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As histórias se passam na época da construção da estrada de ferro Madeira Mamoré | Michele Saraiva / Divulgação
As histórias se passam na época da construção da estrada de ferro Madeira Mamoré| Foto: Michele Saraiva / Divulgação

Estão guardadas no imaginário das mulheres de Porto Velho as histórias de uma época em que a cidade recebia multidões de homens, contratados para trabalhos de alta exigência física, como foi a construção da estrada de ferro Madeira Mamoré, no início do século passado. Daquele tempo, ficou uma herança de violência, mas também de solidão e espera por amores que partiram.

Essas narrativas femininas são recuperadas, de modo simples e poetizado, pelo grupo rondonense Imaginário no espetáculo Filhas da Mata, em cartaz apenas neste sábado (16), no teatro do Sesc da Esquina, pela programação do Palco Giratório.

A montagem retrata a presença feminina no período em que Porto Velho atraiu trabalhadores de 40 nacionalidades, mas apenas os caribenhos, contratados para a construção da estrada de ferro, conquistaram o direito de trazer suas mulheres. "Eram 258 mil homens e só essas mulheres negras. Dá para imaginar o clima de violência", relata o diretor, Chicão Santos. Além disso, conta ele, os donos de seringais buscavam mulheres nordestinas para negociá-las em troca de bolas de borracha: eram mercadoria de troca.

"Depois da crise da borracha, com a extinção da estrada de ferro, os homens que viviam nos seringais foram embora. Essas mulheres passaram tempos e tempos à beira do rio, à espera de amores que nunca vinham, numa solidão de mato e floresta", conta o diretor. Daí se fixaram mitos como o do boto, o homem que vem à noite, disfarçado de peixe.

Chicão explica que, por lá, se seguiram novos ciclos. Quando a cidade de Porto Velho começou a se formar, veio o do ouro, "mais devastador ainda, com remanescentes do garimpo e do processo de ocupação e exploração ". Agora são as usinas de madeira, que novamente atraem grande quantidade de homens, interferindo na vida das mulheres.

Familiar

Prestes a completar seis anos de formação, o Imaginário funciona em modelo familiar – como na tradição circense. Chicão, vindo do interior rondonense, onde fazia teatro desde 1978, o conduz ao lado da esposa, a atriz Zaine Diniz. Vez ou outra, convidam outros atores ou músicos, como Bira Lourenço, responsável por criar a ambientação sonora ao vivo. Ele tira sons de agdás, potes, bacias e pinicos, baseado em uma pesquisa com barro e água – o elemento condutor da monta­­gem."Na Amazônia tudo é agua, fazemos teatro de rua e de rio", diz Chicão, rindo.

A cada cidade por onde passam, um pequeno grupo de senhoras locais é convidado a participar da cena de abertura, compartilhando suas memórias.

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