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A canadense da pequena Nanaimo, no Canadá, apresenta hoje, no Teatro Positivo, show em que inclui canções como “Samba de Verão/So Nice” e “Garota de Ipanema” | Divulgação/Assessoria de Imprensa
A canadense da pequena Nanaimo, no Canadá, apresenta hoje, no Teatro Positivo, show em que inclui canções como “Samba de Verão/So Nice” e “Garota de Ipanema”| Foto: Divulgação/Assessoria de Imprensa

Quando Diana Krall nasceu, em 1964, a bossa nova já havia conquistado definitivamente os Estados Unidos e Tom Jobim e João Gilberto já tinham seus nomes inscritos no panteão da fama do jazz. A garota canadense nascida em Nanaimo, na Colúmbia Britânica, cresceu cercada de discos de jazz, com pai e mãe pianistas e um tio que imitava Bing Crosby nos almoços de domingo na casa da avó.

Quando começou a tocar profissionalmente num restaurante da cidade, aos 15 anos, a fusion era a linguagem vigente do jazz, mas ela se sentia mais atraída pelo repertório retrô dos standards, na onda nostálgica de outros jovens intérpretes, como Harry Connick Jr e John Pizzarelli. "Fui criticada por cantar músicas antigas, das décadas da Depressão e da Guerra, mas de alguma forma são canções políticas (não à maneira de um Dylan) e se adaptam à vida de hoje."

A partir desta opção, não seria de estranhar a incursão de Diana também pelos standards da bossa nova. Declarando-se apaixonada pelo som brasileiro desde a adolescência — não só a bossa, mas Sérgio Mendes e outras coisas que ouviu em quatro viagens anteriores ao país, a garota de Nanaimo desta vez resolveu mergulhar de cabeça nas águas de Ipanema. Com uma equipe de filmagem, começou a rodar um DVD que incluiu saraus em seu hotel carioca com músicos locais, passeios pela praia e até uma visita "à arvore do Tom Jobim," no Jardim Botânico, e será complementado pelo repertório de um CD já gravado — que vai de Rodgers & Hart a Cole Porter, da bossa a Bacharach, e dos Beatles aos Bee Gees — em apresentações ao vivo no Rio (30, 31 de outubro e 1º de novembro), em Curitiba (hoje, às 21 horas) e em São Paulo (dia 5).

Uma sala imensa de 3,5 mil lugares, cheia de convidados, jovens executivos falantes e garçons circulando ruidosamente entre as mesas, não é o espaço ideal para a arte intimista de Diana Krall. Fiquei pensando nas explosões de raiva de Miles e Mingus, que muitas vezes abandonavam o palco e quebravam tudo nas boates; na música sofrida de uma Billie Holiday, cujo meio século de morte será lembrado no ano que vem. O que tem a ver com tudo isso aquela loura bonitona de 43 anos, que entra em cena com um sorriso alvo e um vestido cintilante — uma loura gelada, na melhor tradição de Hollywood? Mas Diana Krall é apenas um vulcão adormecido, capaz de entrar em erupção a qualquer momento. E inicia o show profissionalmente, com um swinger para calar a boca de todo mundo. Na primeira conversa com a platéia, revela-se simples e cativante, fala da saudade dos filhos — que ficaram com o marido, Elvis Costello, em Vancouver —, os gêmeos Dexter e Frank, com menos de dois anos, de como gostaria de ver seus pezinhos pisando a areia fina de Ipanema.

Touché!

A guitarra de Anthony Wilson passeia por "Manhã de Carnaval" na introdução de "Let’s Fall in Love", que inclui a citação já clássica de "Strictly Confidential", de Bud Powell. Do mesmo CD de 1999, When I Look in Your Eyes, ela canta "Let’s Face the Music and Dance", "The Devil May Care" e "I’ll String Along With You", seguida por outra do repertório de Nat King Cole, "Exactly Like You". É a marca de continuidade no seu trio de agora, pois o baterista Jeff Hamilton e o baixista John Clayton a acompanhavam desde então — ambos excelentes, o primeiro dando um show nas escovinhas, o segundo tocando com arco em algumas passagens.

O processo de enamoramento se completa quando Diana entra no repertório da bossa, com o "Samba de Verão/So Nice", dos irmãos Valle, faz a platéia cantar com ela "Corcovado/Quiet Nights" e a inevitável "Garota de Ipanema", e aventura-se (sem tropeços) na sua primeira interpretação em português, "Este seu Olhar". Os aplausos são cada vez mais calorosos. "We love you!", grita alguém da platéia. "I love you, too," responde Diana, com sinceridade tocante. A loura de alma negra encerra com um bis generoso sua homenagem cálida e reverente ao jazz e à bossa nova. A arte de Miles e Mingus, de Bud e Billie, de João e Tom encontrou nela uma digna sucessora, capaz de singrar serena as águas incertas do futuro.

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Serviço:

Diana Krall. Teatro Positivo – Grande Auditório (R. Pedro Viriato Parigot de Souza, 5.300), (41) 3317-3283. Dia 3, às 21 horas. Ingressos de R$ 73 a R$ 403. Meia-entrada para estudantes e idosos.

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