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A lenda do rock Jimi Hendrix | Divulgação
A lenda do rock Jimi Hendrix| Foto: Divulgação

Nova York - Este ano marca o aniversário de 40 anos da morte de Jimi Hendrix, e como era de se esperar a data será celebrada com o lançamento de um novo álbum, o relançamento de seu clássico catálogo, bem como uma turnê tributo e uma versão do video game Rock Band inteiramente dedicada a ele. Hendrix será uma figura difícil de evitar, como os telespectadores do Super Bowl que ouviram sua canção "Fire" em um comercial promovendo o reality show Survivor: Heroes vs. Villains já devem ter percebido.

Tal procedimento é padrão na atual indústria musical. Enquanto o negócio em si continua cambaleando diante da escassa venda de CDs, figuras como Hendrix – o guitarrista que divide seu posto no Olímpio do rock com bandas como os Beatles e os Rolling Stones – continua a ser uma força influente no mercado fonográfico. Seus fãs mais antigos permanecem leais consumidores de sua música, ao passo que o público mais jovem os enxerga quase como um rito de passagem. Estima-se que o catálogo de Hendrix venda centenas de milhares de cópias todos os anos.

Amanhã (9), Valleys of Neptune, o primeiro álbum de gravações inéditas em estúdio de Hendrix em mais de uma década será lançado como produto inaugural de um acordo anunciado ano passado entre a Experience Hendrix – empresa que administra seu legado musical – e a Legacy Recordings, divisão da Sony Music Entertainment. Inúmeros processos judiciais envolveram a obra de Hendrix durante sua vida, e por não ter deixado um testamento, tais problemas só fizeram crescer após sua morte. Com o passar dos anos álbuns foram lançados, contestados e retirados das lojas, bem como choveram alegações e reclamações, em sua maioria sem o menor embasamento.

Lançamentos

Boa parte desses problemas já está resolvida hoje, e o acordo com a Legacy, juntamente com a data comemorativa, deu fôlego renovado às ambições da Experience Hendrix. Valleys of Neptune está sendo comercializado como um disco novo, com a faixa título sendo promovida no rádio e outras mídias. O video game The Hendrix Rock Band é apenas mais uma estratégia para apresentar a obra de Hendrix a um público mais jovem, embora diferente de alguns de seus colegas, ele não seja exatamente alguém que necessite recuperar sua boa forma. Em 2003 ele bateu os Rolling Stones na lista dos melhores guitarristas de todos os tempos e a iconografia excêntrica associada à sua imagem – cabeleira desordenada, figurino extravagante e performance ousada – fizeram dele um símbolo permanente de liberdade individual.

No entanto, muito além de sua contínua significância comercial, Hendrix é uma figura particularmente relevante muito mais hoje do que foi na época de sua morte. Tinha apenas 27 anos quando morreu acidentalmente após misturar álcool e comprimidos para dormir de uma namorada, a princípio Hendrix parecia apenas mais uma casualidade de um período turbulento permeado por mortes ilustres tanto nas artes quanto na política. Janis Joplin morreria menos de um mês depois de Hendrix; Jim Morrison no espaço de um ano. Manifestantes haviam sido mortos nos protestos ocorridos no campus das universidades de Kent State e Jackson State apenas poucos meses antes.

Ícone

Em meio à animos idade daquela era, assim como Barack Obama, Hendrix era visto como alguém que transcendia questões raciais – conquista pela qual ele foi tanto admirado quanto insultado. Apesar de ser dono de uma estética que fazia uso de sua negritude, Hendrix nunca se pronunciou em suas letras ou entrevistas acerca das questões envolvendo direitos civis que estavam em pauta na época. Seu público era majoritariamente branco. Embora tenha crescido apreciando gente como Little Richard, Isley Brothers e todos os artistas do chamado circuito de "chitlin" (casas de espetáculo espalhadas pelo leste e sul dos Estados Unidos, que não apoiavam a segregação racial), alguns negros o viam como alguém que se aproveitava do estereótipo daquilo que os brancos esperavam do artista negro e ressentiam sua reverência a artistas brancos como Bob Dylan, Beatles e Eric Clapton. Ao passo que outros críticos e fãs brancos zombavam de sua verve teatral, herdada de artistas como Chuck Berry e T-Bone Walker, por a acharem tola e cafona. O que parecia subversivo quando vindo de alguém como Mick Jagger, era visto com inaceitável e constrangedor se feito por um homem negro.

Experiências transcendentais à parte, o músico inglês Robert Wyatt, cuja antiga banda Soft Machine excursionou com Hendrix pelos Estados Unidos em 1968, relembrou a tensão presente durante os concertos pelo sul do país quando visitantes ilustres encontravam jovens garotas brancas em vias de fato com Hendrix no backstage dos shows. "Não era necessário sair por aí fazendo declarações políticas quando se tinha algo como aquilo acontecendo," diz Wyatt. "Ele estava vivendo uma vida política de grande importância." Vernon Reid, guitarrista da banda Living Colour, que participará dos concertos em tributo a Hendrix, que tiveram início na última quinta-feira (4), em Santa Barbara, Califórnia, concorda. "Ele próprio era o Movimento, sua própria existência, e não precisava sequer erguer um dedo," diz Reid. "Quando você escuta ‘Machine Gun’ ou ‘The Star-Spangled Banner,’ se dá conta de que muito mais foi dito nessas músicas do que poderia se dizer em qualquer discurso político. Dentro dos parâmetros do que é um solo de guitarra, ‘The Star-Spangled Banner’ é algo de outro planeta. Ele criou, e foi, a trilha sonora da nação naquela época."

Tradução de Miguel Nicolau Abib Neto.

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