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Quando um artista novo surge no horizonte pop, a crítica imediatamente trata de encontrar no seu trabalho referências, citações e apropriações. Afinal de contas, ser original hoje em dia é praticamente impossível. Diante dessa constatação, o disco de estréia da cantora canadense Nelly Furtado, Whoa Nelly! (2000) pegou muita gente do meio musical de supresa. Não é que a garota, então com apenas 20 anos, tinha conseguido o grande feito de lançar um CD diferente de quase tudo que tocava nas rádios à época?

O sucesso do álbum, que vendeu alguns milhões de cópias ao redor do mundo, rendeu a Nelly, filha de imigrantes portugueses, notoriedade quase instantânea e um Grammy de melhor gravação pop feminina, pelo hit "I’m Like a Bird", citado pelo escritor inglês Nick Hornby com uma de suas 31 canções favoritas. Nada mais natural, portanto, que a expectativa em relação ao segundo disco da cantora, Folklore, de 2003, fosse imensa. Só que, apesar da inegável qualidade do trabalho, suas canções não caíram no gosto popular, principalmente nos Estados Unidos, onde passou quase despercebido. Na Europa, a recepção foi melhor, mas Nelly, que nesse meio tempo teve um bebê e não dispôs de tanto tempo para promover o disco, foi forçada a tomar decisões importantes se queria manter-se em evidência.

O terceiro CD da cantora, Loose, que está chegando às lojas de todo o mundo, tinha a grande missão de recolocá-la no primeiro time do pop internacional. Para isso, Nelly teve de se afastar de suas raízes musicais, que buscavam um interessante casamento entre sonoridades urbanas, como o hip-hop e o r&b, e influências ibéricas, com referências diretas à musica de seus ancestrais açorianos.

Se em Folklore havia canções em português, como a contagiante "Força", tema oficial da Eurocopa de 2004, e até uma participação especial de Caetano Veloso, Loose é bem menos globalizado. Até porque tem como produtor o mago da black music Timbaland, responsável por hits de Gwen Stefani e Missy Elliot. O resultado dessa parceria é um disco escancaradamente pop – e bastante eficiente.

Hits

Menos rico em termos de diversidade sonora e originalidade do que Whoa Nelly! e Folklore, Loose deve cumprir sem problemas o papel de consolidar o nome de Nelly Furtado como uma das jovens superstars da música internacional. Tanto que a provocativa e infalível "Promiscuous", primeiro single do disco lançado no mercado americano, já está nos primeiros lugares da Billboard. Na Inglaterra, a faixa "Maneater", espetacular homenagem ao sucesso homônimo da dupla Daryl Hall e John Oates, entrou direto no topo do hit parade britânico.

Fica claro, no entanto, que Nelly optou por abandonar, pelo menos por ora, a idéia de deixar sua marca pessoal no cenário pop. Seu terceiro disco a aproxima – e muito – de figuras fortes e consagradas com Gwen Stefani e Madonna. Isso fica evidente nas faixas já citadas e, principalmente, em "Do It", que parece saída dos discos oitentistas da Material Girl, ou "Glow", muito semelhante aos hits extraídos de Love, Angel, Music, Baby, primeiro álbum-solo da vocalista do No Doubt.

Para não desapontar os fãs mais aficionados do viés latino do trabalho de Nelly, foram incluídas em Loose a bela "Te Busque", um romântico dueto com o colombiano Juanes, com quem a cantora já havia gravado o hit "Fotografia", e o reggeton (ritmo de origem porto-riquenha, enorme sucesso no mercado americano) "No Hay Igual". No todo do disco, as duas faixas, que poderiam ser corpos estranhos, acabam funcionando. GGG1/2

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