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Na Vila Isabel da década de 20, o menino de 5 anos, que andava pela 28 de Setembro catando guimbas para fumar, vez por outra detia-se a observar o bamba Noel Rosa sentado num dos bares do Boulevard. O pequeno Guilherme de Brito nem imaginava, mas ali já começava a se formar o autor de sambas tão belos quanto amargos, como "A flor e o espinho", "Quando eu me chamar saudade" e "Pranto de poeta", todos parcerias com Nelson Cavaquinho. Agora, o compositor se chama saudade - ele morreu no início da noite desta quarta-feira, aos 86 anos. Foi internado no dia 2 de abril com problemas respiratórios e depois de um infarto o quadro se agravou. Brito estava em coma há mais de 15 dias.

Aos oito anos o compositor ganhou seu primeiro cavaquinho e na adolescência já apresentava músicas aos cantores do rádio. Na mesma época começou a pintar, hobby que levou até o fim da vida. Em 1955, foi gravado pela primeira vez, num compacto do cantorAugusto Calheiros. "Meu dilema" e "Audiência divina". Mais tarde, tornou-se parceiro constante de Nelson Cavaquinho, com quem compôs sambas que, além de estarem entre os mais bonitos da história da MPB, são lembrados até hoje. A dupla viveu uma amizade de décadas.Fiel como amigo, Nelson costumava dar suas puladas de cerca como parceiro.

- Fizemos um trato: eu só podia gravar com ele e ele comigo. De vez em quando ele descumpria o acordo, mas eu sempre o perdoava - lembrou certa vez Guilherme de Brito, rindo.

Guilherme de Brito (à esquerda) com Candeia, Elton Medeiros e Nelson Cavaquinho. Junto com os três, gravou seu primeiro CD / Foto arquivo

Suas músicas foram gravadas por intérpretes como Paulinho da Viola, Elizeth Cardoso, Clara Nunes, Elis Regina e Beth Carvalho. Ao longo de sua carreira, fez poucos discos. O primeiro, ao lado de outros artistas, foi em 1977, quando já tinha mais de 50 anos - só em 1980 gravaria um álbum solo. Nos últimos tempos, com a revalorização do samba e, conseqüentemente, da obra dos mestres do gênero, Guilherme de Brito gravou dois CDs: "Samba guardado" (2001), com músicas inéditas; e "A flor e o espinho" (2003); com regravações de seus clássicos ao lado do Trio Madeira Brasil.

Os trabalhos recentes foram responsáveis por lançar luz sobre o compositor, que por sua personalidade discreta, passou boa parte da carreira eclipsado pelo brilho de Nelson Cavaquinho. Muitos associavam as canções dos dois apenas a Nelson.

- Só lamento que todas essas coisas estejam acontecendo no fim da minha vida - disse na época do lançamento de "Samba guardado", com uma melancolia que remetia às letras dos sambas que fez com Nelson.

O enterro do compositor será nesta quinta-feira, às 15h, no cemitério do Catumbi.

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