• Carregando...
Pixies na Pedreira: sonho indie realizado | Marcelo Elias/Arquivo Gazeta do Povo
Pixies na Pedreira: sonho indie realizado| Foto: Marcelo Elias/Arquivo Gazeta do Povo

Pelo menos três grandes separações como Oasis, Barão Vermelho e Cazuza e os irmãos Zezé di Camargo e Luciano. Shows inusitados de astros meteóricos como Nina Hagen e Menudo e apresentações improváveis de grandes estrelas como Paul McCartney, Nick Cave e Raul Seixas. O Caderno G preparou uma lista de nove concertos que marcaram época na cidade desde a década de 1980.

1) O começo do fim do Oasis no estacionamento do supermercado

Liam Gallagher parecia infeliz durante o show em Pinhais em 2009: banda acabou meses depois.

ANTONIO COSTA/ANTONIO COSTA

No auge da carreira, no início dos anos 1990, os astros do britpop Oasis chegaram a dizer que seriam maiores que os Beatles. Porém, parece que para uma das bandas mais importante do final do século 20, tocar no estacionamento de um supermercado em Pinhais, na região metropolitana de Curitiba foi um fardo pesado demais para carregar.

Logo após o show, em maio de 2009, o compositor Noel Gallagher criticou duramente a escolha do local e a estrutura oferecida à banda. “Uma apresentação em um palco improvisado em um estacionamento nunca poderá ser comparada ao barulho e às cores de um estádio”, afirmou na conta oficial da banda no my space, à época.

“O show, em si, foi ótimo. Mas não entendo o que estamos querendo provar tocando em lugares como aquele e em Porto Alegre. Por que não só dois shows grandes no Rio e em São Paulo?”, seguiu reclamando o músico.

Para Noel, o problema era obrigar a banda a tocar nas cidades menores, quando para ele era o público que deveria viajar até as maiores para vê-los. “Se todo mundo na Argentina viaja até Buenos Aires para vivenciar uma das melhores noites de suas vidas (não estou brincando, você deveria estar lá!), não entendo por que no Brasil é diferente”.

Nos dias que se seguiram ao show, Noel deu mais declarações que mostravam que o clima não estava nada bom na banda dos irmãos Gallagher. Quatro meses depois a banda anunciou seu fim após uma briga pública entre os irmãos.

2) Nina Hagen faz show melancólico no Couto Pereira vazio

Nina Hagen: sensação no Rock in Rio, fiasco em Curitiba

Reprodução

Uma das sensações do Rock In Rio, em janeiro de 1985, a cantora punk alemã Nina Hagen não conseguiu sensibilizar a juventude roqueira curitibana para um concerto no Couto Pereira, em outubro daquele mesmo ano.

Segundo relato de Aramis Millarch (1943-1992), jornalista cultural mais importante da cidade nos anos 1970 e 80, publicado no jornal o Estado do Paraná, o show da então namorada de Supla foi “melancólico”.

A própria produção da cantora autorizou o público que estava nas arquibancadas do estádio para que descesse até a frente do palco (onde o ingresso custava dez vezes mais caro) e assim evitar que um grande vazio que se formasse no gramado.

Aramis entrevistou o coordenador técnico da produção, o argentino José Lazaro, definido pelo jornalista como “gordo e experiente, 51 anos, 23 de atividades no show business”, que estimava “no máximo em sete mil o número de espectadores presentes”.

Com o sotaque argentino e muita sinceridade, Lazaro dava uma interpretação pessoal do pequeno público presente: “É simples: considero Nina Hagen uma fraude!”

O eclético Aramis, porém, gostou do show: “Nina é uma ‘cantriz’ extraordinária, em termos de marketing no palco: trocando de trajes inúmeras vezes - de um excitante biquíni com o qual abre o show até o traje em couro, na forma punk, que a caracteriza em tantas ilustrações, a cantora é elétrica, acompanhada de quatro instrumentistas da maior competência, também identificados, num amplo aproveitamento visual, com tudo que é possível”.

3) Cazuza quebra tudo e abandona o Barão Vermelho no Circulo Militar.

