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Bruno de Oliveira, Fábio Allon, Adriano Esturilho, Aly Muritiba e Diego Florentino se preparam para filmar seu primeiro longa-metragem de projeção nacional | Priscila Forone/Gazeta do Povo
Bruno de Oliveira, Fábio Allon, Adriano Esturilho, Aly Muritiba e Diego Florentino se preparam para filmar seu primeiro longa-metragem de projeção nacional| Foto: Priscila Forone/Gazeta do Povo

A cara da nova geração paranaense

Os diretores premiados pelo Ministério da Cultura para rodar o longa-metragem Circular estão convencidos de que a conquista não foi um lance de sorte.

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A dez mãos

Conheça um pouco dos cinco jovens que se preparam para filmar Circular. Eles se conheceram na escola de cinema da Faculdade de Artes do Paraná e escreveram juntos o roteiro. Agora, cada um dirigirá a história de um personagem

Adriano Esturilho

31 anos, curitibano. Cursou artes cênicas na UFPR. É produtor de teatro há uma década. Seu grupo Processo – com o qual encenou, entre outras, a peça Samuel, sobre Samuel Beckett – desenvolveu um braço cinematográfico e se tornou a Processo Multiartes. É Autor do curta Café do Teatro e do livro/DVD Cancha 2. Personagem em Circular: uma artista plástica grávida e hipocondríaca. Estilo: a câmera dura.

Diego Florentino

23 anos, curitibano. Trabalhou um tempo como ator amador. É pesquisador do grupo de dramaturgia do Sesi. Teve o primeiro contato com a sétima arte na extinta Academia Internacional de Cinema de Curitiba. Dirigiu dois curtas, como O Muro. Personagem em Circular: um policial evangélico. Estilo: realista com a câmera na mão.

Fábio Allon

31 anos, curitibano. Arquiteto formado pela UFPR e doutorando pela USP em História da Arquitetura. Faz direção de arte para curtas e longas, como Morgue Story – O Filme, de Paulo Biscaia. Dirigiu em julho o longa Gol a Gol, com Adriano Esturilho – um telefilme com orçamento de R$ 180 mil, pago pelo prêmio estadual de cinema digital, que estreará em 2010. Personagem em Circular: uma banda de punk rock em crise de identidade. Estilo: comédia.

Bruno de Oliveira

25 anos, curitibano. Cursou cinema por um ano na escola Portfólio antes de entrar na FAP. Destaca entre seus curtas Dias Cinzas e A Infância de Margot. Foi assistente de direção de Morgue Story – O Filme e Gol a Gol. Está terminando o documentário Ciro Matoso, longa sobre o cineasta parnaguara. Personagem em Circular: um cobrador de ônibus ex-boxeador. Estilo: realista clássico.

Aly Muritiba

30 anos, baiano. Mora há quatro em Curitiba. É sócio da produtora Grafo. Codirigiu o documentário para tevê A Revolta, com João Marcelos Gomes. Entre seus curtas, Com as Próprias Mãos é o mais premiado. Personagem em Circular: um mexicano recém-chegado ao Brasil. Estilo: mais fragmentado.

Produtores

Os paulistas Antônio Júnior, de 25 anos, e Marisa Merlo, de 22, completam o grupo. Como produtores, têm a difícil missão de harmonizar as vontades dos cinco diretores.

Há três anos e meio, Marcos Jorge venceu 300 concorrentes de todo o país e faturou o prêmio de R$ 1 milhão oferecido pelo Edital de Baixo Orçamento do Ministério da Cultura para filmar seu primeiro longa-metragem. O impulso financeiro trouxe resultados surpreendentes para a tímida produção cinematográfica paranaense. Estômago venceu melhor direção e filme (júri popular) no Festival do Rio em 2007, ganhou prêmios em vários festivais internacionais, foi vendido para mais de 20 países e se saiu muito bem nas bilheterias nacionais.

