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Nascido em Cádiz, na Espanha, Paco de Lucía (66 anos) faleceu em Cancún, no México, vítima de ataque cardíaco | Marcelo del Pozo/Reuters
Nascido em Cádiz, na Espanha, Paco de Lucía (66 anos) faleceu em Cancún, no México, vítima de ataque cardíaco| Foto: Marcelo del Pozo/Reuters

Músico era "gênio generoso", diz curitibano

No dia 10 de novembro do ano passado, Paco de Lucía se apresentou no Teatro Araújo Vianna, em Porto Alegre. Na plateia, um de seus admiradores via tudo com os olhos arregalados. "Na idade dele, é normal que vá se perdendo a técnica. Ele só a aperfeiçoou", disse o curitibano Jony Gonçalves, guitarrista do Instituto Flamenco Brasileiro de Arte e Cultura.

Um dia antes, Jony se apresentou no restaurante Andaluzia, também na capital gaúcha. Foi quando o mestre e o aprendiz inverteram os papéis, já que Paco estava na plateia. Momentos depois do show, o curitibano conversou com o gênio do violão, a quem considerou generoso e humilde. "Vou ter esse momento guardado para a vida toda" garantiu Jony, de 32 anos.

O músico soube da morte de seu ídolo às 7h30 de ontem. Mas, ainda ao meio-dia, quando conversou com a reportagem, estava com a voz embargada. "Não tem como explicar", resumiu. "Os guitarristas de flamenco estão órfãos de um paizão."

O legado que Paco de Lucía foi construído com ousadia e perseverança. Habituado à música desde criança, o espanhol tirou o flamenco do limbo a partir da década de 1960. "O flamenco era limitado na questão harmônica, e Paco começou a ‘fusionar’ com outros ritmos. Ele quebrou diversas barreiras", explica o curitibano.

Para Jony, uma das provas concretas da transcendência de Paco é a gravação com o violonista Raphael Rabello (1962-1995), no disco Todos os Tons (1992), em homenagem a Tom Jobim. "Ele regravou ‘Samba do Avião’ em ritmo flamenco. Gênio", resume Jony.

  • Histórico: Jony se encontrou com Paco em Porto Alegre

O violonista espanhol Paco de Lucía morreu ontem, em Cancún, no México, vítima de um ataque cardíaco. A morte do artista de 66 anos foi anunciada pelo gabinete de imprensa da prefeitura de Algeciras, sua cidade natal, na província de Cádiz, no sul da Espanha. A cidade decretou três dias de luto pela perda do "maior violonista de todos os tempos".

De acordo com a família do músico, De Lucía "viveu como quis" e morreu brincando com seus filhos "ao lado do mar". "Boa viagem nosso amado", concluíram.

Paco foi um dos maiores expoentes da música flamenca. A partir dos anos 1960, o artista revolucionou o estilo, então "uma música de museu", com a introdução de novas influências, como o jazz, a bossa nova e até a música clássica.

Sua consagração veio nos anos 1970, com memoráveis atuações no Palau de Barcelona, no Teatro Real e no Teatro Monumental de Madri, e sua primeira gravação ao vivo Paco en Vivo desde el Teatro Real, que lhe rendeu seu primeiro disco de Ouro.

Foi em Madri que surgiu a mítica dupla El Camarón-De Lucía, tão virtuosa e purista como renovadora do flamenco e que se traduziu em mais de dez discos de estúdio, como El Duende Flamenco (1972) e Fuente y Caudal (1973). No final dos anos 1970, ganhou muita popularidade fora da Espanha por seus trabalhos com os guitarristas John McLaughlin, Al Di Meola e Larry Coryell.

Em 2004, ele recebeu o Prêmio Príncipe das Astúrias das Artes, reconhecimento do governo espanhol à sua contribuição para a cultura. De Lucía era também doutor honoris causa pela Universidade de Cádiz e pelo Berklee College of Music de Boston.

No último mês de novembro, o artista havia feito três apresentações no Brasil – Rio, São Paulo e Porto Alegre.

O corpo do músico deve ser enterrado na sua cidade natal.

Carreira precoce

Francisco Sánchez Gómez começou a carreira aos 12 anos, quando formou o dueto Los Chiquitos, com seu irmão Pepe nos vocais. O violonista gostava de lembrar que devia a carreira ao pai, Antonio Sánchez, um cantor de flamenco desconhecido.

"Os ciganos são melhores porque escutam a música desde que nascem. Meu pai me obrigou a tocar violão desde que era criança", afirmou no livro Paco de Lucía – Una Nueva Tradición para la Guitarra Flamenca. "Ele [o pai] perguntava ‘durante quanto tempo você praticou?’. Eu respondia ‘dez ou 12 horas’ e via sua cara de felicidade", contou.

O músico, no entanto, dizia não gostar de fazer exercícios tradicionais no instrumento. "É muito chato, me deixa nervoso, me perturba". Paco, no entanto, era rigoroso: chegava duas horas antes dos shows para aquecer as mãos no instrumento.

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