Memória, sarau e política

• 0

Passado o alvoroço da Virada Cultural, sobra uma boa variedade de peças em cartaz na cidade. Grande parte já teve apresentações no fim de semana, mas foi ofuscada pela quantidade de atrações que tomou Curitiba no sábado e domingo. Com as ruas cheias para os shows gratuitos, os espectadores restantes se dispersaram, sem lotar as dezenas de teatros abertos. Agora que o cenário musical se acalmou um pouco, a Corrente Cultural segue com uma programação teatral intensificada.

Ainda hoje, o ator Luiz Bertazzo faz as duas últimas apresentações de Homem Piano – Uma Instalação para a Memória, às 18 e às 20 horas. O espetáculo começa na Rua São Francisco, por onde ele perambula, chamando o pú­­blico a acompanhá-lo porta aden­­tro da sede da CiaSenhas.

A ideia da encenação veio do noticiário sobre um suposto pianista encontrado sem memória em 2005, numa praia do Reino Unido. Dessa matriz factual, a companhia extrai o material sensível. Sobretudo, a memória afetiva, que o espectador é convidado a partilhar com o intérprete em uma relação que se aprofunda enquanto percorrem os andares do prédio.

Já A Armadilha de Teatro reinventa um espetáculo divisor de águas na carreira do diretor Diego Fortes. Delicatessen, em cartaz de hoje a domingo no Espaço Cênico, parte do roteiro de Café Andaluz (2005), destituído de algumas poucas cenas e acrescido de novos fragmentos.

São escritos dos curitibanos Alexandre França e Luiz Felipe Leprevost, de Manoel Carlos Karam (autor de Bolacha Maria e Guerra aos Taedos), e dos argentinos Roberto Juarroz e Julio Cortázar, encaixados entre as cenas para dialogar livremente com os que já estavam presentes no es­­petáculo original.

A música é executada ao vivo. Gilson Fukoshima (do Denorex e Grupo Fato) fez a direção musical, adaptando a trilha para o teclado de Marcelo Torrone, o acordeão e a escaleta de Edith de Camargo, a guitarra e o xilofone de Luciano Grigolett, a percursão de Rodrigo Spinardi e a voz da atriz e cantora Chiris Gomes.

"Não queria usar a palavra 'sa­­rau' para as pessoas não se assustarem, mas é uma coleção de poemas e textos, uma colagem de coisas bonitas e sensíveis", diz Fortes.

Também no Espaço Cênico acontece o projeto Outras Leituras. Amanhã, às 20 horas, a atriz Sílvia Monteiro repete as palavras de Mar Paraguayo, de Wilson Bueno, lidas por ela anteriormente no Teatro da Caixa, sob a direção de Nadja Naira.

No sábado, às 10 horas, o texto ouvido será Murro em Ponta de Faca, do Augusto Boal.

A diretora Nena Inoue planeja para o ano que vem montar a peça, provavelmente atuando em companhia de um elenco curitibano, e com Paulo José na direção. Domingo, no mesmo horário, Nena e Gabriel Gorosito comandam juntos a leitura de Cartas da Prisão, de Frei Betto. Com os dois textos, ela leva adiante o viés político que tem sido a marca do Espaço Cênico nos últimos anos, dentro do Projeto 70.

Serviço:

Delicatessen – Com A Armadilha. Dias 11, 12 e 13, às 22h, e dia 14, às 21h. Mar Paraguayo – Direção de Nadja Naira. Dia 12, às 20h. Murro em Ponta de Faca – Direção de Nena Inoue. Dia 13 às 19h. Cartas da Prisão – Direção de Nena Inoue e Gabriel Gorosito. – Dia 14, às 19h. Espaço Cênico (R. Paulo Graeser Sobrinho, 305), (41) 3338-0450. Entrada franca.

Homem Piano. CiaSenhas (R. São Francisco, 35), (41) 3222-0355. Dia 11 às 18h e 20h.