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Lisa Simpson participou da confecção do figurino do filme 400 Contra Um, gravado no presídio do Ahú, no início deste ano | Arquivo Pessoal
Lisa Simpson participou da confecção do figurino do filme 400 Contra Um, gravado no presídio do Ahú, no início deste ano| Foto: Arquivo Pessoal
  • Rimon Guimarães
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Reformar, reutilizar, restaurar, reciclar. Verbos que alinhavam o pensamento do estilismo de garagem. Esse pessoal não tem preconceito com tecido antigos, dá de ombros para as tramas tecnológicas usadas nas últimas coleções das grandes grifes.

Lisa Simpson, 26, aprendeu a costurar na escola nos dez anos em que morou com a família no Canadá. Quando voltou, aos 20 anos, passou a fazer as próprias roupas. As amigas gostaram e Lisa virou a "Agente Costura", uma customizadora de peças antigas (ela é habituée dos brechós do centro em busca dessas roupas), que também corta, cirze e reforma o que o cliente quiser.

Fazendo jus ao nome adotado da personagem do desenho, Lisa é uma figura: seu corpo mignon veste apenas o que ela mesma fabrica. Os óculos redondos de lentes grossas e a franja cortada (por ela mesma) à la garçon completam o layout da garota que tem como guru a estilista punk Vivienne Westwood.

Até inaugurar seu ateliê batizado de Garage, no próximo dia 29, Lisa tricota, ou melhor, costura com a estilista Karla Pereira, 26, que meteu a cara e abriu em dezembro passado a Hype Bazaar embaixo do seu ateliê. A multimarcas já é conhecida dos moderninhos que sobem a Rua Visconde de Nacar, nas Mercês. "Nosso cliente é gente jovem, entre 20 e 30 anos, que frequenta o Wonka, o James", diz Karla. Acrescente-se a essa lista outros bares da cena alternativa como Kitinete, VU, Lalupe e Vox, locais onde é possível atualizar as referências musicais e estéticas.

Parcerias

Rimon Gui­ma­­rães, 21, é figurinha ca­­rim­­ba­­da nesses lugares, sempre a bor­­­do de uma bike. Além do Ban­­zai Studio (co­­nhecido no meio pela precocidade de seus membros) e do Interlux Arte Livre, ele prega o consumo sustentável, a jardinagem libertária, a bicicletada... Sua praia é mais a ilustração, mas quando o dinheiro está curto, ele relembra os tempos em que estampava malha e dava para a mãe fazer camisetas. Agora, tem parceiras da cena de garagem, como Naty Fogaça. "A roupa reflete o pensamento do jovem. Pra mim tem a ver com conforto." Tá, Rimon, mas vo­­cê escolhe suas roupas pelo critério conforto? "Não, também pela cor, pelo corte e pela forma", admite o dono de um volumoso corte de cabelo black power.

O produtor de moda Andre Azevedo vê jovens ao estilo de Rimon como um diamante bruto. São estudantes ou recém-formados não só de moda, mas também de artes plásticas, design de produtos, cinema, entre outras áreas, com ideias novas, mas sem muita noção de como levar à frente um projeto. "Curitiba tem um forte movimento de jovens pensantes. Pegamos gente que ainda está no caseiro, em fase de teste e apresentamos ao mercado", conta ele, que é sócio do do Coletivo Atalho, escritório de produção fotográfica e vídeos.

Jovens de fase

Há quem veja o estilismo de garagem com certo ceticismo. Para Sheila Giacomazzi Camar­go, coordenadora do curso de Design de Moda da Universidade Tuiuti, por onde passaram muitos dos nossos entrevistados, começar trabalhando em casa não é uma opção, mas uma forma de sentir o mercado.

"Eles fazem roupa mais barata pelo próprio poder aquisitivo. Começam com moda diferenciada, produto com conceito, com tecido e preço mais acessível, e assim se inserem no mercado", diz. Na opinião dela, a maioria dos jovens estilistas quer se estabelecer comercialmente. "Trabalhamos muito com o conceito de marca na universidade. Por isso, acho que essa é só uma fase", diz.

Só o tempo dirá se eles sairão da garagem ou não.

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