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Maria Rita: mais livre, leve e solta | Marcos Hermes/Divulgação
Maria Rita: mais livre, leve e solta| Foto: Marcos Hermes/Divulgação

É um prazer enorme, em tempos nos quais muitos artistas se levam demais a sério, presenciar alguém talentoso ir na contramão dessa tendência por vezes irritante. É o caso da cantora Maria Rita, que se apresentou no último sábado em Curitiba, no palco do Teatro Positivo.

Havia assistido ao seu show de estréia, e, embora seu potencial já fosse visível e inegável, igualmente perceptível era o peso das expectativas sobre seus ombros. Filha de Elis Regina, por muitos considerada a melhor intérprete que o país já teve, Maria Rita tinha muito a oferecer, apesar de não parecer confortável na posição de diva instantânea à qual havia sido alçada.

A cantora que vi no último sábado pouco ou nada tem a ver com essa aura messiânica de "salvadora da MPB" que injustamente lhe atribuíram. Parece ao mesmo tempo mais jovem e mais senhora de seu destino. Aos 30 anos, decidiu deixar o cabelo crescer, despiu as roupas largas, que lhe escondiam o corpo como uma armadura de proteção, e caiu no samba. Está mais descontraída, feliz e cheia de ginga.

O resultado dessa libertação foi o rejuvenescimento do comportamento de seu público. Embora sempre tenha tido fãs jovens, seus admiradores agora não a tratam mais de forma reverente e solene. Gritam seu nome, cantam junto e, sobretudo, se enxergam nela, em vez de colocá-la em um altar como uma santa. Sorte de Maria Rita.

Da abertura do show em registro a cappella ao bis, uma versão cover e emocionante de "Não Deixe o Samba Morrer" (clássico do repertório de Alcione), a platéia fez coro espontâneo em quase todas as canções do roteiro, extraídas dos repertórios de seus três álbuns. Mesmo um pouco rouca, por conta de uma gripe forte que "estava no princípio do fim", Maria Rita demonstrou total controle da situação. E, se ela insiste em dizer que não é do ramo, o samba de Maria Rita é absolutamente convincente, superando, inclusive, o que se ouve no seu terceiro álbum, mais contido, apesar de muito bom.

Na saída do teatro, havia quem dissesse que a cantora está "dando uma de Ivete Sangalo". De certa forma, isso é verdade. Maria Rita está, de fato, em um momento "mais povão", acessível mesmo. E qual é o problema nisso? Seu repertório, no entanto, continua pontuado por canções de qualidade, adequadas ao seu belo timbre e à qualidade técnica de seu canto. Está anos-luz à frente da música de festa genérica que recheia os discos da diva baiana.

Homens de preto

Para não dizer que a noite de sábado não foi perfeita, vale um comentário sobre a "eficiência" dos seguranças do Teatro Positivo, todos muito educados e elegantes. Como a tônica do show de Maria Rita era o samba, o público quis dançar, cantar junto. E, toda vez que ousava pisar nos corredores para mexer o esqueleto com mais liberdade (ou sacava a câmera e o celular para clicar a cantora), "os homens de preto" entravam em ação, tirando um pouco a atenção do show. Estavam cumprindo seu dever com eficiência, mas, de certa maneira, contradiziam a alegria do show que acontecia sobre o palco. Algo a se pensar a respeito.

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