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Um tanto banalizada, a palavra espetáculo retoma seu vigor quando o assunto é Maria Bethânia. Seus shows são verdadeiras celebrações, com direito a músicos do primeiro time, direção afiada, cenografia elegante e, é claro, performances arrebatadoras. Artigos que hoje são raros entre os medalhões da MPB, boa parte deles perdida em meio aos fatídicos "projetos especiais" – na verdade, propostas de shows e discos mais econômicos, baseados em regravações e sacados da manga para driblar a crise do mercado.

Mas, para Bethânia, de 59 anos, as idéias só funcionam se forem grandiosas, ambiciosas. Por isso, mesmo seu "projeto especial" com releituras para a obra de Vinicius de Moraes (o CD Que Falta Você me Faz) passou longe de qualquer esforço oportunista. Recém-lançado em DVD pela gravadora Biscoito Fino, o show inspirado no disco é a prova de que a artista continua única, alheia aos modismos e tendências da indústria.

Comemoração

Para início de conversa, Tempo Tempo Tempo Tempo – título do espetáculo e do DVD – não traz apenas as músicas do poetinha gravadas por Bethânia no início do ano. Idealizado para comemorar os 40 anos de carreira da intérprete, o show conta com um repertório de 43 canções, entre trechos, citações e temas cantados na íntegra. São mais de duas horas de material, dirigidas pela encenadora Bia Lessa e fotografadas por Lauro Escorel. As gravações aconteceram em São Paulo, no CIE Hall, no dias 12, 13 e 14 de agosto (os curitibanos assistiram ao espetáculo no Guairão, no dia 27 de abril).

Sem perder o pique um segundo sequer, a cantora passeia por um pouco de tudo o que interpretou ao longo dos anos. A lista de compositores incluídos nos créditos parece não ter fim: Chico Buarque, Gonzaguinha, Rosinha de Valença, Raul Seixas e Paulo Coelho, Benito de Paula, Almir Sater, D. Ivone Lara, Jards Macalé, Baden Powell, João do Vale, Toquinho, Garoto, Capinam, Maysa... Sem contar o mano Caetano, que batiza o show com um verso da música "Oração ao Tempo".

O equilíbrio e a unidade entre tantas referências distintas vem dos arranjos do maestro Jaime Alem, diretor musical do espetáculo e velho colaborador de Bethânia. Mas, no fim das contas, quem dá liga ao repertório é a própria cantora, que usa e abusa de sua teatralidade para juntar alhos e bugalhos – quem mais se arriscaria a interpretar, em seqüência, "Volta por Cima" (Paulo Vanzolini), "Vem Quente que Eu Estou Fervendo" (Carlos Imperial e Eduardo Araújo) e "Mulher Sempre Mulher" (Tom Jobim e Vinicius de Moraes)?

Intimidade

Para os fãs, Tempo Tempo Tempo Tempo ainda traz um agrado especial nos extras. Trata-se de um registro da artista em sua casa, no Rio de Janeiro, envolvida com canções e livros. Acompanhada pela viola de Jaime Alem, ela canta "Tocando em Frente" (Almir Sater e Renato Teixeira), "Canto do Pajé" (Heitor Villa-Lobos) e "Tristeza do Jeca" (Angelino de Oliveira).

Entre uma música e outra, Bethânia pega livros na estante e recita trechos a esmo. Bem-humorada, revela que nunca teve pretensões intelectuais. Abre os volumes em uma página qualquer e, se lê algo de que goste, marca para uma consulta posterior. É a diva flagrada na intimidade, alimentando a força que a acompanha no palco.

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