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Em seus mais de 200 livros, Tatiana Belinky criou um mundo de aventuras completo | Zanone Fraissat/Folhapress
Em seus mais de 200 livros, Tatiana Belinky criou um mundo de aventuras completo| Foto: Zanone Fraissat/Folhapress

Foi enterrado na tarde de domingo, no Cemitério Israelita da Vila Mariana (zona sul de São Paulo), o corpo da escritora Tatiana Belinky, que morreu no sábado, aos 94 anos, de causa não divulgada. Ao longo da carreira, ela se dividiu entre os ofícios de poeta, contista, tradutora, roteirista, dramaturga e crítica de teatro e literatura infantis.

Em mais de 200 livros, Belinky inventou um mundo de aventuras completo, salpicado de prosa e poesia sempre bem-humoradas. Quem não se lembra do livro Dez Sacizinhos (1998)? Ou das peripécias de A Operação do Tio Onofre (1985), em que crianças e adultos brincam de mudar o nome das coisas? Já em Que Horta! (1987), a autora se põe a inventar plantas engraçadas ao modo de Edward Lear (1812-1888), como "rabamate" e "palmipolho".

Além de suas criações originais, são notáveis as adaptações que Belinky assinou de obras e mitos estrangeiros, como A Saga de Siegfried (Companhia das Letrinhas), O Nariz (Ática), a partir do conto homônimo do russo Nicolai Gógol, e Di-versos Alemães (Scipione), que inclui quatro traduções de poemas de Goethe. Também verteu ao português textos de Turguêniev, Tolstói, Púchkin, Tchékhov, Makarenko, Kipling e Dickens, entre outros.

A escritora tornou célebres entre as crianças os "limeriques", estrofes rimadas e levemente cômicas decalcadas dos "limericks" ingleses do século 19, cujo representante maior foi Lear, precursor de Lewis Carroll (1832-1898), outro autor que Belinky transpôs ao português. Os tais versos se desdobraram em Medoliques, Cacoliques, Bisaliques, Bre­ga­­­liques, Mandaliques e Li­­meriques da Cocanha.

Origem russa

No livro de memórias Transplante de Menina – Da Rua dos Navios à Rua Jaguaribe, ela retraça sua chegada ao Brasil, aos dez anos, em 1929, vinda de Riga, capital da Letônia. Ela nascera na russa Petrogrado (hoje São Petersburgo). Em 1948, Belinky funda o Teatro-Escola de São Paulo. Há registros de que a primeira montagem voltada ao público mirim paulistano, um Peter Pan, teria estreado ali ainda naquele ano.

Em 1952, ela e o marido, o educador Julio Gouveia (1914-1988), adaptaram para a TV Tupi O Sítio do Picapau Amarelo, de Monteiro Lobato. Tratou-se da primeira transposição da narrativa infantil para a tela. O programa ficou no ar por 11 anos.

O casal também produziu telepeças para o Teatro da Juventude, da mesma Tupi. No campo institucional, nos anos 1960, Belinky presidiu a Comissão Estadual de Teatro de São Paulo e, no âmbito desta, foi líder da Comissão de Teatro Infanto-Juvenil. Na década seguinte, colaborou para a Folha de S.Paulo com resenhas de livros e espetáculos infantis.

Jabuti

Em 1989, recebeu o Prê­­mio Jabuti na categoria de personalidade literária do ano; dois anos mais tarde, receberia outra distinção, desta vez da Fundação Abrinq pelos Direitos da Criança. Mantendo até os dias atuais publicações em diferentes casas editoriais, Belinky deixou versos a um só tempo prosaicos e vivazes. Como estes, pinçados de Limeriques das Coisas Boas: "O parque, o jardim, a floresta.../ Na rede, um gosto de sesta.../ Na escola, no lar,/ Brincar e sonhar.../Viver pode ser uma festa!". Belinky deixa um filho, o jornalista, tradutor e escritor Ricardo Gouveia.

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