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Cláudio Pimentel, ao centro: músicas que valorizam a poesia de seus versos | Hedeson Alves/Gazeta do Povo
Cláudio Pimentel, ao centro: músicas que valorizam a poesia de seus versos| Foto: Hedeson Alves/Gazeta do Povo

História

Saiba mais sobre a Plêiade

1988

Acontecem as primeiras apresentações em uma pizzaria, em companhia de amigos de escola

1990

Ano do primeiro show "de verdade". Pimentel ganha quatro convites para um jantar em um restaurante de Santa Felicidade. A banda se chamava O Corvo – poema homônimo de Edgar Allan Poe. Foram executadas "Odara", de Caetano Veloso, e uma composição do próprio grupo

1991

O nome Plêiade surge depois que Pimentel e um casal de amigos assistem ao filme grego Paisagem na Neblina (1988), de Theo Angelopoulos

1993

O primeiro grande show na noite de Curitiba

1998

Surge A Descoberta, o álbum de estreia. Nele, está a bela releitura musical de "Ismália", poema de Alphonsus de Guimarães

1999

Pimentel forma o Wandula

2001

A Plêiade lança o EP Persona Non Grata

2008

Depois de um hiato de sete anos, são lançados o EP Domingo e o disco FF

Quando chegou à redação da Gazeta do Povo para conversar com a reportagem, o que Cláudio Pimentel carregava em seu case parecia pesar muito mais do que um violão. Ao contrário de "dinossauro" da cena independente de Curitiba, o músico é melhor descrito como um desbravador, uma espécie de bandeirante que, com seu extinto bar Korova, impulsionou bandas novas – promissoras ou não –, ofereceu espaço para exposições e promoveu festas diversas, nos já saudosos anos 1990.

Em meio a esse cenário, o curitibano gravou quatro discos com sua Plêiade (veja quadro), banda que completa 17 anos de existência. O quinto, Escravos Cardíacos das Estrelas, será lançado amanhã, no James Bar.

A imagem de Pimentel agora é a de um trovador, semi-solitário, já que se contenta com sua própria obra.

"Não espero mais nada. Faço porque gosto. Às vezes vem alguma coisa na cabeça e eu escrevo. Se algo melhor vier com o disco, beleza. Senão, tudo bem", explica o músico, antes de atender o telefone rapidamente para checar os últimos dados em relação ao único ensaio geral antes do show. "Pô, é difícil reunir os caras".

Os caras são Quinho (bandolim e guitarra), Guto Gevaerd (baixo), Luly Frank (guitarra), Dego (bateria) e Igor Ribeiro (flugelhorn, produção e intervenções sonoras). Essa é a terceira formação da banda, que, apesar disso, nunca deixou de existir, exatamente porque Cláudio segurava as pontas e embalava seu sonho.

"Na verdade nunca foi uma banda de verdade, era mais um projeto meu. Nós estávamos juntos e tocávamos quando tínhamos tempo, sem estresse", diz Pimentel.

A idade chegou. Para o músico, que conta 37 outonos e para a Plêiade, com 17. A vontade de ser um agitador cultural esmorece na medida em que o tempo passa e a contrapartida não é tão justa quanto esperada. "Em Curitiba é desanimador fazer qualquer coisa. Seja pelo clima ou pela falta de interesse das pessoas. Talvez eu volte com o Korova em outro lugar que tenha uma estrutura legal. Mas não sei ainda. Acho que prefiro abrir uma confeitaria, trabalhar de dia, atendendo velhinhos que tomam seus cafés tranquilamente. Não aguento mais a noite", confessa o músico, ex-violonista e cofundador (em 1999, com Edith de Camargo e Marcelo Torrone) da banda Wandula.

A Plêiade sempre foi lembrada por sua sonoridade lírica e oitentista. As letras são o destaque das músicas que ora são intimistas, ora universalmente compreensíveis. A resposta para isso está na infância de Pimentel.

Nascido na Vila São Paulo, em Curitiba – "numa casa de terreno gigante que nem existe mais" –, "amor" e "5" foram as primeiras palavras que aprendeu a escrever. E as rabiscava pela casa toda. Fundamental. "Aprendi com minha mãe", recorda. O contato com Mário Quintana, Fernando Pessoa, Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade deu-se anos antes de ouvir Legião Urbana, The Smiths, The Cure, James e Echo & The Bunnymen. A mistura foi para os céus e para os estúdios e chamou-se Plêiade – no dicionário, "conjunto de estrelas ou de homens famosos por seu talento".

Escravos

O nome do novo trabalho foi retirado do poema "Tabacaria", de Álvaro de Campos – outro dos heterônimos de Fernando Pessoa. E, como a escrita original, o disco trata da impossibilidade existencial do homem: o põe no seu devido lugar.

Dividido em duas partes – até a faixa cinco, ouvem-se basicamente voz e violão –, Escravos... é bem definido já no título de suas músicas. "Tudo Está Perdido" – um fado-rock – abre a série de nove canções. Segue-se "Cansaço", que traz um flugelhorn tímido, mas bem encaixado. "Longo Passeio Depois da Chuva" e "Se Você Chegar" valorizam os versos. A quina se fecha em "Cantata" – que traz a pérola "Quando o sábado vier como um sol/ e me pôr no peito uma alegria simples". Em "No Escuro", há uma guinada ao britrock – lembra muito a fase inicial dos britânicos do Echo & The Bunnymen. Quando apimenta a letra, Pimentel cria "Canção Úmida", a mais radiofônica e ensolarada do disco. Ainda há espaço para a "Strange Wings", música composta em 1993, em inglês, baseada em um poema antigo do amigo Airton Silva. "Déjà Vu", a última, fecha o álbum, gravado em pouco mais de um mês na casa de Igor Ribeiro. Trabalho autoral, independente, que reforça a insistência de um eterno e talentoso sonhador. GGG1/2

* * *

Serviço

Plêiade – Show de lançamento do novo disco

James Bar (R. Vicente Machado, 894), (41) 3222-1426. Amanhã às 21h. R$ 8.

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