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“Claudião” (à esquerda), e seus “novos” colegas de banda, ex-integrantes da Iconoclastas. Novo disco usa a poesia para falar sobre a passagem do tempo, e cutuca Curitiba com uma crônica amarga | Divulgação
“Claudião” (à esquerda), e seus “novos” colegas de banda, ex-integrantes da Iconoclastas. Novo disco usa a poesia para falar sobre a passagem do tempo, e cutuca Curitiba com uma crônica amarga| Foto: Divulgação

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7.ª Festa do Saudoso Korova - Claudio Pimentel e os Misantropos

Jokers Pub (R. de São Francisco, 164), (41) 3013-5164. Dia 28 às 23h. R$ 20.

Não há mais dúvidas: ele é um dos bardos de Curitiba. Pois quem mais haveria de musicar "Ismália", poema do simbolista Alphonsus de Guimaraens (1870-1921)? Ou decidir chamar sua banda de Plêiade, o coletivo de estrelas e de poetas? Depois de retornar ao Wandula e seguir firme com os projetos This Charming Band (cover de Smiths) e Os Tenazes, Claudio Pimentel reencontrou Saimonn Opalinski (guitarra), Felipe Wille (baixo) e Heron Pereira (bateria), ex-companheiros da banda Iconoclastas, para compor mais um disco, dessa vez sob a alcunha de Os Misantropos. O lançamento acontece na próxima sexta-feira, durante a 7.ª Festa do Saudoso Korova, evento que homenageia o bar que Claudio pilotou por alguns anos.

Psiconautica é o nome do novo álbum, cuja arte gráfica, fora de série, é de Ricardo Humberto. Em 12 faixas, "Claudião" reforça sua relação íntima com a poesia e com a música oitentista, precisamente o pós-punk. Mas agora com um discurso mais claro – e até melancólico – sobre a passagem do tempo, sobre o envelhecer. "Não foi intencional, não fico pirando nisso. Mas é natural. Já estou com ‘quatro ponto três’ e o tempo continua passando", explica o músico. O recado vem rápido. Em "Névoa", faz duo com Luana Leal e canta "estou ficando antigo/ apegado ao farrapo/ agarrado ao obsoleto/ acomodado ao usual."

A palavra é importante para Claudião. Na segunda música, "Nosso Tempo" – ela tem um quê de Belle & Sebastian –, e principalmente em "Árvore", uma balada com guitarras à la Will Sergeant, a letra funciona de forma isolada.

"Posso até ser meio conservador nisso, mas a letra precisa ter alguma poesia, ou algo a mais. No rock nacional, é difícil achar isso. Não é todo dia que nasce um Cazuza", diz Pimentel. No disco, ainda há a adaptação musical de poemas de Emily Dickinson (1830-1886) e W.B. Yeats (1865-1939). "Às vezes a galera torce o nariz. Mas que se f***, vou continuar fazendo."

Psiconautica também abre espaço para uma crônica amarga sobre Curitiba, embora com um final surpreendentemente feliz. "CWBlues" segue assim: "Pederastas e peruas lotam os tantos shoppings/ os parques infestados de monstros cheios de músculos/ na ebulição humana vivo ainda mais sozinho/ e Curitiba tem bastante passarinho."

Para Claudião, a cena musical da cidade – ele cita as bandas ruído/mm, Hillbilly Rawhide e Poléxia – sempre esteve à frente, embora nunca tenha acontecido de verdade. "A cidade é meio caretona. Cresceu, mas continua provinciana. Parece aquela ex-ricona que agora não tem grana nenhuma e quer manter um ar blasé."

Pimentel toca "todo dia", em sessões alternadas no Bar Baroneza, no Old’s Pub, no Hacienda. Está ensaiando com o Wandula, que talvez lance músicas novas em breve. Mas agora quer divulgar seu mais recente trabalho, que cheira a naftalina embora não soe totalmente ultrapassado.

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