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Experimento criativo

O trabalho em grupo tem sido uma das vertentes da música independente feita no Brasil atualmente. O combo Instituto e o Mamelo Sound System, parceiros de Lúcio Maia no projeto Maquinado, já lançaram registros identificados pela participação de vários músicos. A experimentação é marca dessas verdadeiras cooperativas que se formam do encontro de artistas muito criativos, e Homem Binário segue esse caminho com muito êxito.

Maia tem como base das canções as batidas com muito groove feitas a partir do computador (incrivelmente, não é a guitarra que se sobressai no CD), mas passeia por diversos estilos que vão do rap (a ótima "Tá Tranqüilo", com o rapper Speedy) ao reggae ("Dia de Julgamento"), passando pelo regionalismo ("Alados", com Siba) e chegando ao pop-rock (a tranqüila e assobiável "Sem Concerto"). Um ótimo disco, como tem sido todos os diversos projetos do pessoal da Nação Zumbi. GGGG

Há dez anos, quando Chico Science morreu, muito se perguntava o que seria da Nação Zumbi sem o carismático líder. Os parceiros do mentor do movimento manguebit baquearam, mas seguiram em frente, lançando ótimos discos e se transformando em uma das principais bandas brasileiras em atividade atualmente.

Há alguns anos, os integrantes da Nação Zumbi passaram também a investir em diversos projetos paralelos, como o guitarrista Lúcio Maia, que está lançando, via Trama, Homem Binário, primeiro CD de seu projeto-solo Maquinado. A alcunha adotada pelo músico vem de seu apelido na própria banda: "Por eu ser muito envolvido com equipamentos, que sempre gostei de comprar, o pessoal dizia que eu era o maquinado. Achei legal usar esse pseudônimo, pois sou bem isso mesmo", explica Maia em entrevista ao Caderno G.

Podia se esperar de um guitarrista – um dos melhores do país – um disco de virtuose, mas Homem Binário, que está sendo desenvolvido há mais de três anos, é praticamente um trabalho de produtor, reunindo diversos convidados. "Fiz de tudo nesse disco, até a produção executiva, investindo e bancando a gravação. A única coisa que detesto fazer sozinho é compor, não me acho auto-suficente. Enriquece muito mais o trabalho quando meus amigos estão em volta, a galera chega para acrescentar uma parada ou outra. A idéia de Homem Binário foi essa".

E a lista de parceiros do CD é extensa: os companheiros de Nação Zumbi; integrantes das bandas Mombojó, Instituto, Mamelo Sound System, Z'áfrica Brasil, Turbo Trio; o rabequeiro Siba (ex-Mestre Ambrósio) e o rapper Black Alien. "Preferi trabalhar com as pessoas que sempre estiveram ao meu lado, que contribuíram com minha história de alguma forma. Não acredito nesses contornos mercadológicos que as pessoas fazem, de colocar alguém de nome no disco para chamar a atenção", revela o Maia.

Maia diz que aprofundou seu interesse por tecnologia, encontrando vários temas que o interessaram, como a questão do binário – o zero e o um, ausência e presença de sinal. "Todos nós somos muito binários, vivemos em função desse tipo de codificação simplificada, verdadeiro e falso, certo e errado, sim e não. Mas, ao mesmo tempo, a vida da gente não deixa de ter uma carga poética", opina Maia, que se revela preso ao mundo moderno. "Não sou daqueles que consegue ficar na chapada uma semana. Acho que enlouqueço se ficar longe de internet, telefone", continua.

No texto do encarte do CD, o músico fala de mecanização da consciência e expansão científica, e justifica os temas dizendo que o registro fala de uma poesia científica. "Mas ele também é voltado para a simplicidade, sem perder o caráter sentimental da vida", lembra.

Maia já está fazendo shows de pré-lançamento de Homem Binário em São Paulo e pretende rodar o Brasil, principalmente as capitais – passa por Curitiba no próximo dia 16, para um pocket show na Fnac e show no Era Só o Que Faltava. O guitarrista também deve aproveitar os locais em que a Nação Zumbi tocar para apresentar seu projeto, já que dois integrantes da banda, Dengue (baixo) e Toca Ogam (percussão), também integram o Maquinado ao vivo, juntamente como o DJ TG, do Mamelo Sound System.

Para quem quiser conhecer, os diversos projetos paralelos da Nação Zumbi têm páginas específicas no MySpace (www. myspace.com): Los Sebozos Postizos, que faz covers de músicas antigas de Jorge Ben; Autônomo, solo do vocalista Jorge de Du Peixe; 3 na Massa, com o baixista Dengue, o baterista Pupillo, Rica Amabis (Instituto) e vocalistas femininas; Capenga Sample, de Du Peixe e Berna Vieira (do grupo Bonsucesso Samba Clube). Outros trabalhos extra-Nação são o Pra Mateuz Poder Dançar, do percussionistas Toca Ogam e Marcos Matias, e a Orquestra Manguefônica, ao lado do mundo livre s/a.

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