A história recomeça neste ano. O prêmio do Minc, destinado a cinco produções estreantes, foi concedido, mais uma vez, a um projeto de filme curitibano: Circular. E foi comemorado não só por um diretor já respeitado no cenário local, como era Marcos Jorge àquela altura. Mas por cinco rapazes desconhecidos e com idade entre 23 e 31 anos.

É uma conquista bastante promissora para a cena audiovisual do estado, ainda mais levando-se em conta a rapidez com que veio. Adriano Esturilho, Bruno de Oliveira e Fábio Allon fazem parte da primeira turma do curso de Cinema da Faculdade de Artes do Paraná (FAP), que aguarda seu diploma. Aly Muritiba e Diego Florentino, que completam o grupo, são seus calouros – nem formados ainda.

Os cinco trabalham juntos há algum tempo em curtas-metragens. Essa experiência foi fundamental para darem o próximo passo. Um ano e nove meses atrás, nas gravações do curta Dias Cinzas, dirigido por Bruno, veio a vontade de "dar a cara para bater". Apro­­veitariam a estrutura de produção mais simples exigida pelos curtas, com a qual já estavam acostumados, e juntariam as peças em um longa-metragem. "Não é uma colagem de curtas, mas é mais compartimentado", diz Allon.

Circular se inscreve na modalidade de roteiros fragmentados nos quais vidas se cruzam em um momento crucial – notória na obra do norte-americano Robert Altman (ShortCuts – Cenas da Vida). No caso, o encontro se dá durante um assalto a ônibus. Como se fizessem seus próprios curtas, cada um dos diretores terá a missão de comandar as cenas vistas da perspectiva de um dos cinco personagens principais – o cobrador de ônibus, a artista plástica grávida, a banda de punk rock, o mexicano e o policial evangélico.

Em vez de formarem uma colagem de peças independentes, a exemplo de Paris, Te Amo (com vá­­rios diretores, entre eles Gus Van Sant e Walter Salles), as tramas se atravessarão compondo uma história só, num mosaico, como em Amores Brutos (Alejandro González Iñár­ritu), segundo os diretores. Eles buscam coesão narrativa, sem, contudo, dispensar a diversidade estética: cada um deve imprimir sua digital, dando à obra texturas distintas.

O roteiro, que impressionou os jurados do Minc em Brasília, foi escrito por todos. "É um filme urbano, contemporâneo", conta Diego. Com nuances de comédia, drama e ação, e um viés "mais politizado", que serve para amarrar as histórias. Os cinco protagonistas são adeptos dos medicamentos de uso prolongado. "Vamos em cima da indústria farmacêutica, da sociedade que todos querem fazer crer doente e que a felicidade só se atinge por estímulos químicos", diz Aly.

Cristina, a personagem grávida, por exemplo, é viciada em re­­médios. Mas revida com um discurso artístico contra a indústria farmacêutica, criando mosaicos de cápsulas. O papel está prometido para a atriz Fabíula Nascimento, por coincidência, uma das protagonistas de Estômago.

Quando a primeira de quatro parcelas do prêmio cair na conta do grupo, eles terão um ano para entregar o filme pronto. As filmagens devem acontecer em 2010, em Curitiba, em parceria com as produtoras Grafo Audiovisual e Processo Filmes, enfrentando desafios logísticos como gravar dentro de um ônibus e não deixar o clima instável atrapalhar a continuidade da narrativa, que se restringe a um arco temporal de 24 horas.

Para os cinco jovens entusiasmados, a ambição não é menor do que alcançar o padrão de qualidade ditado por Estômago. "A gente tem uma maneira nova de fazer, mas se pretende continuadores dessa qualidade. Nossa proposta é chegar aonde ele chegou", diz Aly.

No caminho, ainda pretendem firmar uma coprodução internacional, como foi a de Marcos Jorge com a Itália. Um personagem estrangeiro foi adicionado ao roteiro, já pensando na "latinidade". Negociações com a Venezuela e a Colômbia estão na mira dos cinco.

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