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O Silêncio de Lorna conta a história de uma jovem albanesa que se casa com um viciado em heroína belga para conseguir um passaporte da União Européia |
O Silêncio de Lorna conta a história de uma jovem albanesa que se casa com um viciado em heroína belga para conseguir um passaporte da União Européia| Foto:

Filmografia básica

Conheça os principais filmes dos irmãos Jean-Pierre e Luc Dardenne e de Olivier Assayas

Jean-Pierre e Luc Dardenne

Rosetta (1999)

O Filho (2002)

A Criança (2005)

O Silêncio de Lorna (2008)

Olivier Assayas

Irma Vep (1996)

Alice e Martin (1998)

Clean (2004)

Horas de Verão (2008)

  • Horas de Verão usa uma família francesa como metáfora da Europa
  • Jean-Pierre e Luc Dardenne são expoentes do novo cinema realista e engajado

O cinema europeu está preocupado. E dessa vez não é com o espaço ocupado no circuito exibidor pela produção hegemônica de Hollywood. Nos filmes mais recentes de importantes diretores do Velho Continente percebe-se a recorrência de temas como a perda de referências culturais resultante do processo de globalização e o dilema que muitos países vêm enfrentando com a crescente chegada de imigrantes ilegais, oriundos de diversas partes do mundo.

Exemplos dessa onda politizada são O Silêncio de Lorna, dos irmãos belgas Jean-Pierre e Luc Dardenne, e Horas de Verão, dirigido pelo francês Olivier Assayas . Ambos foram exibidos na 32.ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, encerrada na última quinta-feira, e serão lançados comercialmente no Brasil.

Duas vezes vencedores da Palma de Ouro em Cannes, por Rosetta (1999) e A Criança (2005), os irmãos Dardenne tiveram o excelente roteiro de O Silêncio de Lorna premiado no festival francês, láurea mais do que merecida. Os cineastas belgas vêm se firmando como expoentes de um cinema realista, sem maiores firulas visuais, e voltado para temas sociais palpitantes na Europa contemporânea, como desemprego, tráfico de imigrantes e desagregação familiar. Em seu mais recente longa-metragem, eles contam a história de Lorna, uma jovem albanesa que se casa com um viciado em heroína belga para conseguir um passaporte da União Européia.

Os Dardennes, em seu habitual estilo seco, enxuto, sem uso de trilha sonora e sempre evitando potencializar demais as suas já dramáticas tramas, retratam em detalhes o "contrabando" de imigrantes na Bélgica. Lorna, vivida por Arta Dobroshi, é manipulada o tempo todo por Fabio (Fabrizio Rangione), traficante de pessoas que a casou com Claudy (Jérémie Renier) com segundas intenções. Pretende matar o drogadito, forjando uma overdose, para que a moça, já cidadã belga, possa "vender" um casamento ao imigrante ilegal russo Andrei.

Lorna, por sua vez, tenta juntar dinheiro para que possa abrir uma lanchonete com o namorado, o também albanês Sokol (Alban Ukaj), que vive ilegalmente em Milão, na Itália. O que ela não prevê é que entre ela e Claudy, que tenta abandonar as drogas com sua ajuda, brote um vínculo de afetividade.

Embora os imigrantes do Leste Europeu não pertençam a minorias tão visíveis – como africanos, árabes ou latino-americanos negros e de origem indígena –, os diretores de O Silêncio de Lorna revelam que a ilegalidade, a dificuldade no domínio do idioma e a defasagem educacional e profissional também os condenam à marginalidade. E num ambiente cada vez mais hostil à presença estrangeira.

Velha Continente

Horas de Verão tem em comum com o filme dos irmãos Dardenne o ótimo ator Jérémie Renier, que no longa de Olivier Assayas (de Clean) vive o papel de Jérémie, o irmão mais novo de Frédéric (Charles Berling) e Adrienne (Juliette Binoche).

A trama tem início no aniversário da matriarca Hélène (Edith Scob), que recebe os três filhos e suas respectivas famílias na casa de campo onde vive com uma empregada. Aos 75 anos, ela pressente a proximidade da morte, o que a leva a ter uma conversa franca com Frédéric sobre o que ele e os irmãos irão fazer com o patrimônio que herdarão.

Além da casa, sua grande preocupação são os móveis, objetos e obras de arte que antes pertenceram ao tio de Héléne, um grande pintor com quem ela manteve uma secreta história de amor por anos depois da morte do marido.

Co-produzido pelo Musée D’Orsay, um dos mais importantes museus de arte de Paris, o filme discute, nas entrelinhas, alguns aspectos interessantes. O mais importante é a possibilidade de o patrimônio cultural europeu, representado pelo espólio de Hélène, ser fragmentado e disperso. Adrienne, designer radicada nos EUA, quer vender as obras do tio-avô em Nova Iorque. Jérémie trabalha para uma multinacional na China, onde pretende se instalar de vez com a mulher e os filhos. Não tem qualquer interesse em preservar os bens herdados.

Se o personagem de Hélène for interpretado como a velha Europa e Jérémie, Adrienne e Frédéric (o mais velho e o único apegado ao legado familar) como a nova faceta do continente, percebe-se aonde Assayas pretende chegar. Com sutileza, o diretor discute a perda de referências, a aculturação de uma civilização fortemente influenciada pelos Estados Unidos e de certa forma ameaçada por uma potência em ascensão como a China.

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