
O violonista espanhol Paco de Lucía morreu ontem, em Cancún, no México, vítima de um ataque cardíaco. A morte do artista de 66 anos foi anunciada pelo gabinete de imprensa da prefeitura de Algeciras, sua cidade natal, na província de Cádiz, no sul da Espanha. A cidade decretou três dias de luto pela perda do "maior violonista de todos os tempos".
De acordo com a família do músico, De Lucía "viveu como quis" e morreu brincando com seus filhos "ao lado do mar". "Boa viagem nosso amado", concluíram.
Paco foi um dos maiores expoentes da música flamenca. A partir dos anos 1960, o artista revolucionou o estilo, então "uma música de museu", com a introdução de novas influências, como o jazz, a bossa nova e até a música clássica.
Sua consagração veio nos anos 1970, com memoráveis atuações no Palau de Barcelona, no Teatro Real e no Teatro Monumental de Madri, e sua primeira gravação ao vivo Paco en Vivo desde el Teatro Real, que lhe rendeu seu primeiro disco de Ouro.
Foi em Madri que surgiu a mítica dupla El Camarón-De Lucía, tão virtuosa e purista como renovadora do flamenco e que se traduziu em mais de dez discos de estúdio, como El Duende Flamenco (1972) e Fuente y Caudal (1973). No final dos anos 1970, ganhou muita popularidade fora da Espanha por seus trabalhos com os guitarristas John McLaughlin, Al Di Meola e Larry Coryell.
Em 2004, ele recebeu o Prêmio Príncipe das Astúrias das Artes, reconhecimento do governo espanhol à sua contribuição para a cultura. De Lucía era também doutor honoris causa pela Universidade de Cádiz e pelo Berklee College of Music de Boston.
No último mês de novembro, o artista havia feito três apresentações no Brasil Rio, São Paulo e Porto Alegre.
O corpo do músico deve ser enterrado na sua cidade natal.
Carreira precoce
Francisco Sánchez Gómez começou a carreira aos 12 anos, quando formou o dueto Los Chiquitos, com seu irmão Pepe nos vocais. O violonista gostava de lembrar que devia a carreira ao pai, Antonio Sánchez, um cantor de flamenco desconhecido.
"Os ciganos são melhores porque escutam a música desde que nascem. Meu pai me obrigou a tocar violão desde que era criança", afirmou no livro Paco de Lucía Una Nueva Tradición para la Guitarra Flamenca. "Ele [o pai] perguntava durante quanto tempo você praticou?. Eu respondia dez ou 12 horas e via sua cara de felicidade", contou.
O músico, no entanto, dizia não gostar de fazer exercícios tradicionais no instrumento. "É muito chato, me deixa nervoso, me perturba". Paco, no entanto, era rigoroso: chegava duas horas antes dos shows para aquecer as mãos no instrumento.