Cazuza quebrou tudo e brigou com a banda: Barão Vermelho se separou em Curitiba.

Arquivo Sociedade Viva Cazuza

Outra banda que brilhou no Rock in Rio no início de 1985, o Barão Vermelho, também fez um show problemático alguns meses depois, em julho, em Curitiba.

Para o Barão, porém os demônios não estavam fora, mas dentro do palco montado no Palácio de Cristal, ginásio do clube Círculo Militar. Após uma grande discussão entre o vocalista Cazuza e os demais integrantes da banda – em especial com o guitarrista Frejat - o poeta “exagerado” anunciou no palco que não mais cantaria na banda.

O Barão que então poderia ser considerada a maior grupo de rock do Brasil, estava em vias de entrar em estúdio para gravar o quarto disco.

“O Cazuza aprontou bastante naquela noite, estava visivelmente bêbado e errou todas as músicas. Tinha muita expectativa sobre o show, mas foi uma bosta. Foi o último show dele com o Barão”, lembra o músico Flávio Jacobsen, que estava na plateia e, após o show, engrossou a turba que pedia o dinheiro do ingresso de volta.

Cazuza e o Barão nunca voltariam a se unir e o cantor seguiu carreira solo até morrer em decorrência da AIDS, em 1990.

4) Histeria infanto-juvenil na invasão do Menudo no Couto Pereira

Os porto-riquenhos no palco do Couto Pereira: “menudomania”

RUBENS VANDRESSEN/GRPCOM

1985 foi mesmo um ano ímpar para o mercado de shows em Curitiba. Em março, mais uma vez o Couto Pereira foi palco de uma apresentação histórica: o grupo Menudo, a boy-band porto-riquenha que foi o maior fenômeno infanto-juvenil da década de 80.

Em clima de histeria coletiva, a passagem do quinteto de garotos caribenhos por Curitiba parou a cidade. Os meninos deram entrevistas, tiraram milhares de fotos e deixaram em êxtase milhares de meninas de todas as idades ao som do hit “Não Se Reprima”.

A advogada Adriana Fagundes Cunha viu o show no pescoço do pai. “Eu realmente os amava, fiquei doente antes de ver o show de tão nervosa”, lembra Adriana, que se encantava especialmente com o pequeno astro Ricky, então com treze anos e mais tarde famoso internacionalmente como Ricky Martin.

5) Briga entre irmãos termina na UTI: Zezé di Camargo e Luciano se separam no Guairão

Zezé abandonado no palco do Guaíra; irmão contra irmão.

Marco Andre Lima/Marco Andre Lima

Na noite de 27 de outubro de 2011, uma quinta-feira, o show da dupla sertaneja Zezé di Camargo e Luciano no Teatro Guaíra entrou para a história.

Zezé subiu sozinho no palco, iniciou o show pedindo a ajuda da plateia para cantar. Antes da segunda música, o compositor de “É o Amor” fez um desabafo, pediu desculpa pelo show incompleto.

A certa altura, Luciano também subiu ao palco e disse que cumpriria seus compromissos com a dupla até o fim do ano. Ele deu a entender que estava com problemas de saúde.

“Não consigo mais lidar com isso e a culpa é da minha saúde. Vou dar o máximo de mim até o fim do ano, mas a partir do ano que vem meu irmão vai continuar sozinho. Vocês serão a segunda voz que ele sempre mereceu”, disse Luciano. A dupla terminou o show sem se falar.

Na noite seguinte, Zezé fez o show sozinho. Luciano após uma mistura de álcool com remédios ansiolíticos e diuréticos tinha sido internado na UTI do hospital Santa Cruz em Curitiba.

No palco, Zezé tentou explicar a situação. “Oi gente, tudo bem com vocês? Comigo mais ou menos”, disse o cantor logo após a segunda música do espetáculo.

Ele explicou que os dois tiveram um desentendimento no camarim na véspera e a coisa tinha tomado uma proporção que ele não imaginava e a dupla estava desfeita depois de 20 anos.

