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O icônico “homem sem nome” que surge pela primeira vez em Por um Punhado de Dólares (1964) | Divulgação
O icônico “homem sem nome” que surge pela primeira vez em Por um Punhado de Dólares (1964)| Foto: Divulgação

Clint Eastwood vai fazer 80 anos. Isso mesmo: oi-ten-ta! Quem ainda crê que a terceira idade começa aos 60, tem licença de chamá-lo de "velho", "idoso", "ancião". Ele, provavelmente, não vai ligar. Do alto de suas oito décadas de existência, o ator e diretor norte-americano está em plena atividade, produzindo como nunca. Pelo menos como diretor – até segunda ordem Gran Torino (2008) teria sido sua derradeira atuação. Improvável. Sua vitalidade por trás das câmeras, contudo, faz lembrar o cineasta português Manoel de Oliveira, que completou seu centenário em 2008 e segue firme e forte, e vai exibir seu último longa-metragem, O Estranho Caso de Angélica, este mês no Festival de Cannes.

No dia 31 de maio, quando Eastwood comemorar seu aniversário, a imprensa dos Estados Unidos terá muito assunto, muito a celebrar. Afinal, ele é um dos últimos remanescentes de uma Hollywood que, perdoem-me os mais sonhadores, dá seus derradeiros suspiros. Ao lado de Martin Scorsese, o diretor Clint Eastwood traz no bolso, pelo menos até segunda ordem, a chave que deve trancar para todo o sempre o chamado "cinema clássico norte-americano", na tradição de grandes mestres como John Ford, John Huston, Howard Hawks e George Stevens.

Aqui, é preciso fazer uma pausa e explicar algo muito peculiar em relação a Eastwood. Não é ao mero acaso que, no parágrafo acima, falou-se do realizador, dando ênfase à faceta diretor de Eastwood. Isso se fez necessário porque, em seu caso, existe um outro Clint, tão importante, emblemático e icônico: o ator. E este também merece apagar suas 80 velinhas com pompa e circunstância.

Se Clint é um e outro, dois em um, qual seria o mais importante? Boa pergunta. A resposta pode até soar evasiva, covarde, mas é necessária: os dois são relevantes, essenciais. O diretor, provavelmente, não existiria não fosse o outro, o astro, que surge no universo do cinema na primeira metade da década de 1950, quando, até segunda ordem, o jovem californiano desempenhava na vida real outro papel: o de soldado. Foi vestindo farda, durante os anos da Guerra da Coreia, que seu porte, virilidade e beleza foram percebidos por Hollywood.

Eastwood, desde seus primeiros filmes, sempre foi um daqueles atores que, no fundo, vivem variações sobre um mesmo tema. Sinal de limitação? Talvez. Mas essa seria uma explicação simples demais para definir um artista que pertence àquele time de astros e estrelas cujas personalidades são tão fortes, marcantes mesmo, que os personagens por eles vividos acabam sendo construídos em torno dessas personas. Exemplos não faltam: John Wayne, Cary Grant e Jack Nicholson são alguns dos mais notáveis. Clint pertence a esse grupo e jamais pretendeu ser um ator aos estilo de um Daniel Day-Lewis ou de uma Meryl Streep, que ganharam fama e consagração por diluirem-se em seus papéis, tornando-se sempre "outras pessoas" em cada trabalho que realizam.

Eastwood, no fundo, vive sempre ele mesmo. E daí? Em seu caso, não é difícil traçar um perfil dos seus personagens mais marcantes. Homens viris, de poucas palavras e introspectivos, cheios de bravura, raiva contida até, e donos de um senso de justiça muito particular. Essa persona começa a se desenhar em 1964, quando o diretor italiano Sergio Leone o escolhe para estrelar uma série de filmes, hoje clássicos do subgênero western spaghetti, como são chamados os faroestes realizados por diretores italianos.

Embora fossem produzidos na Itália, grande parte dos western spaghetti era rodada na Espanha, na região da Almería, que se parece (ou se parecia na época) geograficamente com o Velho Oeste americano. Nesse estilo de faroeste, que se distancia da dimensão histórico-política da matriz norte-americana – de clássicos como Rastros de Ódio (de John Ford) e Rio Vermelho (de Howard Hawks) –, a ação é priorizada e altamente estetizada, com o uso abundante de close-ups e de câmera lenta. Nesse nicho, bastante popular mas que não foi levado a sério em princípio, que Eastwood começa a fundar seu mito.

Produções como Por um Punhado de Dólares (1964), Por Uns Dólares a Mais (1965) e Três Homens em Conflito (1966) o estabelecem como o "homem sem nome", um pistoleiro misterioso, habilidoso no manuseio das armas, ao mesmo tempo heroico e melancólico.

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