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Fernando Alves Pinto, no foyer do Teatro Guaíra, está em Curitiba desde o início de janeiro, participando do longa-metragem O Homem Que Matou Minha Amada Morta | Marcelo Andrade/Gazeta do Povo
Fernando Alves Pinto, no foyer do Teatro Guaíra, está em Curitiba desde o início de janeiro, participando do longa-metragem O Homem Que Matou Minha Amada Morta| Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo
  • Em O Homem Que Matou Minha Amada Morta, Fernando vive um homem no limite, depois de descobrir uma traição
  • Para o docu­mentário São Silvestre, Fernando teve um equipamento de cinco quilos acoplado ao corpo
  • Com Fernanda Torres, em Terra Estrangeira: filme icônico do cinema brasileiro pós-Retomada

A história do cinema brasileiro passa pelo rosto de Fernando Alves Pinto.

Em 1995, quando a produção nacional de longas-metragens começava a apresentar alguma pulsação, depois de entrar em coma com o fim da Embrafilme (empresa estatal responsável pela produção e distribuição de filmes) pela caneta do presidente Fernando Collor de Mello, o filme Terra Estrangeira, de Walter Salles e Daniela Thomas, chegou às salas de exibição como um sopro de esperança, apesar do tom angustiado da narrativa.

Paco, personagem de Fer­­­nando, não poderia ser mais exemplar do estado de coisas no país nos primeiros anos da década de 90. Depois que sua mãe, Manuela (Laura Cardoso), morre em decorrência do trauma de ver as economias de toda uma vida confiscadas pelo Plano Collor, ele decide abandonar o Brasil. Vai para Portugal, onde passa a viver como imigrante ilegal, e torna-se um homem à deriva, no fluxo de um destino trágico.

Fernando era um desconhecido em sua terra natal, embora já atuasse, há alguns anos, como ator em Nova York, para onde havia se mudado, em 1987, quando seu pai, o cartunista Zélio Alves Pinto (irmão de Ziraldo), ganhou uma bolsa de estudos para estudar na cidade norte-americana.

O jovem ator estava ligado à cena do teatro físico, participando, inclusive, de montagens do importante teatro La MaMa, referência no gênero e, por intermédio da cenógrafa e diretora de arte Daniela Thomas, sua prima, conheceu Walter Salles, que o chamou para protagonizar um comercial de cigarro que estava dirigindo. A partir de então, ficou na mira do diretor, que acabou o escolhendo para o papel de Paco no filme, codirigido por Daniela.

Em Curitiba

Passadas duas décadas desde que rodou Terra Estrangeira, Fernando, hoje com quase 45 anos, vive uma fase bastante intensa – e feliz. Recém-casado com a atriz Letícia Sabatella, curitibana por adoção, está na capital paranaense desde o início de janeiro, onde roda O Homem Que Matou Minha Amada Morta. O filme é o primeiro longa-metragem de ficção do cineasta Aly Muritiba, diretor dos premiados curtas A Fábrica e Pátio.

Depois de uma fase de ensaios com a preparadora de elenco Amanda Gabriel, que também trabalhou com os atores de O Som ao Redor e Tatuagem, as gravações se iniciaram no fim de janeiro.

Fernando vive o papel principal, personagem que também leva o seu nome. Bacharel em Direito, trabalha para a polícia civil como fotógrafo e papiloscopista (especialista em impressões digitais). Ele e a mulher, também advogada, têm um filho e parecem levar uma vida harmônica, sem maiores sobressaltos, até que ela morre.

Ao mexer nos pertences da esposa, movido pelo desespero com a perda sofrida, Fernando encontra uma fita VHS que revela um segredo terrível: ela tinha uma vida dupla e mantinha, há algum tempo, um romance com outro homem, vivido pelo ator curitibano Lori Santos (de Curitiba Zero Grau).

Perplexo com a descoberta, o protagonista entra em uma espécie de surto obsessivo: precisa saber mais sobre esse relacionamento, conhecer de perto o homem que a mulher amou.

Nesse processo de aproximação, Fernando acaba alugando uma casa nos fundos de onde ele mora com a mulher (Mayana Neiva, de Infância Clandestina) e os filhos, e com a família estabelece vínculos inesperados. "O roteiro é ótimo. Não é uma história de vingança. É muito mais complexo do que isso, porque meu personagem se afeiçoa àquelas pessoas. Faz a descoberta de um mundo, de uma realidade muito maior, um terreno bem mais vasto."

Corrida

Até a última sexta-feira, Fernando Alves Pinto estava em cartaz em Curitiba no belo documentário São Silvestre, que retrata a famosa corrida internacional que ocorre todos os anos, sempre no dia 31 de dezembro, nas ruas do centro de São Paulo.

Embora seja um filme de não ficção, Fernando se insere na narrativa como ele mesmo, participando da prova, que percorre uma extensão de 15 quilômetros.

Para se preparar para o desafio, proposto pela cineasta Lina Chamie, com quem já havia trabalhado no longa Tônica Dominante (2000), Fernando treinou ao longo de um ano. "Nunca gostei de correr. Achava meio absurda a ideia de ficar na esteira, no interior de uma academia, em uma cidade tão linda como o Rio de Janeiro."

Para complicar tudo, e rodar o filme, que também tem a sua perspectiva subjetiva, como participante da prova, Fernando teve de correr com um equipamento de cinco quilos (veja imagem nesta página), acoplado a seu corpo. "Embora eu tivesse feito o percurso sem problemas um dia antes da gravação, durante a corrida de verdade pensei que não iria conseguir chegar até o fim, mas o clima todo, os outros corredores e o público que assiste acabaram me impulsionando."

A Teia

Com projetos de longas-metragens enfileirados, Fernando deve subir ao palco neste ano, ao lado da esposa, em um espetáculo de teatro que vai costurar textos de tragédias gregas, sob a direção do também ator Guilherme Leme. "Será um espetáculo com forte presença da música [o ator também é multi-instrumentista], que é um dos vínculos bem fortes entre eu e a Letícia", conta.

Atualmente, o ator pode ser visto, no papel do tira Libânio. na série A Teia, escrita por Carolina Kotscho e Bráulio Mantovani, roteirista indicado ao Oscar por Cidade de Deus, de quem Fernando se tornou amigo quando morou em Nova York.

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