoberto nos porões da EMI (ex-Odeon) por Charles Gavin, ex-Titãs e idealizador do projeto. As gravações são de 1966 e formariam o terceiro LP do cantor na Odeon, caso ele não tivesse partido para uma temporada nos EUA. "Quando voltou, já estava interessado em outro som’’, diz Gavin.

Grilos

Valle atravessou os anos 1990 sem lançar discos. Só recebia convites para regravar os próprios sucessos dos anos 1960. Naquele período, o Brasil se dedicou a revisitar a bossa nova. "Gosto de coisas novas. Foi um momento de parada mesmo. Fiquei até preocupado’’, diz. "Mas, de repente, veio essa recompensa lá de fora. Valeu a pena.’’

Naquela década, uma gravação sua da canção "Os Grilos’’ foi descoberta por DJs na Inglaterra. "Eu fui saber disso em 1994, quando a [cantora] Joyce me contou que estava acontecendo’’, lembra. Joyce tinha passado pelo mesmo processo.

"Os Grilos’’ virou música de pista. Primeiro nos clubes ingleses. Depois, seguiu para a Itália e se espalhou pela Europa inteira, chegando ao Japão. O mercado internacional se abriu para o compositor. E, consequência natural, também o mercado do Brasil. "Na volta, os meninos brasileiros começaram a se dizer influenciados por mim.’’ Ele se refere aos cariocas Kassin e Domenico, do coletivo +2. E Marcelo Camelo, da banda Los Hermanos, que se tornaria parceiro no novo Estática, que também sai agora no Brasil.Valle está disponível de novo.

Serviço

Marcos Valle Tudo Artista. Caixa com 11 álbuns. EMI. Preço médio: R$ 160.

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