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Mostra em São Paulo celebra o centenário de Camargo, criador de um universo singular | Divulgação
Mostra em São Paulo celebra o centenário de Camargo, criador de um universo singular| Foto: Divulgação

Exposição

Iberê Camargo – Um Trágico nos Trópicos

Centro Cultural Banco do Brasil São Paulo (R. Álvares Penteado, 112), (11) 3113-3651. Abertura hoje, às 11 horas. Visitação de quarta a segunda-feira, das 9 às 21 horas. Entrada franca. Até 7 de julho.

Exterior

Artista terá individual na Itália em 2015

Em 2015, as comemorações do centenário de Iberê Camargo ultrapassarão as fronteiras do Brasil.

Uma parceria entre a Fundação Iberê Camargo e importantes instituições italianas possibilitará a primeira exposição individual do brasileiro na Itália.

Para ajustar detalhes do projeto, Fabio Coutinho, superintendente cultural da fundação, recebeu na última semana Alberto Salvadori, diretor artístico do Museu Marino Marini, de Florença, que assumirá a curadoria da mostra.

Os italianos poderão conhecer obras de Iberê em três recortes complementares: o Marino Marini recebe a produção gráfica; a Galeria de Arte Moderna do Palácio Pitti, também em Florença, enfatizará a obra dos anos 60; o Museu Morandi, em Bolonha, se debruçará sobre as relações entre a produção de Iberê e a de Giorgio Morandi.

Iberê Camargo foi uma espécie de arquiteto da solidão. Na mostra que celebra seu centenário, aberta hoje no Centro Cultural Banco do Brasil de São Paulo, fica claro como o artista, morto aos 79, há 20 anos, construiu um universo singular, quase todo azul e cheio de figuras à beira da morte.

Do subsolo, onde estão seus estudos e um amplo recorte de sua obra gráfica, ao terceiro piso, que concentra as enormes telas de sua chamada fase trágica, estão expostos desde os alicerces mais tímidos de sua pintura até seu auge expressionista.

Ocupando todo o antigo banco no centro paulistano, as 150 obras não respeitam uma cronologia, embora o fim de sua vida, a produção dos anos 1990, esteja em peso maior no terceiro andar e o segundo piso tenha as pinturas dos anos 1960 e 1970.

Mas Camargo não se divide em capítulos. Nada é estanque nessa obra contínua de exploração da matéria.

Sua pintura parece obcecada em afirmar a própria presença, o peso físico de estar aqui e agora mais do que qualquer noção de devaneio.

Nesse ponto, suas telas dos anos 1950, abarrotadas de carretéis, uma lembrança de infância que se tornou o símbolo máximo de sua obra, são composições espessas que parecem transbordar do quadro.

Fase de transição

Mas entre os carretéis e a abstração plena dos anos 1960 e 1970, está uma de suas fases mais poderosas. São telas negras, de uma escuridão aterradora só rompida por vultos de carretéis esbranquiçados, quebrando o silêncio.

Essa série, que venceu o prêmio de pintura da Bienal de São Paulo em 1961, é um dos pontos altos da mostra, sinalizando uma transição na obra de Iberê Camargo.

Foi depois dessa espécie de expurgo da cor que apareceu sua fase mais gestual e abstrata, com tons coloridos.

Camargo parecia se entregar ali a um expressionismo histérico, em que mais do que a forma final dos quadros importavam seus gestos, a violência do pincel sobre a tela.

Ele parecia construir a antessala de sua fase trágica, mais silenciosa e toda azul. É difícil reduzir a obra do artista a um só momento, mas o terceiro andar da exposição é sem dúvida o ponto máximo de sua trajetória plástica.

Estão lá suas "idiotas", as figuras quase amorfas, de rostos cadavéricos e olhos ausentes, que aguardam solenes e patéticas o próprio fim.

Há algo de beckettiano nessa espera. Suas figuras desgarradas do plano terreno e em plena ascensão rumo a um firmamento acachapante afirmam a beleza do fim.

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