• Carregando...
Ao invés de celebrar o fim das aulas com os colegas, a menina Maria (Lúcia Uribe) parte em uma viagem à moda beatnik | Divulgação
Ao invés de celebrar o fim das aulas com os colegas, a menina Maria (Lúcia Uribe) parte em uma viagem à moda beatnik| Foto: Divulgação

Evento

7.º Festival de Cinema Latino-americano de São Paulo

Exibições de filmes no Memorial da América Latina, Cinesesc, Cinemateca Brasileira e Cinusp. Até 19 de julho. Entrada franca. Confira a programação completa no site www.festlatinosp.com.br.

Com alguma maldade, críticos brasileiros insatisfeitos com a abordagem do livro cult de Jack Kerouac, Na Estrada, por Walter Salles, estão chamando o filme que estreou na semana passada de "Malhação beat". Na Estrada seria clean demais – queriam sujeira, nisso repetindo um bordão que já vem desde a apresentação de On the Road no Festival de Cannes, em maio. Não importa o que digam, a essência está lá e, lógico, reclamar da beleza da imagem aplicada a certos temas é coisa que vem de longe – basta lembrar o exemplo, entre muitos possíveis, de La Terra Trema, de Luchino Visconti, acusado de esteticista, no auge do neorrealismo.

Talvez a estrada sonhada pelos detratores de Salles seja a do mexicano Gabriel Mariño em seu longa Um Mundo Secreto, que terá amanhã sua segunda exibição no Festival de Cinema Latino-americano, em São Paulo. Programe-se: poucos filmes estão tendo essa chance. A maioria passa uma vez, e só. Um Mundo Secreto abriu na semana passada, para convidados, a sétima edição do Festival Latino e nesta quinta-feira terá projeção para o público. Em Berlim, em fevereiro, integrou a programação da mostra Generation. Um Mundo Secreto conta a história de uma garota que põe o pé na estrada. No último dia de escola, em vez de se juntar aos colegas para celebrar, Maria – é seu nome – junta suas coisas, compra uma passagem de ônibus e se lança numa viagem. Ela atravessa o México. Busca o quê? A si mesma, com certeza.

Liberdade

Lúcia Uribe é a intérprete – excepcionalmente boa – do papel e, na apresentação do filme, na Berlinale, o diretor Mariño disse que foi um privilégio trabalhar com ela, que vestiu a pele da personagem e fez com ela a viagem iniciática que desvenda o mundo secreto. Mariño disse que nunca teve dúvida de que queria uma personagem feminina. Só a mulher poderia libertá-lo – a ele, um homem – para ser livre e emocional.

Da Cidade do México, Maria ganha a estrada. Conhece muitas pessoas – e um rapaz, tão tímido que tem vergonha de dividir o quarto com ela. Como filmar a história de Maria, como integrar a paisagem ao relato? Mariño e seu diretor de fotografia – Ivan Hernandez, com passagem pelo Talent Campus, a oficina de novos talentos do Festival de Berlim – discutiram muito o tipo de imagem que seria adequada. Pesquisaram nas fotos de Nan Goldin e nas pinturas de Edward Hopper. Mariño queria que o filme fosse uma janela que, do caos urbano, ganhasse a paisagem áspera, seca, mas com passagens de cor e exuberância.

A regra era – luz natural. Nenhum artifício. O mesmo princípio aplicado à interpretação. Tudo isso, mais o segredo revelado da protagonista, faz da viagem de Mariño e Lúcia Uribe uma experiência intensa. Mas o bom do filme é essa oportunidade que oferece para se cotejar as duas viagens, a de Salles e a de Mariño. Os que reclamam da primeira têm agora a obrigação de conferir a segunda. O chamado da estrada, e o que ela revela do mundo interior de personagens em busca deles mesmos.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]