O caso foi o assunto da semana da imprensa de celebridades no Brasil. Xuxa veio visitar Luciano no hospital. Muitas versões sobre a origem da briga foram criadas.

Um mês depois, os irmãos goianos se reconciliaram e voltaram juntos ao palco em um show no Rio de Janeiro.

6) A mitológica despedida de Raul Seixas no Ginásio do Atlético

Marcelo Nova e Raul Seixas na ultima turnê: show em Curitiba foi um dos últimos da dupla.

Arquivo Raul Rock Club/Divulgação

Um dia que, sem dúvida, tinha tudo para virar uma das principais lendas urbanas de Curitiba se não tivesse realmente ocorrido: o show de Raul Seixas e Marcelo Nova na turnê ‘A Panela do Diabo’, realizado no Ginásio do Clube Atlético Paranaense em 1989.

Há muitas controvérsias a respeito deste concerto. A começar pela data. A versão mais plausível é de que o show aconteceu no dia 17 de julho de 1989, um pouco mais de um mês antes da morte de Raul (em São Paulo, no dia 21 de agosto daquele ano).

De qualquer forma, o show entrou para história. Muito por conta do mítico local, o Ginásio do Atlético, na rua Buenos Aires, destruído totalmente em 1996 para a reconstrução da Arena da Baixada, conhecida, aliás, como “caldeirão do diabo”.

Naquele tempo, o Atlético havia abandonado a sua sede e mudado para o estádio Pinheirão, no Tarumã. 

A antiga Baixada e o ginásio eram “administrados” pela torcida organizada Os Fanáticos, que ajudou a produzir o concerto.

“Nós demos 2 mil [cruzados novos, na época] para eles [Raul e Marcelo Nova], garantimos bilheteria e fechamos o show assim, na loucura. Compramos cartolina, escrevemos ‘Show do Raul Seixas’ e colamos em umas dez quadras em volta da Baixada. Colocamos 10 mil pessoas no ginásio, lotou. Tudo bem que ele nem conseguia cantar direito, de tão mal que já estava”, disse Renato Sozzi, então presidente da torcida.

O ator Moa Leal esteve presente ao concerto e relembra com emoção do momento histórico. “Foi emocionante, tudo mundo queria invadir o palco no final para abraçar o Raul. Ele já não estava nada bem, mas conseguiu tocar o show do jeito que deu até o final. Foi emocionante”.

7) O show de Paul McCartney na Pedreira foi do tamanho da visita do papa

Sir Paul McCartney na Pedreira: “Na Na Na Na...Hey Jude”.

Arquivo Gazeta do Povo

Antes de se tornar arroz de festa em terras brasileiras, o ex-beatle Paul McCartney fez um concorrido show em Curitiba no dia 5 de dezembro de 1993. Além da capital paranaense, apenas São Paulo recebeu o cantor na turnê The New World Tour.

O show fazia parte das comemorações pelo aniversário dos 300 anos de Curitiba, que já tinha trazido o tenor espanhol Jose Carreras à cidade.

Paul, que tinha 51 anos, e era o artista mais rico da Inglaterra, com R$ 600 milhões de dólares, chegou na véspera, de jatinho, no aeroporto Afonso Pena.

O frisson causado pela presença do beatle em Curitiba só é comparável ao causado pela presença do papa João Paulo II.

Em Curitiba, Macca deu longa entrevista à Gazeta do Povo em que dizia que a cidade era famosa no mundo todo pela defesa do meio ambiente, mas que ele não iria fazer turismo, pois não tinha vindo de férias.

Perguntado sobre qual o segredo da longevidade de seu casamento, que durava então, 24 anos com Linda, Paul resumiu: “bom sexo”.

A cantina Pamphylia, na avenida Batel, célebre por receber celebridades, foi escolhida pela produção de Paul como o restaurante oficial da turnê. O proprietário da casa, o empresário e chef João Ernesto Strapasson foi ainda escalado como motorista oficial das andanças de Paul por aqui em um Volvo, ano 1991.

