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Balanço

Nas entranhas do mercado editorial

Gibicon 2 foi marcada pelas discussões sobre o futuro do mercado editorial e as reflexões acerca das plataformas digitais no modelo de negócio

O coreano Kim Jung Gi hipnotizou o público com seus incríveis desenhos ao vivo | Deni Soares/Divulgação
O coreano Kim Jung Gi hipnotizou o público com seus incríveis desenhos ao vivo (Foto: Deni Soares/Divulgação)
Estandes diversos fizeram a festa dos participantes mais consumistas |

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Estandes diversos fizeram a festa dos participantes mais consumistas

David LLoyd, criador de V de Vingança, teve de fazer sessão extra de autógrafos |

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David LLoyd, criador de V de Vingança, teve de fazer sessão extra de autógrafos

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Dois momentos foram reveladores em relação aos propósitos da Gibicon 2 – Convenção Internacional de Quadrinhos de Curitiba, que ocorreu de quinta-feira, dia 4, a domingo, dia 7, no Museu Municipal de Arte (MuMa). Na sexta-feira, em um horário cruel, por volta de meio-dia, no Teatro Antônio Carlos Kraide, o quadrinista e editor Rafael Coutinho disparava: "O Catarse é uma droga".

Primeira plataforma de financiamento coletivo do Brasil, o Catarse tem sido utilizado com frequência no meio dos quadrinhos e por um bom tempo foi encarado como um oásis depois de sete anos atravessando o deserto artístico. Sua funcionalidade tem sido gradualmente revista. "Fiz um livro pelo Catarse e hoje tenho uma dívida moral com 600 pessoas. Este modelo, o crowdfunding, exaure, faz com que você tenha de monetizar os amigos, transformá-los em público-alvo. Fiquei bem deprimido. Foi selvagem, patético, ridículo", lamentava Coutinho.

Por (um quase) outro lado, o quadrinista curitibano André Caliman, que financiou seu livro Revolta! pelo Catarse, lançado durante a Gibicon 2, afirmou que há, sim, problemas advindos do novo modelo, mas que o mercado nunca foi favorável às HQs, principalmente independentes. "Nós sempre tivemos de ser um pouco mascates do próprio negócio, fazer a parte publicitária da coisa. O Catarse apenas nos obriga a ter uma organização. Mas reconheço que interfere um bom tanto na produtividade", afirma Caliman.

Pouco tempo depois, à noite, um Cine Guarani lotado de fãs de David Lloyd, criador de V de Vingança e da emblemática máscara de Guy Fawkes, recebeu o inglês para uma palestra sobre sua carreira. Entretanto, se o público esperava uma conversa mais direcionada ao caráter crítico de sua obra consagrada e saber o que o autor pensava dos desdobramentos que seu personagem teve nas manifestações de junho de 2013, pode ter se decepcionado. Lloyd defendeu o projeto Ace Weekly, voltado à publicação virtual de histórias em quadrinhos, e deu declarações severas contra a indústria das HQs, inclusive, contra os próprios consumidores. "O problema são vocês, que amam papel."

O inglês, a bordo de seu sotaque indefectível, quase implorou para que os leitores tradicionais se permitissem a leitura em uma tela de plasma para desapegar de vez da experiência tátil. "O futuro é digital. O que importa é o criador, o artista". Talvez insistente nas definições futurísticas, completou: "Se a Marvel e a DC Comics migrassem para o formato digital, as pessoas não deixariam de ler, mas isso não irá acontecer por conta dos contratos de impressão a longo prazo".

Mercado internacional

A mesa Breaking into Comics – Como Entrar nos Quadrinhos nos Dias de Hoje, de sábado, trouxe os medalhões do mercado brasileiro em atividade na indústria internacional. Carlos Magno, que já desenhou Batman e Superman; Will Conrad, de Conan e Homem-Aranha; Ibraim Roberson, de X-Men; e Daniel HDR, do fenômeno Digimon, trouxeram suas experiências e abordaram o gigantismo da indústria norte-americana.

"A questão é: você consegue desenhar razoavelmente bem tendo que entregar duas páginas por dia? Não adianta ter um portfólio lindo e não ser capaz de cumprir os prazos", atirou Will Conrad. "Tem muito quadrinista por aí que sequer tem técnica pra desenhar um cavalo e diz que não tem espaço no mercado", completou.

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