Na noite do domingo, Paul decidiu antecipar o show em uma hora e quinze, das 20h30 originais, começou às 19h15. Antes da banda subir ao palco foi exibido um documentário de 15 minutos sobre a violência no abate de animais.

O show teve tudo o que um show do ex-beatle tem direito até hoje: Paul ao piano, no baixo e na guitarra; fogos de artificio; músicas de todas as fases dos Beatles e um final apoteótico com o público cantado o “na na na na” do final da canção “Hey Jude”.

8) Quando os Pixies fizeram uma festa-indie e se esbaldaram nas gordices curitibanas

Frank Black (a direita): líder dos Pixies comeu frango em Santa Felicidade depois de passear na feirinha .

MARCELO ELIAS/MARCELO ELIAS

Naquela que talvez tenha sido a noite dos sonhos para o público fã de indie-rock em Curitiba, a formação original da banda americana Pixies fez um show impecável na Pedreira Paulo Leminski.

Era a madrugada do domingo, dia 09 de maio e havia frio e lua cheia em Curitiba.

A banda que estava separada desde 1994, tinha voltado a se reunir para uma única turnê e Curitiba foi a cidade escolhida por intervenção dos produtores Paola Wescher e Leandro Knopfholz, responsáveis pelo festival Curitiba Pop Festival.

O show tinha sido programado inicialmente para a Ópera de Arame, mas teve de ser transferido para a Pedreira após os ingressos se esgotarem em questão de minutos.

Na Pedreira, cerca de 8 mil pessoas puderam ouvir um longo show com hits e “lados B” de uma das bandas mais influentes da história. Além do show, a passagem dos Pixies por Curitiba se notabilizou pela entrega completa da banda aos mais curitibanos costumes e gastronomia.

Segundo Paola, a banda, na época um quarteto com visíveis problemas de sobrepeso, almoçou longamente na antiga Napolitana Arena, que funcionava dentro da Arena da baixada, e à noite comeram homus e quibe cru no restaurante Velho Oriente no Largo da Ordem.

Domingo de manhã, Frank Black foi a pé até a Feirinha do Largo e comprou uma série de bugigangas e artesanato local para levar para sua família em Boston.

No almoço domingueiro, a banda se empanturrou no rodízio de polenta, frango e risoto do restaurante Madalosso.

9) O dia em que Nick Cave foi de Ligeirinho para a Ópera de Arame

Nick Cave e o Die Haut foram  “rapidinho” até a Opera de Arame.

Marco Stecz

Aconteceu assim: na recém-criada Ópera de Arame, em 1993, foi marcado um show da banda alemã Die Haut. Do quarteto de pós-punk fazia parte um dos integrantes da banda Bad Seeds que acompanhou por muito anos o músico australiano Nick Cave.

Os alemães tinham o costume de convidar um figurão do rock (Kim Gordon e Debbie Harry, por exemplo) para seus shows e álbuns.

Em 1993, Nick Cave morava em São Paulo e aceitou o convite para um dos shows mais memoráveis da história da cidade. Lembrado especialmente pela forma com que Cave chegou à Pedreira.

Quando percebeu o rumor que a presença do astro australiano causava, o então prefeito de Curitiba, Rafael Greca (1993-1997) teve a ideia de colocar um recém-inaugurado ônibus da Ligeirinho para levar Cave, o Die Haut e o séquito de músicos e fãs locais que se dedicou a seguir o astro em sua estada curitibana até a Ópera.

Alguém, provavelmente do Ipppuc, vislumbrou que era uma boa maneira de divulgar o novo ônibus cuja propaganda prometia: “pegue o Ligeirinho e chegue rapidinho”.

No caminho, Cave se ocupou de destratar todo mundo e chamou a cidade de “a central brasileira dos maricas”, como lembra o empresário Marcos Maranhão, na época gerente do hotel onde o astro se hospedou no centro de Curitiba.

No show, Cave cantou quatro músicas e, na volta, roubou a namorada de um dos novos amigos curitibanos que inconsolável teria dito: “Mas, Nick, eu cresci ouvindo as suas músicas.” Ao que Cave teria respondido: “Desculpe por destruir seus sonhos de criança!”

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]